A maior enchente da história no Rio Grande do Sul foi uma espécie de “escola” sobre como se preparar e reagir diante de eventos climáticos de grandes proporções. Esse aprendizado está norteando a CCR, uma das maiores empresas de mobilidade do país, no desenvolvimento de planos de contingência e calculando riscos de novos episódios de grandes proporções, que devem se tornar mais frequentes.
“O mundo mudou, e a empresa precisa estar preparada para lidar com isso”, disse Miguel Setas, CEO da CCR, a uma plateia de investidores e analistas, em evento realizado pela Galapagos Capital.
LEIA MAIS: Após 4 tentativas, governo leiloa ‘rodovia da morte’ em MG para fundo paranaense
Por ser uma empresa de capital intensivo, que tem como característica investimentos e contratos de prazos muito longos, a gestão de riscos climáticos precisa entrar nos cálculos sobre se vale a pena ou não investir em uma nova concessão.
“O nível de atratividade de uma concessão também tem que considerar a dimensão climática. Essa dimensão é muito importante para precificar o risco [na hora de entrar em algum leilão]”, explicou .
A adoção desse critério fez a empresa decidir não participar, por exemplo, do leilão de rodovias do litoral sul do Estado de São Paulo, ocorrido em abril deste ano e que vai demandar R$ 4,3 bilhões em investimentos.
“Uma das variáveis fundamentais na análise desse negócio foi o risco climático, até porque tivemos um episódio recente no litoral norte do Estado”, lembra Setas, referindo-se aos desabamentos que ocorreram em São Sebastião no início do ano passado.
Neste momento, a companhia monitora também os efeitos dos incêndios florestais espalhados pelo país. Setas conta que todas as rodovias administradas pela CCR foram impactadas pelas queimadas.
Efeito Rio Grande do Sul
Nas enchentes no Rio Grande do Sul, a CCR teve que lidar com a crise em uma das principais rodovias do Estado que é de sua concessão, a BR-386. A empresa gastou R$ 240 milhões para reconstruir trechos afetados da estrada em 12 dias – valor que deverá ser coberto pelas seguradoras.
Setas lembra que a companhia mobilizou dois helicópteros para ajudar no socorro de vítimas na região. E um episódio em especial, o resgate de uma mulher grávida de oito meses que ficou ilhada na rodovia, marcou o executivo. “Foi um momento muito tenso”, diz. “O [episódio no] Rio Grande do Sul foi uma escola.”
LEIA MAIS: O ministro de Lula que gosta do mercado: governo vai à Faria Lima para financiar infraestrutura
A partir do aprendizado da crise vivida em maio, a CCR está trabalhando na gestão de risco. Até o fim do ano que vem, o CEO afirma que a empresa terá planos de contingência climática mais robustos para as 11 rodovias, 17 aeroportos e seis linhas de trem e metrô que opera no país. Medidas que deverão estar implementadas até 2035.
“Esses planos envolvem novos investimentos, envolvem novas funções de engenharia. Nós vamos fazer um conjunto de adaptações que vão tornar os ativos mais resilientes para os eventos climáticos”, completa o executivo.
Veja também
- Greve nos portos dos EUA entra no 2º dia e Casa Branca defende sindicato
- Seca na Amazônia dificulta transporte de mercadorias e afeta vida de moradores
- Senado aprova projeto de marco regulatório dos seguros privados e autoriza crédito para porto de Santos
- Auren anuncia incorporação da AES Brasil, formando 3ª maior geradora do país
- Presidente da Lufthansa demonstra frustração com atrasos nas entregas da Boeing