Publicidade

O novo balanço da Nvidia, divulgado nesta quarta-feira (19), mostrou que as expectativas em torno do futuro da inteligência artificial podem até gerar ruído, mas enfraquecem o discurso de que uma “bolha” está prestes a estourar no setor. Pelo contrário: os números da empresa, a principal proxy da demanda global por IA, reforçaram que a procura por hardware segue intensa.

Essa leitura ganhou força após semanas em que parte de Wall Street vinha questionando se o setor estaria inflado. SoftBank e o fundo de Peter Thiel haviam vendido suas participações na empresa nos últimos meses, enquanto o investidor Michael Burry, conhecido por antecipar a crise do subprime em 2008, começou a apostar contra a tese.

O CEO da Nvidia, Jensen Huang, tratou de rebater essa visão. “Tem havido muita conversa sobre uma bolha de IA. Do nosso ponto de vista, vemos algo bem diferente”, afirmou na teleconferência de resultados do terceiro trimestre, que superaram a expectativa do mercado.

Segundo Huang, as vendas da plataforma Blackwell — a geração atual dos chips da empresa — estão “fora da curva”. A diretora financeira, Colette Kress, foi além ao dizer que chips vendidos há seis anos continuam sendo plenamente utilizados pelos clientes, o que contraria o argumento de obsolescência rápida levantado por críticos.

Analistas também viram o balanço como uma desfibrilada no discurso de bolha. “A Nvidia fez um bom trabalho ao sugerir como os cronogramas de depreciação adotados pelos clientes estão corretos, já que as atualizações de software prolongam a vida útil dos chips antigos”, escreveu Ben Reitzes, da Melius Research, em relatório. Para ele, o recado é positivo para todo o setor, indicando gastos robustos de hyperscalers e governos fora da China até 2026.

Balanço

A Nvidia reportou lucro de US$ 31,9 bilhões, acima do consenso, que esperava algo em torno de US$ 30 bilhões. Por ação, o lucro ajustado foi de US$ 1,30, acima do consenso de US$ 1,26 compilado pela FactSet. A receita do terceiro trimestre fiscal chegou a US$ 57 bilhões, alta de 62% sobre o ano anterior e acima das projeções de US$ 54,9 bilhões.

Para o trimestre atual, a companhia projeta receita em torno de US$ 65 bilhões, também acima das estimativas de mercado e implicando aceleração do crescimento para 65%. Após a divulgação do balanço, as ações da Nvidia subiram mais de 5% no pré-mercado americano.

O CEO da NVIDIA, Jensen Huang, exibe produtos no palco durante a Conferência Anual de Inteligência Artificial Nvidia GTC no SAP Center em San Jose, Califórnia, em 18 de março de 2024.
O CEO da Nvidia, Jensen Huang. Foto: Justin Sullivan/Getty Images

“Não surpreende que a Nvidia tenha batido projeções e elevado o guidance — isso virou rotina. Mas a magnitude desse desempenho vai manter o tema IA no centro do mercado, liberando mais espaço para risco até o fim do ano”, disse David Wagner, da Aptus Capital Advisors.

A Nvidia ainda recebeu outro impulso: o Departamento de Comércio dos EUA autorizou a venda de até 70 mil chips avançados de IA a duas empresas dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita — a estatal G42 e a Humain, iniciativa apoiada pelo governo saudita, segundo o The Wall Street Journal.

O acordo permitirá a venda de até 35 mil servidores GB300 (ou equivalentes) para cada uma delas, um passo que pode abrir caminho para negociações maiores na região.

Escreva para Adam Clark em adam.clark@barrons.com