O follow-on de US$ 12 bilhões (R$ 63 bi) da Saudi Aramco esgotou-se pouco depois de ser aberto no domingo (2). O governo saudita conseguiu vender todas as ações que pôs à venda em poucas horas, dentro da faixa de preço estabelecida, entre 26,70 e 29 riais (a moeda saudita); o equivalente a R$ 37,34 e R$ 40,56. A oferta equivale a 0,6% da companhia.
O livro de pedidos refletiu uma mistura de investidores locais e estrangeiros, disseram três pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram para não ser identificadas devido à natureza privada das informações.
A extensão da participação estrangeira será observada de perto como um indicador de interesse em ativos sauditas. Durante a oferta pública inicial da Aramco em 2019, investidores de fora do país deixaram o governo dependente de compradores locais. Naquela listagem, de US$ 29,4 bilhões, 23% das ações foram alocadas a compradores estrangeiros.
Um dos principais argumentos de venda da última oferta é a chance de obter um dos maiores dividendos do mundo: 6,6% para este ano, pelas estimativas da Bloomberg Intelligence.
O governo iniciou o negócio no mesmo dia em que a OPEP+ se reuniu para discutir a política de produção de petróleo. O grupo concordou em estender seus cortes de produção até 2025, enquanto reduzia algumas dessas restrições a partir do final deste ano. Isso permitiria que a Arábia Saudita relaxasse as restrições de produção da Aramco.
As ações da Aramco, maior petroleira do mundo, caíram 1,9% no domingo, deixando o valor de mercado da empresa em cerca de US$ 1,8 trilhão. Desde o início do ano, quando a Bloomberg News relatou pela primeira vez a intenção do governo de vender uma participação, as perdas somam 14%.
LEIA MAIS: A briga de petroleiras por um mega acordo de US$ 53 bi na Guiana
O governo saudita possui 82% da Aramco, enquanto o fundo soberano do reino detém uma participação adicional de 16%. Ou seja, só 2% das ações da companhia circulam no mercado – contra 63% da Petrobras, por exemplo.
O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman disse em 2021 que o governo procuraria vender mais ações da Aramco no futuro. Esses planos ganharam impulso há um ano, quando o reino começou a trabalhar com consultores para estudar a viabilidade de uma oferta subsequente.
O negócio está entre as maiores vendas de ações no mundo desde a listagem da Aramco. Os rendimentos ajudarão a financiar iniciativas para diversificar a economia. O reino investe em esportes, turismo, inteligência artificial e projetos como o Neom – uma megacidade que eles pretendem levantar do zero na costa oeste da Arábia Saudita. Veja melhor aqui:
A oferta é parte dos esforços sauditas para cobrir o déficit orçamentário que os novos projetos estão gerando. O país levantou neste ano US$ 17 bilhões com vendas de títulos públicos denominados em dólar, mais do que qualquer outro país emergente. E também vendeu o equivalente a US$ 25,5 bilhões em títulos para o mercado interno, denominados em riyal, a moeda saudita – acima dos US$ 20 bilhões no mesmo período do ano passado.
O negócio coincide com um período de forte demanda por novas ofertas de ações na Arábia Saudita. Nas últimas semanas, quatro empresas atraíram um total combinado de US$ 176 bilhões em pedidos para seus IPOs, à medida que gestores de fundos se aglomeraram em negócios que ofereceram bons retornos nos últimos dois anos.
O governo está trabalhando com uma série de bancos na venda. M. Klein & Co. é um consultor financeiro independente ao lado de Moelis & Co.
O SNB Capital é o gestor principal. E estes são os outros coordenadores do negócio: Citigroup., Goldman Sachs Group., HSBC, JPMorgan, Bank of America. e Morgan Stanley, Al Rajhi Capital, BOC International, BNP Paribas, China International Capital, EFG Hermes, Riyad Capital, Saudi Fransi Capital e UBS.
Alguns desses bancos também trabalharam no IPO da Aramco, recebendo pouco mais de US$ 100 milhões por seu trabalho. Essas taxas relativamente pequenas são comuns na região. Em comparação, bancos como Goldman e JPMorgan dividiram cerca de US$ 60 milhões ajudando a Peloton Interactive Inc. a arrecadar apenas US$ 1,2 bilhão em 2019.
O governo ainda não especificou quanto os bancos ganharão com o último negócio. Em vez disso, o prospecto disse que o reino pagará taxas aos coordenadores com base no valor total da oferta, bem como despesas relacionadas à venda de ações.
No total, a Arábia Saudita planeja vender 1,545 bilhão de ações. O governo pode levantar um adicional de US$ 1,2 bilhão se exercer a opção de vender mais ações como parte da oferta.
Por Matthew Martin e Julia Fioretti
Veja também
- Balcão Agrícola do Brasil, apoiado pela Rumo, entregará soja e milho ainda em 2024
- Para driblar sanções, Rússia propõe que Brics desenvolvam sistema de pagamentos
- Importadoras estocam café brasileiro na Europa se antecipando a novas regras ambientais
- Geadas no Brasil fazem preço do café disparar e acendem sinal de alerta
- Chilena Codelco vai vender seu projeto de lítio, apesar da queda histórica nos preços