A decisão pouco ortodoxa de Michael Saylor de manter bitcoin em vez de dinheiro no caixa da MicroStrategy elevou a outrora obscura fabricante de software ao patamar das maiores corporações da Terra – em termos de dinheiro guardado na tesouraria.
A empresa com sede em Tysons Corner, Virgínia, possui aproximadamente US$ 26 bilhões em Bitcoin, valor superior ao caixa (em dólares) de líderes de mercado globais, como IBM, Nike e Johnson & Johnson, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Só 14 empresas, lideradas por Apple e Alphabet, têm mais do que isso.
Em termos de valor de mercado, os US$ 26 bilhões equivalem a mais do que um Banco do Brasil (US$ 25 bi). E a um terço do market cap da própria MicroStrategy – US$ 72 bilhões, que mal a colocam entre as 200 maiores empresas dos EUA.
Michael Saylor, cofundador e presidente do conselho, decidiu investir em bitcoin no ano de 2020 para proteger o caixa contra a inflação enquanto o crescimento da receita da MicroStrategy estagnava. Com o tempo, tornou-se o maior detentor corporativo da cripto – inclusive emitindo ações e fazendo dívida para adquirir mais bitcoin.
“O balanço deles é basicamente uma função do preço do Bitcoin”, disse Dave Zion, fundador do Zion Research Group, uma empresa baseada em Chadds Ford, Pensilvânia, que foca em questões contábeis e fiscais.
As ações da companhia mais cripto friendly do S&P 500 dispararam 2.500% com a valorização de 700% do Bitcoin desde meados de 2020. Isso fez da MicroStrategy a companhia de grande porte com melhor desempenho nos EUA durante o período.
O Bitcoin opera em recorde histórico, acima dos US$ 90 mil. “Eles não controlam o preço do Bitcoin, então vão apenas surfar essa onda, e é uma onda que pode subir ou descer”, diz Zion.
A maioria dos tesoureiros corporativos usa os ativos financeiros de uma empresa para apoiar os negócios ou gerar retornos, incluindo o pagamento de dividendos. Saylor, da MicroStrategy, argumenta que os acionistas se beneficiam da estratégia de buy & hold (comprar e manter), mesmo que a empresa não pague dividendos – vale notar que não existe pagamento de proventos em bitcoin, e a empresa não tem vendido criptoativos para remunerar os acionistas com dinheiro.
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A MicroStrategy criou seu próprio indicador de desempenho, chamado “rendimento de bitcoin”. Eles dividem suas reservas em cripto pelo número de ações em circulação. Por esse critério, o rendimento acumulado no ano está em 26,4%. É bem menos do que os 150% do bitcoin, porque a quantidade de papeis cresceu no período.
Saylor duplicou a aposta na estratégia de vender ações e fazer dívida para comprar cripto, afirmando que a empresa pretende levantar US$ 42 bilhões nos próximos três anos. As reservas totais de Bitcoin da empresa foram adquiridas por um preço de compra agregado de US$ 11,9 bilhões — menos da metade do valor atual.
Essa estratégia de acumular e manter bitcoin não tem um fim previsto, de acordo com Mark Palmer, analista da Benchmark Co., que tem uma recomendação de “compra” para as ações.
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“Dado o movimento do Bitcoin em 2024, em particular, não há realmente motivo para a empresa desviar dessa abordagem”, disse ele.
O analista Lance Vitanza, da TD Cowen, também vê o mercado como receptivo à abordagem da MicroStrategy, já que a empresa continua com bom acesso ao mercado de capitais, escreveu ele em uma nota aos clientes na segunda-feira.
“O que começou como uma estratégia defensiva para proteger o caixa se tornou uma estratégia oportunista destinada a acelerar a geração de valor para os acionistas”, disse Vitanza, que também tem uma classificação de “compra” para as ações. “Essa criação de valor recorrente merece ser capitalizada.”
Por Monique Mulima, com informações de Alexandre Versignassi, do InvestNews
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