A revelação feita pela Neuralink na semana passada de que minúsculos fios dentro do cérebro de seu primeiro paciente haviam saído de posição é um problema que a empresa de Elon Musk conhece há anos, de acordo com cinco pessoas familiarizadas com o assunto.
A empresa sabia, por meio de testes em animais realizados antes de sua aprovação nos Estados Unidos no ano passado, que os fios poderiam se retrair, removendo com eles os eletrodos sensíveis que decodificam os sinais cerebrais, disseram três das fontes. A Neuralink considerou o risco baixo o suficiente para que um novo projeto não fosse necessário, acrescentaram as fontes.
A Neuralink está testando seu implante para dar a pacientes paralisados a capacidade de usar dispositivos digitais pensando sozinhos, uma perspectiva que poderia ajudar pessoas com lesões na medula espinhal.
A empresa informou na semana passada que os minúsculos fios do implante, que são mais finos do que um fio de cabelo humano, se retraíram do cérebro de um paciente em seu primeiro teste em humanos, resultando em menos eletrodos que poderiam medir os sinais cerebrais.
Os sinais são traduzidos em ações, como mover o cursor de um mouse na tela de um computador. A empresa disse que conseguiu restaurar a capacidade do implante de monitorar os sinais cerebrais do paciente fazendo alterações que incluíram a modificação do algoritmo para torná-lo mais sensível.
As fontes não quiseram ser identificadas, alegando acordos de confidencialidade que haviam assinado com a empresa. A Neuralink e seus executivos não responderam às ligações e emails que solicitaram comentários.
A Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla inglês) dos EUA estava ciente do possível problema com os fios porque a empresa compartilhou os resultados dos testes em animais como parte de seu pedido para iniciar testes em humanos, disse uma das fontes.
A FDA se recusou a comentar se estava ciente do problema ou de sua possível importância. A agência disse à Reuters que continuará monitorando a segurança dos pacientes inscritos no estudo da Neuralink.
Se a Neuralink continuar os testes sem uma reformulação, ela pode enfrentar problemas caso mais fios se soltem e seu ajuste no algoritmo se mostre insuficiente, disse uma das fontes.
Mas o redesenho dos fios traz seus próprios riscos. Fixá-los no cérebro, por exemplo, poderia resultar em danos ao tecido cerebral se os fios se soltassem ou se a empresa precisasse remover o dispositivo, disseram duas das fontes.
A empresa tem procurado projetar os fios de forma que sua remoção seja perfeita, de modo que o implante possa ser atualizado com o passar do tempo, à medida que a tecnologia for sendo aprimorada, afirmam funcionários atuais e antigos.
Em janeiro, a Neuralink implantou o dispositivo no cérebro de seu primeiro paciente, Noland Arbaugh, que está paralisado dos ombros para baixo devido a um acidente de mergulho em 2016.
Nas semanas após a cirurgia, “vários fios se retraíram do cérebro”, disse a Neuralink em uma atualização de blog na semana passada. A publicação não mencionou efeitos adversos à saúde de Arbaugh e não revelou quantos dos 64 fios do dispositivo foram retirados ou pararam de coletar dados cerebrais.
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