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Exclusivo: Coteminas vai criar fundo de investimento para pagar credores, dizem fontes

Ideia é transferir três galpões logísticos para o fundo, ativos considerados “a joia da coroa” da companhia

A Coteminas – empresa do setor têxtil, dona das marcas Santista, Artex, M.Martan e Casas Moysés – já definiu a primeira versão do plano de recuperação judicial (RJ) que será apresentado nesta quinta-feira (26) aos credores. Como antecipou o InvestNews, a companhia pretende colocar à venda ativos bastante cobiçados pelo mercado – três galpões logísticos localizados no Nordeste. Mas, em vez de aguardar pelos compradores e quitar as dívidas, a proposta é criar um fundo de investimentos e transferir os imóveis para esse veículo. E então entregar as cotas dos fundos aos credores.

A solução – considerada bastante inovadora, segundo fontes próximas às negociações – pode ser positiva para os credores, que passariam a ser “os donos” dos galpões enquanto eles não são vendidos. Isso traria mais segurança e credibilidade ao plano, afirmam os interlocutores. Para a companhia, a solução também tem vantagens: transferir os imóveis para o fundo significaria antecipar o pagamento de boa parte das dívidas de cerca de R$ 1,8 bilhão. Um alívio, portanto, para o balanço da empresa.

LEIA MAIS: A carta na manga da Coteminas na recuperação judicial: galpões para data center

A Coteminas teve seu pedido de RJ aprovado em julho deste ano. A partir de então, a empresa tem 60 dias para apresentar um plano, de acordo com a lei.

Segundo fontes, os representantes da Coteminas na recuperação judicial ainda estão estudando qual seria a melhor estrutura para o fundo. A princípio, a ideia é que esse veículo tenha diferentes classes de cotistas, dependendo do tipo de credor. Essa é uma característica típica de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

Aos credores que têm a receber dívidas com garantias caberiam cotas sênior, que têm prioridade no recebimento e, portanto, são mais protegidas – mas têm um retorno também mais baixo. Para os credores quirografários, que são os detentores de títulos que não oferecem garantias reais, seriam entregues cotas mezanino, intermediárias em risco e em retorno. Além dessas duas classes, a própria Coteminas ficaria com uma fatia de cotas subordinadas. Com essa estrutura, caso os imóveis sejam vendidos a um valor superior à dívida junto aos credores, a empresa ficaria com a diferença.

A dívida trabalhista e também a dívida junto a pequenos fornecedores não serão incluídas nesse fundo: serão negociadas separadamente.

Os galpões

Os galpões da Coteminas, localizados na região Nordeste, são uma espécie de joia da coroa entre os ativos da empresa. A Coteminas já havia colocado um desses imóveis à venda no fim de 2022. É um galpão localizado em São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, avaliado em R$ 429,7 milhões. Alguns interessados chegaram a aparecer, mas o negócio não foi fechado. Outros dois imóveis semelhantes estão chamando a atenção das empresas do setor: um em Macaíba, também no Rio Grande do Norte, e outro em João Pessoa, na Paraíba.

Os três ativos têm características interessantes para as empresas de data centers: ficam perto de cabos submarinos de internet (no caso, o Brazilian Festoon), de usinas termelétricas ou de subestações de energia. Essa combinação garante que o data center tenha o menor delay (atraso) possível e um backup (contingência) robusto de energia.

Mais importante: permite que o data center não dependa de uma distribuidora: a energia vem diretamente da geradora, o que significaria uma economia de até 25%, segundo estimativas de empresas que atuam nesse setor.

Negociação em curso

Na lista dos credores da Coteminas há 12 bancos, entre eles BradescoBanco do BrasilSantanderFibraDaycovalPine e Sofisa, além de fornecedores.

Já há conversas prévias com alguns dos credores envolvidos, mas a negociação sobre o pagamento das dívidas da companhia começa, formalmente, nesta quinta-feira (26). Para que o plano seja aprovado, é preciso contar com o apoio da maioria dos credores. A expectativa é de que a negociação leve um bom tempo.

Na recuperação judicial, primeiro, é preciso esperar até que a lista de credores esteja finalizada, ou seja, que todos os que têm recursos a receber da empresa se manifestem. Depois disso, será preciso negociar valores e condições de pagamento até que o plano seja, enfim, submetido à votação em assembleia geral dos credores.

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Presidente da Fiesp

A Coteminas foi fundada em 1967 pelo ex-vice-presidente da República, José de Alencar. Seu filho, Josué Gomes da Silva, é quem comanda atualmente a empresa. Josué é também presidente de Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Nas poucas vezes em que comentou a situação da Coteminas, Josué atribuiu os problemas à alta taxa de juros e à competição com produtos chineses.

Em entrevista concedida ao Broadcast nesta quarta (25), Josué repetiu críticas ao nível dos juros. “O que eu digo é que, do ponto de vista macro, não tem cabimento os juros praticados no Brasil. É impossível que uma sociedade se desenvolva com esse tipo de taxa básica na economia.” Na entrevista, ele não faz menção à Coteminas ou à renegociação da dívida.

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