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Negócios

Empreendedorismo deve ser diferente em cada região do país, diz Alcione Albanesi

Empreendedora desde os 17 anos está à frente de projeto que atende mais de 150 mil pessoas no sertão nordestino.

O empreendedorismo no Brasil é distinto entre regiões e, por isso, precisa ser visto de forma diferente em cada região do país. Essa é a avaliação de Alcione Albanesi, presidente do projeto social Amigos do Bem, que atende mais de 150 mil pessoas no sertão de Alagoas, Pernambuco e Ceará. A ONG desenvolve projetos educacionais, de geração de trabalho e renda, água, saúde e moradia.

Em entrevista ao InvestNews durante o evento CEO Circle: A Transformação de Empresas em Ecossistemas, promovido pelo Experience Club na capital paulista nesta terça-feira (5), a empresária afirmou que o cenário de empreendedorismo no Brasil está diferente, em especial quando olhado para regiões onde as possibilidades e os recursos são menores. Alcione começou a empreender aos 17 anos no mercado da moda, depois tornou-se líder no segmento de lâmpadas no Brasil e hoje está à frente do projeto social.

Alcione Albanesi, presidente do projeto Amigos do Bem
Alcione Albanesi, presidente do projeto Amigos do Bem. Crédito: Divulgação

No ano passado, o Brasil registou um recorde de abertura de novos negócios. Segundo levantamento feito pelo Sebrae, com base em dados da Receita Federal, foram mais de 3,9 milhões de empreendedores que se formalizaram, um aumento de 19,8% em relação a 2020 e de 53,9% ante 2018.

Albanesi também falou sobre a fome no país, que, atualmente, conta com mais de 33 milhões de pessoas que não têm comida garantida todo dia. Segundo a presidente do projeto Amigos do Bem,  o Brasil tem toda a condição de quebrar o ciclo de miséria, de fome e desigualdade e que, para isso, é preciso ação e participação da sociedade civil.

Confira os principais trechos da entrevista de Alcione Albanesi para o InvestNews:

InvestNews – O projeto Amigos do Bem atua em uma região onde pessoas vivem na miséria, sem oportunidades. Atualmente, mais de 33 milhões de brasileiros passam fome. Com toda experiência e conhecimento que o projeto te proporciona, na sua avaliação, é possível dizer que a fome no Brasil tem solução? Qual é o caminho?

Alcione Albanesi – Fome é uma indignação, é inconcebível que, em um país como o nosso, que eu considero realmente rico, a gente ver tantas pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Isso é inaceitável, é uma indignação. E a indignação tem que vir junto com a ação.

Quem tem fome não é livre. Nosso país tem toda a condição de quebrar esse ciclo de miséria, de fome, de desigualdade. Essa desigualdade gritante não é sustentável para nosso país e não pode ser mais aceitável nos dias de hoje.

Alcione Albanesi, presidente do projeto Amigos do Bem
Alcione Albanesi, da Amigos do Bem/ Divulgação

InvestNews Você que acompanha bem de perto essa população atendida pelo Amigos do Bem, o que falta do lado governamental para que mais pessoas que estejam na mesma situação possam ser assistidas?

Alcione Albanesi – Nosso projeto mostra que é possível transformar a realidade de milhares de pessoas. Temos mais de 150 mil pessoas que não passam fome através do Amigos do Bem.

Eu vejo que a transformação está nas mãos da sociedade civil. Nós temos que agir como sociedade e sermos protagonistas desta mudança. E o governo evoluindo em seus projetos, eles vão trabalhar em escala, mas a sociedade civil não pode ficar esperando somente a atuação do governo. Nós devemos agir, pois eu acho que, no nosso país, já se passaram muitos anos que ainda essa desigualdade gritante permanece e nós não temos que aceitar essa posição.

InvestNews O Brasil bateu recorde de abertura de novos negócios em 2021. Ao mesmo tempo em que a pandemia forçou muitas pessoas a irem para o empreendedorismo por necessidade, também estimulou a busca por oportunidades. Você que começou a empreender muito cedo, como avalia o cenário atual do empreendedorismo no Brasil? É um novo momento?

Alcione Albanesi – Sim. Eu acredito que o empreendedorismo no Brasil tem que ser olhado de forma diferente nas grandes capitais, nos centros urbanos e na área rural.

Nós estamos atuando no desenvolvimento do empreendedorismo nas áreas rurais. Então, é um início, pois pais, avós, bisavós, só conheciam a roça, plantar feijão e milho. Quase todos analfabetos. Hoje, estamos ensinando jovens que eles podem aprender uma profissão e que eles podem empreender dentro daquilo que aprenderam.

Nós atendemos no projeto mais de 300 povoados no sertão nordestino. Estou levando empreendedorismo, estamos desenvolvendo jovens para que se tornem empreendedores, mas é muito difícil o empreendedorismo dos grandes centros urbanos para o sertão nordestino, onde as possibilidades e os recursos são infinitamente menores.

No sertão nordestino é muito diferente do empreendedorismo de São Paulo, pois são locais extremamente pobres, não têm renda. O empreendedorismo lá é diferente, eles partem do que nunca tiveram, para o que conseguiram aprender e, hoje, eles estão conseguindo realizar para ter uma renda. Eles estão iniciando, é o início de uma mudança.

InvestNews – Você empreendeu na moda, quando teve sua própria confecção. Depois no segmento de lâmpadas,  fundando a marca pioneira em lâmpadas de LED no Brasil. Em seguida, foi para o empreendedorismo social com o projeto Amigos do Bem, fazendo gestão de pessoas, logística e administração financeira. Em meio a todas essas experiências, o que o empreendedorismo te ensinou e tem mostrado?

Alcione Albanesi – Toda minha experiência com empreendedorismo, desde a época da moda até a venda de lâmpadas, me trouxe um conhecimento amplo, empresarial para este momento. E essa minha visão empreendedora hoje colabora muito para que eu possa levar caminhos para os participantes do projeto e ajudá-los para que comecem uma história como empreendedores.

Como no sertão nordestino quase não existe oportunidade, as que surgem, eles se dedicam e agradecem. Já temos colhidos bons frutos de todos aqueles que nós capacitamos. Os jovens já iniciam, conseguem uma renda.

InvestNews – O ESG (sigla que, traduzida para o português, significa “Ambiental, Social e Governança”)  vem ganhando os holofotes, com empresas e consumidores mais preocupados e exigentes com essas causas. A Amigos do Bem já vem atuando no segmento social há bastante tempo. O interesse social por parte das empresas prospectadas para o projeto tem aumentado ou ainda há resistência? Qual a barreira apontada por companhias?

Alcione Albanesi – Nosso projeto tem muita credibilidade por tudo que já realizamos.  Através dele, as portas se abrem e estamos sempre precisando dessa colaboração, da doação, pois não contamos com recursos do governo. Nossa dificuldade é a de doação, estamos sempre precisando de mais para transformarmos mais vidas. Nosso projeto cresceu muito e precisamos de mais doações. 

A gente conecta, as empresas conhecem nosso projeto, mas não têm a verba para destinar às doações. Essa é a nossa dificuldade. Não temos dificuldade para que a empresa se encante com o nosso projeto, temos dificuldade para que a empresa doe, por causa da limitação de verba que muitas delas têm.

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