No terceiro trimestre, a receita líquida avançou cerca de 1% na comparação anual e a receita bruta cresceu 1,4%, para R$ 11,3 bilhões. A margem bruta chegou a 31,5% e a margem Ebitda ficou em 7,9%. O lucro líquido ajustado foi de R$ 21 milhões, ou R$ 85 milhões considerando efeitos não recorrentes, como ganhos tributários. A ação chegou a subir 5% nas primeiras horas do pregão; perto das 13h tinha desacelerado para 1,8%.
“A empresa vem comunicando ao mercado que, nesse contexto de juros mais altos em 19 anos, o foco é rentabilidade, preservação de margens. Esse tem sido a nossa execução de maneira extremamente disciplinada”, disse o CEO, Frederico Trajano, em teleconferência com analistas e investidores após o resultado do terceiro trimestre.
Segundo ele, isso tem um custo na linha de cima, da receita, mas passa pela “decisão de só trabalhar em setores, categorias e vendas com margem de contribuição positiva.” Sempre que a conta não fecha, a ordem é simples: não vender.
Ao mesmo tempo, as lojas físicas seguem sustentando o ritmo. As vendas totais chegaram a R$ 15,1 bilhões, com alta de 5,2% nas mesmas lojas – em cima de uma base que já tinha crescido mais de 15% no mesmo trimestre do ano passado.
Do lado financeiro, o CFO Roberto Belíssimo hoje administra um balanço mais confortável do que na fase de expansão agressiva. A companhia gerou R$ 535 milhões em caixa operacional no trimestre e, em 12 meses, acumula cerca de R$ 2,5 bilhões de geração de caixa, com fluxo de caixa livre próximo de R$ 700 milhões – suficiente para cobrir investimentos, aportes na LuizaCred, leasing e juros.
O Magalu encerrou setembro com R$ 7,6 bilhões em caixa total e R$ 5,9 bilhões em dívida bruta. Em outubro, após o fechamento do trimestre, a empresa ainda pagou mais R$ 1 bilhão em dívidas, trazendo o endividamento bruto de volta ao patamar de R$ 4,8 bilhões, o mesmo nível de um ano atrás.
“Do ponto de vista de estrutura de capital, a gente mantém uma posição de liquidez bastante robusta, que tem sido bastante estável nos últimos trimestres”, afirmou Belíssimo. “Nossa dívida hoje está praticamente toda no longo prazo, distribuída ao longo dos próximos cinco anos, e nosso objetivo é seguir reduzindo dívidas e despesas financeiras.”
Marketplace fora da guerra de preço
O ponto mais sensível da operação hoje é o marketplace. É ali que a concorrência oferece frete grátis pesado em tíquetes médios baixos e, muitas vezes, vende com margem de contribuição negativa para ganhar volume. O Magalu decidiu ficar fora dessa guerra, mesmo que isso pese no crescimento do 3P.
“Não acreditamos nesse modelo e nunca acreditamos. Nosso resultado aqui no Brasil é financiado por nós mesmos, não tem matriz mandando cheque no final do ano. Todos os canais têm que operar com margem de contribuição positiva”, diz Fred.
O efeito aparece especialmente nas categorias com tíquete mais baixo e de cauda longa (grupo de produtos que vende pouco individualmente, mas gera um volume relevante de receita quando somado a muitos outros itens semelhantes). Nesses casos, a pressão de preço é maior. Para compensar, a companhia empurra o marketplace para modelos em que consegue frete grátis com conta positiva, usando a malha integrada de centros de distribuição e lojas.
O diretor executivo de marketplace, Ricardo Garrido, afirma que a lógica é mexer no mix de take rate, privilegiar canais com melhor conversão e critérios econômicos, para depender menos de marketing caro.
Hoje, 28% das unidades vendidas em 3P já saem pelo fulfillment do Magalu, 4 pontos percentuais acima de um ano atrás. No FULL, 80% das entregas têm frete grátis; segundo a gestão, ainda assim com margem positiva, graças ao compartilhamento de estrutura com o 1P e à retirada em loja.
Além disso, o Magalu lançou um canal de entrega no mesmo dia em raio de 10 quilômetros, conectando diretamente sellers e transportadoras. “A conversão do VAPT é 30% acima da do FULL, e o melhor é que é um deal entre seller e transportador, entrega no mesmo dia sem nos custar nada”, diz Garrido.
Ao redor da operação, cresce também o Magalu Ads, braço de retail media. A receita de anúncios avançou 69% no trimestre, com forte aumento na base de anunciantes. Lojas físicas entram nessa equação como inventário de mídia: cerca de 20 mil TVs em exposição e novos painéis de LED viram espaço publicitário para grandes marcas e sellers.
IA no WhatsApp e a nova loja da Paulista
Se, no curto prazo, a palavra de ordem é disciplina, o médio prazo está ancorado em dois símbolos: a Lu com inteligência artificial no WhatsApp e a Galeria Magalu, na Paulista.
No digital, o destaque é o WhatsApp da Lu, que o grupo apresenta como uma experiência completa de “AI Commerce”: o cliente conversa com a personagem por texto, áudio ou imagem, recebe recomendações, escolhe o produto, paga por Pix ou cartão e acompanha o pós-venda sem sair do aplicativo.
“O que a gente lançou não é beta, não é teste pequeno em AI. É uma plataforma multiagêntica, extremamente robusta, com arquitetura nova”, diz Fred. “A conversão está três vezes maior do que o app.”
A base de clientes habilitados no WhatsApp da Lu é de 15 milhões; a nova experiência já foi liberada para 11 milhões. O canal se destaca em categorias de long tail e no 3P: mais da metade das vendas por ali vêm de sellers.
No físico, a aposta é a Galeria Magalu, na Avenida Paulista. A loja ocupa um ponto histórico, preserva um teatro e inclui uma galeria de arte, além de reunir Magalu, Netshoes, Kabum, Época Cosméticos e Estante Virtual no mesmo espaço, com estúdios e o Teatro YouTube para lives e conteúdo. A live da Black Friday deste ano será transmitida de dentro da loja.
“O brasileiro está órfão de loja de departamento. As grandes ficaram lá atrás, na década de 80. A Galeria é uma redefinição desse conceito, num contexto digital e multicanal”, diz Fred.
Se o modelo emplacar, a ideia é replicar o conceito em outras praças, convertendo lojas de grande porte já existentes. A retomada de um ciclo mais agressivo de aberturas novas, porém, segue condicionada a juros mais baixos.