O investidor Nelson Tanure — que fez fortuna apostando em empresas em dificuldades — vem deixando os chamados bondholders da gigante petroquímica Braskem apreensivos.

Os títulos em dólar da empresa com vencimento em 2030 caem cerca de 13 centavos de dólar desde 23 de maio, quando a Novonor anunciou o início das negociações exclusivas com Tanure para vendas suas ações na Braskem. Por volta das 11:00 em São Paulo, os bonds eram negociados a 71,70 centavos de dólar. Em média, os chamados bonds renderam aos investidores uma perda de 13% nesse período, em comparação com um ganho de 1.1% para empresas emergentes.

Embora as ações tenham se valorizado com a notícia, os detentores de títulos em dólar estão preocupados com a possibilidade de Tanure pressionar para reestruturar a dívida pendente, que atualmente é de cerca de US$ 9,1 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg. Afinal, alguns dos investimentos mais conhecidos de Tanure — da Oi à Light — foram em empresas em dificuldades financeiras. E as negociações ocorrem em um momento em que o setor petroquímico enfrenta anos de demanda fraca e excesso de oferta.

“É sobre a reputação de Tanure: ele é conhecido como um cara de ‘distress’, astuto e inteligente, e isso pode não ser o melhor resultado para os detentores de títulos”, disse Arturo Galindo, analista da BCP Securities. “Ele simplesmente não é um ‘bondholder guy’ por causa de sua reputação.”

O prêmio extra exigido por investidores para manter os títulos da Braskem com vencimento em 2030, em relação aos Treasuries dos EUA de prazo semelhante, praticamente dobrou no último mês, alcançando mais de 800 pontos-base, segundo dados da Trace. O nível se aproxima da marca dos 1.000 pontos-base, considerada indicativa de estresse no mercado.

Rebaixamentos

A Braskem reportou uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 7,9 vezes ao final do primeiro trimestre de 2025. A concorrente mexicana Alpek relatou uma taxa de alavancagem de 3,1 vezes, de acordo com documentos das empresas.

A Fitch Ratings e a S&P Global Ratings rebaixaram a nota de crédito da Braskem de BB+ para BB no mês passado, citando condições desafiadoras do setor, poucos dias após a divulgação do interesse de Tanure na empresa. A Fitch afirmou não ter levado em consideração o impacto de uma potencial aquisição.

“A preocupação aqui é que a empresa está demorando mais para recuperar níveis adequados de lucratividade e geração de caixa para lidar com o montante de dívida que ela tem”, disse Luisa Vilhena, analista da S&P, em entrevista esta semana.

A empresa brasileira também enfrentou consequências de um desastre ambiental no estado de Alagoas, que custou seu status de grau de investimento em 2023. Uma mina de sal operada pela Braskem desabou, engolindo parte da cidade.

Caixa

Ainda assim, a empresa não corre perigo iminente. Não possui títulos em dólar com vencimento até 2028 e possui caixa suficiente para cobrir os pagamentos da dívida pelos próximos 33 meses, sem considerar sua linha de crédito rotativo de US$ 1 bilhão, de acordo com os documentos.

A empresa não está atualmente envolvida em nenhuma negociação interna sobre uma reestruturação de dívida, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. A Braskem considerou recorrer aos mercados globais para refinanciar parte de sua dívida no início deste ano, mas recuou à medida que o cenário externo se deteriorou com as incertezas em torno da política comercial dos EUA, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada ao discutir detalhes privados.

Tanure também não está pressionando abertamente por uma reestruturação. Sua tese de investimento para a Braskem concentra-se na expansão das operações no Rio de Janeiro, alavancando gás natural proveniente das reservas offshore do pré-sal brasileiro, informou a Bloomberg, citando uma pessoa familiarizada com o assunto.

A Petrobras — que detém 47% das ações ordinárias da Braskem e menos de 22% de suas ações preferenciais — desempenhará um papel fundamental em qualquer transação. A CEO Magda Chambriard sinalizou abertura à proposta de Tanure, afirmando que a oferta está caminhando “na direção certa”.

O perigo para os bondholders seria se os bancos vendessem ações da Novonor na Braskem com um desconto acentuado, disse Roger Horn, estrategista da Mariva Capital Markets. Tanure poderia então “tentar argumentar que os bondholders também deveriam ter uma redução”.

A Saga

A Novonor — anteriormente conhecida como Odebrecht — esteve no centro do notório escândalo de corrupção da Lava Jato no Brasil e tenta há anos vender sua participação na Braskem. Um possível acordo com a Adnoc, de Abu Dhabi, fracassou em maio de 2024, acabando com as esperanças que haviam ajudado a impulsionar uma alta na dívida da Braskem.

Tanure é um investidor veterano com reputação de fazer jogadas em empresas em distress. Em 2016, ele comprou uma participação na Oi quando a operadora de telecomunicações entrou em recuperação judicial. Há cerca de uma década, ele comprou ações da petrolífera PRIO e passou anos ajudando a recuperar a empresa. No final de 2024, ele adquiriu participações na varejista Dia e no GPA, em dificuldades.

Ele também ocupa uma posição significativa na concessionária de serviços públicos Light, sediada no Rio de Janeiro, que entrou com pedido de recuperação judicial em maio de 2023, e na Ambipar, empresa de gestão de resíduos.

A mídia local noticiou no domingo que Tanure contratou o banco de investimentos francês Rothschild & Co. para estruturar uma potencial oferta pela Braskem, aprofundando a derrocada dos títulos. O Rothschild foi contratado para renegociar dívidas da Odebrecht com os bancos e da Braskem com os detentores de títulos da dívida, informou o jornal O Globo, sem especificar como obteve a informação.

“O interesse do Sr. Tanure parece ter assustado muita gente, dada sua reputação de ator financeiro agressivo”, disse Eduardo Ordonez, gestor de carteira de dívida da BI Asset Management, que detém os títulos. “A incerteza deixa as pessoas nervosas.”