A Kalshi, plataforma americana, alcançou um valor de mercado de US$ 11 bilhões na última terça-feira (2) após levantar US$ 1 bilhão em nova rodada de investimentos. O aporte liderado pela gestora Paradigm e com participação de nomes como Sequoia Capital, Andreessen Horowitz, Meritech, ARK Invest, CapitalG e Y Combinator, consolidou a startup como uma das líderes globais do setor de prediction markets (mercado de previsões) e colocou sua cofundadora, a brasileira Luana Lopes Lara, 29, no centro das atenções.

Com uma participação estimada entre 10% e 20% na empresa, segundo o jornal americano New York Times, Luana torna-se a mais jovem bilionária self-made do planeta, ultrapassando nomes do Vale do Silício e das finanças globais. A jovem fundou a empresa em 2018 com o americano Tarek Mansour, quando ambos estudavam no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

Luana Lopes Lara e Tarek Mansour fundadores da Kalshi

O que é a Kalshi e o que ela faz?

A Kalshi opera um modelo inédito autorizado pela Commodity Futures Trading Commission (CFTC), órgão federal americano responsável por regular mercados de derivativos e contratos futuros. A plataforma permite operar resultados binários (sim ou não) sobre temas como eleições, inflação, clima, indicadores econômicos e até resultados esportivos. Dessa maneira, investidores podem negociar contratos baseados em eventos reais.

O crescimento da Kalshi tem sido acelerado. A empresa afirma que seus volumes já superam US$ 1 bilhão por semana, impulsionados por contratos ligados às eleições e à agenda econômica dos EUA.

A popularização dos mercados de eventos atraiu atenção de reguladores estaduais, que veem certos contratos — especialmente os relacionados a esportes — como equivalentes a apostas. Uma reportagem da Bloomberg, afirma que em novembro, um juiz federal em Nevada autorizou o estado a tomar medidas contra a Kalshi, argumentando que contratos baseados em resultados esportivos não se enquadram como derivados sujeitos exclusivamente à supervisão da CFTC.

A decisão representou um revés para a empresa, que tenta manter a operação fora de regulações estaduais típicas de cassinos e casas de apostas. O caso ocorre em paralelo a outras disputas semelhantes em tribunais de Massachusetts e de diferentes estados.

Da dança ao MIT, e do MIT a Wall Street

A trajetória de Luana chama atenção pela diversidade de caminhos. Filha de uma professora de matemática e de um engenheiro elétrico, ela cresceu entre Joinville (SC) e Belo Horizonte (MG), onde conciliou estudos com a rotina extensa da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Paralelamente, destacava-se em competições estudantis. A jovem conquistou ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e bronze na Olimpíada Catarinense de Matemática.

Após o ensino médio, viveu nove meses na Áustria, onde dançou profissionalmente, até decidir uma guinada definitiva — deixar os palcos para ingressar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde se formou em Ciência da Computação e Matemática. Foi ali que conheceu Tarek Mansour, com quem fundaria a Kalshi em 2018.

Durante a graduação, ambos estagiaram em algumas das maiores gestoras e bancos de Wall Street. Ele passou por Goldman Sachs e Citadel; ela, por Bridgewater Associates, Citadel e Five Rings Capital.

Foi nesse ambiente que os dois perceberam a demanda recorrente por instrumentos simples para negociar riscos atrelados a eventos e que essa solução não existia no mercado tradicional. Essa observação se tornou o ponto de partida da Kalshi.