Uma dupla de gestores da unidade de investimentos do BNP Paribas superou 97% de seus pares depois de enfrentar a pior crise já vista no segmento ESG, que segue padrões ambientais, sociais e de governança. E o fundo foi posicionado para uma recuperação perfeita.
Ulrik Fugmann, codiretor do grupo de estratégias ambientais da gestora BNP Paribas Asset Management, em Londres, disse que as carteiras voltadas para a transição energética agora estão “entrando em um cenário de cachinhos dourados”, com condições ideais para retornos que “estabeleçam recordes consecutivos nos próximos anos”.
“O total de mercados endereçáveis para essas tecnologias está entre os que mais crescem no mundo”, destacou em entrevista.
O fundo Environmental Absolute Return Thematic (EARTH, código BNEARIU LX), que Fugmann administra em parceria com Edward Lees, mostra ganho superior a 12% este ano, muito acima da média de 2% entre os concorrentes, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O fundo de ações tem posições compradas em energias renováveis e vendidas em combustíveis fósseis. Fugmann e Lees administram cerca de US$ 3 bilhões em investimentos em soluções ambientais que incluem estratégias “long-short” (comprada-vendida), “long only” (só posições compradas) e de coinvestimento.
Os dois investidores, que se conheceram quando trabalhavam no Goldman Sachs há mais de duas décadas, fazem parte de um número crescente de gestores de fundos que se posicionam para um “boom” em ESG que, segundo eles, será impulsionado por uma nova era de políticas verdes. A Lei de Redução da Inflação do presidente dos EUA, Joe Biden, tornou mais lucrativo do que nunca investir em tecnologias limpas, e iniciativas na Europa combinadas com o pacote americano devem inaugurar uma era global de incentivos ESG.
Investidores que chegarem cedo podem se beneficiar dos preços baixos, de acordo com Fugmann. A crise de energia do ano passado elevou a demanda por combustíveis fósseis, o que deixou os renováveis subvalorizados, cujos preços caíram para 27 vezes o lucro de ações de empresas no segmento de crescimento, quase metade do pico do setor no ano anterior.
O EARTH registrou queda de quase 25% em 2022, mas, desde seu lançamento em julho de 2020, o fundo entregou retorno de 5,2%, em comparação com a queda de 3,4% do índice Winderhill Clean Energy.
Os gestores de fundos do BNP apostaram no setor de energia solar, especialmente residencial, bem como no hidrogênio verde. As principais posições do fundo incluem Sunnova Energy International, Plug Power, Sunrun, Generac e Fluence Energy.
Hidrogênio verde
Fugmann vê enorme potencial no hidrogênio verde em particular, com base em uma estimativa de que serão necessários cerca de US$ 150 bilhões em investimentos anuais para aumentar a oferta dos atuais 0,8 megaton para os 614 megatons necessários até 2050.
“O hidrogênio é a única maneira de descarbonizar áreas que dependem de moléculas onde os elétrons descarbonizados não são possíveis, principalmente em setores difíceis de mitigar, como aço, transporte, amônia, companhias aéreas e navegação”, disse.
E, embora o hidrogênio verde seja “de longe o menor investimento em termos absolutos”, também é “de longe a área de gastos que mais cresce”, disse Fugmann.
O fundo EARTH foi registrado sob a principal designação ESG da União Europeia, conhecida como Artigo 9, mas foi reclassificado na categoria menos rigorosa, o Artigo 8, em vigor desde janeiro. No último trimestre, gestores de ativos rebaixaram 175 bilhões de euros (US$ 187 bilhões) em fundos do Artigo 9, seguindo orientações regulatórias mais rigorosas da UE. A indústria de fundos ainda espera por mais esclarecimentos sobre uma série de questões-chave que ainda podem levar a mais reclassificações.
Apesar do rebaixamento de fundos ESG em todo o setor no ano passado, o BNP conseguiu manter a designação do Artigo 9 para ativos avaliados em US$ 20 bilhões. Como resultado, seu braço de gestão de fundos é agora o maior fornecedor mundial desses produtos depois do Banque Pictet & Cie.
Lees disse que o BNP pretende classificar novamente o EARTH sob sua designação original do Artigo 9, “depois que o regulador esclarecer sua visão sobre derivativos, desde que sejam compatíveis com nosso fundo”.
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