O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou um mal estar diplomático com a Europa e os Estados Unidos na última semana, ao afirmar que os países ocidentais contribuem para a guerra da Ucrânia e ao fazer diversas críticas ao uso do dólar como moeda de pagamento nas transações internacionais em viagem à China. O professor de relações internacionais e de economia no IBMEC-SP Alexandre Pires disse ao Investnews que Lula “dinamitou” pontes do Brasil com países do ocidente após suas declarações.
Logo após assumir seu terceiro mandato, Lula disse que colocaria o Brasil de volta ao cenário internacional e se voluntariou para intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. “O presidente Putin não toma iniciativa de paz. O Zelensky não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando contribuição para a continuidade dessa guerra”, disse Lula, na ocasião.
O presidente criticou os Estados Unidos e países europeus ocidentais que ajudam a Ucrânia fornecendo armas e dinheiro.
“Como ele teve um posicionamento equivocado, ele ‘dinamitou’ algumas pontes com a Europa e EUA, inclusive acusando esses países de fomentarem a guerra. Agora essa posição de grande mediador de conflitos ou de uma força multilateral está se perdendo pouco menos de 4 meses de governo. Esse equívoco pode custar caro”
Alexandre Pires, professor de economia e Relações Internacionais do Ibmec.
A declaração do petista sofreu retaliações internacionais. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Lula “está reproduzindo propaganda russa e chinesa” e que os comentários foram “simplesmente equivocados”.
Já Peter Stano, porta-voz principal para Assuntos Externos da União Europeia, destacou que “os Estados Unidos e a União Europeia trabalham juntos, como parceiros de uma ajuda internacional legítima de ajuda à defesa do território da Ucrânia.
Além disso, Lula firmar também disse que a responsabilidade pela invasão russa na Ucrânia é tanto de Moscou quanto de Kiev. “A decisão da guerra foi tomada por dois países”.
Para o economista, o Brasil quando diz isso fecha as portas como um possível facilitador e mediador, porque assume uma posição desequilibrada em relação a outros possíveis pares que estariam associados como países da Europa Ocidental e Estados Unidos.
“É um equívoco partir de um posicionamento tão direto com relação ao conflito, inclusive desrespeitando posições que o brasil sempre assumiu em relação à integridade territorial. Foi uma fala infeliz e prejudica, sem dúvida, a relação com a Europa a América porque aparenta um alinhamento quase que direto com a proposta da China e das falas da Rússia.”
Alexandre Pires
De acordo com o professor, o Brasil terá que ser mais enfático, através de gestos, para contornar a situação, já que os Estados Unidos e Europa são grandes parceiros comerciais do país.
Críticas ao uso do dólar
Para Pires, as críticas de Lula são consequência de uma incompreensão do dólar ser usado como moeda referencial. Um acordo comercial entre Brasil e China estabeleceu pagamentos em yuan (moeda chinesa).
Questionado se empresários brasileiros vão aceitar receber moeda chinesa em suas transações, ele disse que não é possível impor tal determinação.
“Muitos contratos vão continuar sendo feito em dólares. O governo brasileiro pode aceitar o pagamento. O Banco Central, que é o intermediário do sistema de pagamento, pode aceitar yuan, mas vai ter que converter em dólar e depois converter em real pára que o exportador brasileiro receba, ou seja, no fim podemos estar na mesma situação, só que com esse jogo de cena”, alertou.
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