Depois de anunciar sua aposentadoria pelo Botafogo em 2019, o ex-jogador da Seleção Brasileira, Dudu Cearense, saiu dos campos rumo à Faria Lima. Cursando economia e com certificações para atuar como assessor de investimentos, Dudu diz que encontrou no mercado financeiro a adrenalina dos jogos de futebol.
Com sua própria gestora, que conta hoje com R$ 25 milhões sob gestão, a missão encontrada pelo ex-jogador é fazer o planejamento financeiro de atletas na ativa, uma vez que muitos ao se aposentarem ainda jovens, acabam por não construir uma renda vitalícia. Mas o ex-jogador aponta que faz a gestão para além dos profissionais esportivos.
Em tempos de manchetes sobre atletas que perdem milhões ao cair em sistemas de pirâmides, especialmente envolvendo criptomoedas, Dudu aponta em entrevista ao InvestNews que esses casos foram um divisor de águas.
“Alguns jogadores me procuram, outros não. Eu costumo dizer pro atleta que a riqueza dele é o trabalho, mas que o mercado financeiro é para proteger capital e alavancar ao longo da vida para ter renda passiva futura”.
O gestor alerta para o fato de que quando um atleta chega aos 30 anos, ele não percebe que o rendimento em campo começa a “descer a ladeira, o que é natural”, aponta. “Tem quem pense que pode chegar aos 35 em altíssimo nível – e sei que alguns podem – mas quando um jogador não está nesse movimento, a sua renda começa a cair”.
Segundo Cearense, há jogadores que conseguem fazer bons contratos anuais, mas isso pode não ser sustentado ao longo dos anos, uma vez que é normal acontecerem rescisões com clubes onde o salário é alto. Há ainda chances de o atleta cair para uma série “B”ou “C”.
“Se ele construiu muito patrimônio nesse tempo, mas não tem liquidez, o que vai acontecer? Vai ter que começar a queimar esse patrimônio para pagar as contas e manter o padrão de vida. É aí que entra o meu trabalho”.
dudu cearense
Ainda assim, o analista aponta não dar conselhos para ninguém, mas sugestões. “Quando falo com um atleta costumo dizer que eu estou preocupado não com quanto ele ganha, mas em quanto consegue poupar.”
O ex-jogador fala no sentido de poder proporcionar ao atleta o mesmo salário para o resto da vida mesmo que este encerre a carreira na casa dos 30 anos.
Já para os que ainda têm uma estrada mais longa pela frente, a recomendação é a proteção de capital. “Muitos que moram fora ainda não conhecem a parte de investimentos internacionais. Mas se a pessoa fatura em dólar e investe em real, tem uma coisa muito errada aí”.
Utilizando jargões que vão desde spreads, valuations, downdrawn, volatilidade, taxa de juros futuros até teorias como a da “Pirâmide de Maslow”, Dudu aponta não rechear o discurso com palavras técnicas aos jogadores – “que não querem escutar isso” – mas indo direto ao ponto.
“Falo pro cara que ganha R$ 20 mil hoje que ele precisa de R$ 4 milhões líquidos na conta para ter a mesma renda na aposentadoria”. Para esse cálculo o ex-jogador leva em consideração uma taxa de juros de 0,50% ao mês. O conservadorismo, segundo ele, é para manter os pés do cliente no chão.
Apaixonado pelo mercado financeiro mesmo antes de se aposentar, o ex-jogador da Seleção Brasileira apontou que seu start para se profissionalizar foi quando percebeu que já tinha construído um patrimônio, mas não tinha liquidez.
“Antes eu só investia em imóveis uma vez que as pessoas só enxergavam esse meio como forma de investimento. Mas apesar de construir um patrimônio, percebi que eu não tinha liquidez. Foi nesse momento que me deu um start: acho que eu vou estudar mercado financeiro”.
Foi em 2019 que, ao encerrar a carreira pelo Botafogo, o ex-jogador começou a estudar economia, bacharelado que termina ainda este ano. Ele também tirou duas certificações, que são a de assessor de investimentos e especialista de investimentos, pela Anbima. “Para mim, essas são grandes vitórias no pós carreira, o que me possibilita a trabalhar onde quiser no mercado financeiro”.
Depois de uma passagem pela LifeTime Asset Management, do BTG Pactual, onde geria uma carteira de quase R$ 100 milhões, Dudu montou a própria gestora, a Okto Investimentos, que conta com R$ 25 milhões sob gestão e cerca de 10 atletas assessorados (além de clientes fora do ramo). O ex-jogador define a empreitada como uma boutique de investimentos no segmento prime.
“O Dudu hoje especialista em investimentos jamais existiria sem o Dudu jogador de futebol. Se hoje eu me tornei um CEO da minha própria empresa, empreendendo, foi porque eu também fui um atleta da vida”, respondeu ao ser questionado sobre o balanço nas diferentes carreiras.
Já sobre qual das profissões ele sente maior pressão, a de atleta ganha em disparado.
“Eu costumo dizer que futebol e mercado financeiro não se conversam porque são mundos diferentes. O que mudou é que eu busco todos os dias a adrenalina que eu tive no futebol. E isso encontrei no mercado financeiro. Vou para uma reunião grande e fico na expectativa de fechar o negócio”
Mas sobre pressão, reitera:
“Eu não vou receber bombas no ônibus, na minha casa, não vou receber ameaças porque a carteira de investimentos está caindo. Não vai ter milhares de torcedores gritado: o CDB caiu, seu filho da mãe!”
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