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Negócios

Gigante das máquinas agrícolas vai gastar US$ 200 milhões para cortar despesas. A culpa é dos grãos

AGCO pretende reduzir seus custos em US$ 125 milhões por ano, num momento de acomodação do agronegócio global

Os layoffs chegaram ao agro americano, em um sinal de que os juros altos por lá também pressionam o setor, juntamente com o fim do ciclo positivo para as commodities agrícolas. Uma das empresas a puxar a fila é a gigante das máquinas agrícolas AGCO Corporation, dona das marcas Massey Ferguson e Valtra.

A AGCO anunciou nesta terça-feira (25) um plano de reestruturação “em resposta ao enfraquecimento da demanda na indústria agrícola”. A empresa planeja reduzir em até 6% sua força de trabalho global nos próximos meses, com um custo de cerca de US$ 200 milhões em rescisões e indenizações. A expectativa é de economia anual de até US$ 125 milhões. Não foram divulgadas as localidades nem as unidades que passarão pelo corte.

“A fase inicial do programa está focada na redução de custos estruturais, na racionalização da força de trabalho e no aumento da eficiência global relacionada à mudança do modelo operacional”, justificou a companhia, em fato relevante publicado nos Estados Unidos.

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O movimento não é estranho do já observado aqui no Brasil. Em março, a própria AGCO e a John Deere chegaram a paralisar fábricas no país em função da queda na demanda. Para se ter uma ideia, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera uma retração de 11% nas vendas de máquinas agrícolas neste ano após já terem caído 13,2% em 2023.

Márcio Leite, presidente da Anfavea, declarou em fevereiro que os juros praticados no país inviabilizam a tomada de financiamentos para a troca do parque de máquinas. Outro exemplo pode ser visto pela crise das revendas de insumos agrícolas, como a AgroGalaxy e a Lavoro, que expandiram rapidamente para uma demanda que começou a retrair.

A fase “menos pujante” do agronegócio mundial pode ser explicada, pelo menos em sua maior parcela, pelo momento dos grãos – produtos que são o motor da atividade.

Colheita de soja em Mato Grosso

Em uma combinação de gargalos logísticos da pandemia, quebra de safra nos EUA e a deflagração da Guerra da Ucrânia, em 2022, os preços de referência de soja, milho e trigo no mercado mundial experimentaram cotações recordes, em uma euforia que chegou a ser comparada ao “boom das commodities” visto há mais de 20 anos. A mistura engordou os bolsos dos agricultores, que utilizaram parte do lucro para a modernização de suas lavouras.

Apenas como referência: a cotação da soja, principal commodity agrícola do mundo, chegou a ultrapassar os US$ 16 por bushel (27,2 kg), um recorde histórico. Só que o retorno às médias foi inevitável e hoje a oleaginosa opera a um valor de pouco mais de US$ 11 por bushel.

Esse movimento somado ao custo de capital mais alto aqui e lá nos nos últimos anos fez com que o agricultor pisasse no freio.

Nos EUA, depois de registrar US$ 196,4 bilhões em receita líquida em 2022 (o pico recente) a expectativa para 2024 é de que o agronegócio americano tenha um faturamento de US$ 116,1 bilhões, representando a segunda temporada seguida de queda, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Por aqui, o PIB do agro caiu 3% na comparação entre o primeiro trimestre de 2023 e o de 1T24. 

A baixa nos grãos vem sustentando uma desconfiança do mercado nos últimos meses com relação à AGCO, com casas de análise indicando um cenário “underperform” para as ações da companhia. E o anúncio dos cortes de gastos não ajudou. Após a divulgação, os papéis caíam 3,5% na bolsa de NY.

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