Apesar de o número de consumidores de orgânicos vir crescendo, aumentar a demanda ainda é um desafio, em especial, pelo preço. Pelo menos 54% dos consumidores usuais destes alimentos gostariam de consumir mais. E entre quem não consome, apenas 13% dizem querer passar a consumir. É para estes dois grupos que a startup Viva Floresta quer ser uma vitrine de orgânicos do extrativismo sustentável.
O objetivo do negócio é virar uma espécie de “Amazon da floresta”, já que reúne em seu marketplace desde marcas do próprio grupo, como a Viva Regenera, até pequenos produtores das partes mais remotas do país.
A questão é que, entre os consumidores de orgânicos, apenas 6% já ouviram falar sobre agricultura regenerativa – justamente o cerne do negócio – , e ainda há desconhecimento de uma gama de produtos que entram nessa seara além de frutas, verduras e legumes.
Em vista disso, o InvestNews foi conhecer de perto como se dá o extrativismo sustentável e os sistemas agroflorestais em uma fazenda fornecedora do grupo Regenera Ventures, que administra, investe, acelera e conduz projetos e negócios em estágio inicial.
Consumo cresce, apesar do preço
De acordo com a última pesquisa nacional da Organis, realizada pela Brain Inteligência Estratégica, o avanço do consumo de orgânicos foi de 16% quando comparado a 2021. Porém, o consumidor ainda percebe este tipo de produto como caro. 83% dos entrevistados avaliam que o preço é maior quando comparado a produtos não orgânicos.
Ainda assim, a maioria considera que existem boas razões para os preços mais elevados e que seria até viável pagar em torno de 20% a mais em relação a produtos convencionais.
Por este, entre outros motivos, é que o tamanho do mercado de orgânicos global deve atingir o patamar de US$ 497,3 bilhões até 2030 – crescimento de 178,75% em relação a 2021. Os números previstos para 2022 estão em US$ 199,2 bilhões, segundo o Sebrae.
Já no Brasil, a previsão de 2021 era de alcançar US$ 950 milhões, chegando a US$ 1,77 bilhão em 2026, um crescimento de 86,3%.
Agricultura regenerativa no carrinho
De olho em uma mudança no comportamento do consumidor, com uma parcela interessada em ler rótulos e entender a composição de um produto, surgiu a Viva Regenera – marca de produtos feitos com ingredientes agroflorestais ou de extrativismo sustentável. A primeira linha foi lançada na pandemia, um “blend” de raízes, cúrcuma e gengibre para aumentar a imunidade, segundo a sócia-fundadora da empresa, Romanna Remor.
“Criamos a marca porque percebemos que mesmo esse consumidor mais atento não tinha elevado nível de consciência para o impacto dos ingredientes na saúde do planeta e em toda a cadeia produtiva”.
Romanna Remor, sócia fundadora da viva floresta
E por haver uma incoerência na narrativa de produtos considerados bons para a saúde, mas que ignoram o fato de serem frutos de trabalho escravo infantil ou de gerar graves impactos ao meio ambiente, é que a marca foi pensada.
Para o negócio, foi decidido que quase a totalidade dos insumos seria proveniente de unidades produtivas que recuperassem o solo, o chamado – e não tão conhecido – sistema agroflorestal (ou agricultura regenerativa). Entre os consumidores de alimentos orgânicos, apenas 6% ouviu falar, segundo estudo da Organis.
Esse sistema integrado de vários tipos de árvores copia a natureza, não usa agrotóxicos, venenos ou fertilizantes, tem a capacidade de recuperar ecossistemas e de frear mudanças climáticas. Ernest Gotsch é o pai do método que cultiva diferentes espécies de plantas sob um mesmo metro quadrado.
Por meio dele, o alface é plantado ao lado da mandioca, da beterraba, da cúrcuma, do jiló, do abacateiro, da castanheira e até do mamoeiro. É por conta dessa diversidade que o solo fica mais rico em nutrientes, tornando as propriedades do que se colhe mais fortes.
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Sem maquinários e utilizando mão de obra humana, até a poda é diferenciada, gerando um cuidado respeitoso em toda a cadeia, observa Romana.
Passados quatro anos, o portfólio da primeira marca do grupo foi ampliado, e passou a contar com ingredientes provenientes de extrativismo sustentável feito por povos originários, como os do Xingu.
“Alguns deles [povos originários] estavam organizados, ainda que pequenos, e como extrativistas sustentáveis tinham ingredientes super nutritivos e desconhecidos na mesa do brasileiro”.
Romanna Remor, sócia fundadora da viva floresta.
Após a marca ganhar tração e aumentar a oferta de produtos, surgiu a ideia do marketplace voltado a produtos sustentáveis.
De farinha de mandioca sem glúten a óleo de babaçu, a empresa viu oportunidade de reunir esses produtores na plataforma da Viva Floresta. O desafio desde então vem sendo chamar a atenção do consumidor para que não fosse observado o preço, mas o valor do produto que remunera toda uma cadeia.
Um pacote de 60 gramas de cúrcuma ativada da floresta com gengibre (mix na versão em pó) é vendido no site por R$ 45. Analisando outras marcas que não utilizam do sistema de cultivo da Viva Regenera – que é minimamente processado, segundo a co-fundadora –, os preços variam de R$ 15,90 a R$ 89,90.
No entanto, os produtos da plataforma vão muito além de ervas e especiarias. Incluem desde chocolates, óleos, azeites, snacks, shots matinais, sérum corporal até óleos essenciais.
Em busca de investidores
Após um ano de existência, a Viva Floresta reúne hoje em sua base 21 marcas e tem parcerias com unidades produtivas em Cravinhos, na divisa com Ribeirão Preto, no interior paulista; Osasco, na Grande SP; na Grande Florianópolis e na Bahia.
Agora, está no radar da plataforma fazer seu “debut” junto a investidores que compartilhem do mesmo propósito.
“No segundo semestre, iniciamos alguns ‘namoros’ [com investidores], mas ainda não fomos ao mercado. Queremos ter números, validação do e-commerce, aperfeiçoamento da própria plataforma e das ferramentas. Mas estamos em busca de investimentos para escalar”.
Romanna Remor, sócia fundadora da viva floresta.
Entre os pontos destacados para o escalonamento dos negócios está aumentar a curadoria de novos insumos, apoiar pequenos produtores e cativar consumidores com comunicação estratégica.
Mas segundo Romanna, com mais fornecedores, será preciso ter uma estrutura maior para acompanhar todos eles, sendo preciso trabalhar mais com questões que envolvem desde rotulagem – que pode não ser apropriada – assim como assegurar a transparência de toda a cadeia por trás daquele alimento.
Ainda assim, um dos maiores desafios da empresa segue sendo educar o consumidor sobre a importância da procedência do produto em si, o que por sua vez, reflete em maior valor agregado, destaca a fundadora.
Com pouco mais de um mês para findar 2023, a plataforma espera chegar a R$ 2 milhões de faturamento, devendo dobrar a cifra em 2024. Também prevê faturamento similar para a marca Viva Regenera, uma vez que o alvo é avançar a exposição em redes de varejo, como supermercados, além do chamado “canal verde”, as lojas de produtos naturais.
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