Depois de quatro meses de anunciar a negociação da Aesop com a L’Óreal, a Natura & Co (NTCO3) divulgou a venda da marca de luxo australiana para a gigante de cosméticos francesa. A cifra anunciada foi de US$ 2,586 bilhões, valor este acima do informado em abril, de US$ 2,525 bilhões .
Há outras vendas no radar. Nesta semana, a multinacional brasileira apontou em comunicado que seu conselho de administração autorizou a avaliação da potencial venda da The Body Shop – outra marca da holding. Mas foi destacado que não há “qualquer garantia de que a autorização concedida irá resultar em uma transação”.
O Itaú BBA apontou em relatório que o preço médio da marca pode ser de R$ 1,32 bilhão. No entanto, considerando as variáveis do Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da unidade, a marca pode valer entre R$ 600 milhões e R$ 7,5 bilhões.
Aesop
A L’Óreal terá agora, além da Aesop, os 400 pontos de venda que a marca tem espalhados na Austrália, Ásia, Américas, Europa e Nova Zelândia. A negociação faz parta da estratégia da Natura de aumentar seu foco em prioridades, a exemplo da integração com a Avon Internacional, e na redução do endividamento. No 4º trimestre de 2022, a Natura viu sua relação dívida líquida sobre Ebitda alcançar 5,6 vezes, além de um prejuízo de R$ 900 milhões.
Desde o ano passado que analistas apontavam a venda do ativo como um possível impulsionador da multinacional brasileira. Até então, alguns cenários foram considerados, como uma separação da marca da holding Natura, até a negociação de uma parte do ativo.
A XP chegou a divulgar um relatório em fevereiro deste ano apontando que a venda da Aesop iria acabar com os problemas de alavancagem. Na época, a maior marca de luxo do mundo, a LVMH, além de L’Óreal e Shiseido, estava avaliando ofertas para a compra da Aesop, em um valuation estimado de US$ 2 bilhões, segundo os analistas.
Se a venda fosse concretizada em sua totalidade – como foi agora -, era apontado que os investidores poderiam começar a questionar as ambições de longo prazo da Natura&Co., trazendo na sequência a venda da The Body Shop (TBS) para a discussão.
“Apesar dos investidores atualmente atribuírem valor zero (ou negativo) para o ativo, acreditamos que a TBS possa ser um alvo atrativo para fundos de private equity com mandatos de reestruturação”, apontaram à época, Daniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Seudt, todos da XP.
A recomendação para os papeis era de compra, por considerarem resultados melhores no curto-prazo, valuation atrativo e potenciais gatilhos à frente.
Já o BTG Pactual, em relatório mais recente, de 21 de agosto, apontou que analistas saíram de uma reunião com o companhia muito mais “positivos”, dado o plano de recuperação apresentado e os comentários da administração. Mas ainda assim eles se mantiveram neutros na recomendação para os papeis, já que algumas iniciativas da Natura ainda estavam em estágio inicial, a exemplo da integração nos mercados latino-americanos entre Avon e Natura.
Nos últimos anos, a Natura implementou uma série de mudanças em seu modelo de negócios, incluindo a revisão das vendas de “porta em porta” na América Latina para o digital, tornando-se um player mais global.
Aquisições
A Aesop foi adquirida pela Natura em 2013, seguida pela compra da fabricante de cosméticos The Body Shop, em 2017. Já em 2019 foi feito acordo para a compra da Avon.
Essas medidas aumentaram a alavancagem financeira da companhia, o que levou a Natura fazer em 2020 dois aumentos de capital, totalizando R$ 8 bilhões. O objetivo era fortalecer o caixa e reduzir sua dívida em dólares.
No segundo trimestre deste ano, a companhia começou a integrar as marcas Natura-Avon nos mercados latino-americanos, começando por Peru, Colômbia e agora no Brasil.
Nesta quinta-feira (31), as ações da Natura (NTCO3) operavam em queda de 0,72%, cotadas a R$ 15,27, às 11h.
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