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Petrobras deve focar em óleo e gás, não energia renovável, diz Adriano Pires

Declaração foi feita após anúncio de parceria com a Weg para investimento em energia eólica.

A estratégia da Petrobras em investir em energias renováveis “não é ruim”, mas a empresa deveria direcionar o foco para atividades mais rentáveis, como seu “core business” de exploração de óleo e gás. 

Essa é a avaliação de Adriano Pires, especialista no setor e presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), após o anúncio da parceria entre a Weg (WEGE3) e a Petrobras (PETR3PETR4) para desenvolvimento de uma turbina de geração eólica onshore de 7 megawatts (MW) de potência.

Em entrevista ao InvestNews, Pires afirmou que, pela reação do mercado financeiro, “o negócio parece ser muito bom para Weg e não tão bom para Petrobras. Porque o core business da Petrobras a gente sabe muito bem que é explorar óleo, petróleo e gás natural”. 

Adriano Pires, presidente do CBIE (Foto: Divulgação)
Adriano Pires, presidente do CBIE (Foto: Divulgação)

O especialista comentou ainda as estratégias da empresa, e citou a polêmica em torno da exploração da Margem Equatorial. A região foz do Rio Amazonas é apontada como local de alto potencial de exploração petrolífera, mas a Petrobras ainda não conseguiu aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para iniciar a atividade. 

“Eu acho que o grande investimento que a Petrobras pode fazer neste momento seria a Margem Equatorial, o pré-sal na Bacia de Santos, é para ser um sucesso, baixo custo, muita produção, poços com muita produtividade”, opina Pires. “Então acho que o foco deveria ser esse, e não em energia renovável.”

Veja abaixo a íntegra da entrevista do especialista: 

IN$ – Como você analisa o anúncio de parceria entre Weg e Petrobras para investir em energia eólica? Qual é o significado para o futuro da petroleira?

Adriano Pires: Esse anúncio já era meio que esperado, desde o início do governo do presidente Lula, e o novo presidente da Petrobras vem anunciando que quer investir em energias limpas.

Eu acho que investir em energia renovável, para uma empresa como a Petrobras, não é ruim. Agora, a minha preocupação é se isso está sendo feito com disciplina de capital.

Aparentemente, quer dizer, a bolsa, ao reduzir a o preço da ação da Petrobras ao subir a da Weg, está mostrando que o negócio parece ser muito bom para Weg e não tão bom para Petrobras. Porque o core business da Petrobras a gente sabe muito bem que é explorar óleo, petróleo e gás natural. 

E a gente já viu que no passado, a Petrobras já se meteu em fazer outras coisas. Lembra que você teve, não sei se foi no segundo o governo do presidente Lula ou no primeiro da presidente Dilma, a criação da PBIO, que era Petrobras biocombustível, que andou comprando usinas de etanol, usinas de biodiesel e só causou prejuízo pra empresa. Então, o mercado fica preocupado outra vez, se essa ida da Petrobras para energia eólica também vai ser uma ida que vai provocar, quer dizer, perdas para Petrobras e perda pros seus acionistas. 

Há sempre aquela crítica também, ‘ah não, mas no governo do presidente Temer, no governo do presidente Bolsonaro não se investiu em energia renovável na Petrobras, se for com muito óleo e gás’. Óbvio, por uma razão muito simples. Quando o presidente Temer assume a  presidência da república, a Petrobras tinha uma dívida de US$ 120 bilhões, as pessoas esquecem disso. Então a Petrobras teve que se reinventar do ponto de vista econômico e financeiro e focar no negócio que dá rentabilidade, que é exatamente produzir petróleo e gás, em particular no pré-sal. 

20/04/2018-P-74 no campo de Búzios no pré-sal da Bacia de Santos. Crédito: © Andre Ribeiro/Agência Petrobras

Então a gente está de olho porque a disciplina de capital é muito importante, foi o que fez a Petrobras recuperar, pagar a grande parte dessa dívida. Também há problemas de desinvestimentos, acompanhamento do mercado internacional do preço da gasolina e do diesel, e a gente não tá vendo a não acontecer nada disso agora.

A gente está vendo que é realmente a disciplina de capital não é uma preocupação do governo atual com a Petrobras. A questão também de seguir o mercado internacional também não é, do preço do combustível. E o plano de desinvestimento, a Petrobras também quer parar de vender a refinaria, parar de vender campos de petróleo, o presidente até anunciou isso, que não vai vender mais Urucu, que não vai vender mais o Polo Bahia Terra. 

Então essa que é a questão. ‘Ah, vai fazer o maior era gerador do mundo’. Lembra aquelas coisas do Brasil, ‘nós somos o maior do mundo, não sei o quê’. E às vezes o maior do mundo não necessariamente é o melhor do mundo. 

IN$ – Outras empresas exploradoras de petróleo também têm anunciado iniciativas justamente nessa direção de energia limpa. Na sua visão, qual é o futuro das petroleiras quando deixarem de ser petroleiras? Elas deixarão de ser rentáveis quando não houver mais combustível fóssil para ser explorado?

Adriano Pires: Eu acho que vai ter sempre combustível fóssil para ser explorado. Eu acho que a transição energética, inclusive, não vai ser feita sem a presença de combustível fóssil. Hoje tem tecnologias de captura de carbono, por exemplo,  que fazem com que o combustível fóssil não emita tanto CO2 para a natureza. 

O que a gente tá vendo é que nos últimos sete ou oito anos houve um ambientalismo muito xiita que demonizou muito combustível fóssil. E fez inclusive com que grandes petroleiras, principalmente a Shell, a Total francesa, reduzissem investimentos na exploração de petróleo e começassem a investir mais energia renovável. O resultado foi muito ruim para essas empresas. Tanto que elas tão retomando o investimento em petróleo e gás. A ExxonMobil, que foi uma das que não entraram nessa nessa linha, continua sendo uma empresa muito rentável. 

Um funcionário demonstra uma amostra de petróleo bruto no campo de petróleo de Yarakta, propriedade da Irkutsk Oil Company, na região russa de Irkutsk 04/01/2023 REUTERS/Vasily Fedosenko/Illustration

Então acho que a Petrobras está entrando nessa praia da energia renovável quando essas petroleiras de certa forma estão até se retirando um pouco. 

O que a gente vê é que depois da pandemia e com a guerra da Rússia e Ucrânia, o petróleo subiu muito de preço. Chegou a bater mais de US$ 100. E como você teve uma redução desses investimentos de exploração e produção por parte das petroleiras, o mundo ficou outra vez dependendo muito de Opep e Rússia, que conseguem produzir petróleo muito rapidamente. A Arábia Saudita anunciou recentemente que ia manter a redução de 1 milhão de barris por dia e o petróleo já está chegando a US$ 90 outra vez. Tem gente que fala que se ela mantiver isso realmente até o final do ano podemos ter petróleo a US$ 100. 

Então você está vendo também as empresas voltando a investir em óleo e gás, porque realmente não se compara a rentabilidade do óleo e gás com as energias renováveis. Então me parece que a gente tem que ter cuidado com esse negócio de ‘vai acabar a empresa do petróleo, vai acabar o petróleo’, a gente tem que olhar isso com muito muita calma, com muito cuidado. 

Eu acho que o grande investimento que a Petrobras pode fazer neste momento seria a Margem Equatorial, o pré-sal na Bacia de Santos, é para ser um sucesso, baixo custo, muita produção, poços com muita produtividade. Petróleo é uma coisa que você começa a aumentar a produção, depois estabiliza, depois cai. Lá para 2030 já está se prevendo uma estabilização na produção do pré-sal e o começo de uma queda. 

Por isso seria importante a Petrobras e outras petroleiras começarem a explorar a Margem Equatorial, que seria substituta do do pré-sal e, na minha opinião, geraria riqueza para esse conhecido arco-norte do Brasil, que vai do Rio Grande do Norte até o Amapá, que é a região mais pobre do Brasil. Então acho que o foco deveria ser esse, e não em energia renovável.

IN$ – Você mencionou a Margem Equatorial. A ministra do meio ambiente, Marina Silva, segue reafirmando as avaliações do IBAMA, justamente tentando travar a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Mas o próprio presidente Lula já tem dado declarações de que é favorável. Na sua avaliação, quem que vai ganhar essa disputa?

Adriano Pires: Eu sempre acho que quem ganha essas disputas é quem tem mais bom senso. Eu acho que o bom senso nesse caso está do lado de quem quer explorar a Margem Equatorial, porque me parece que é é muito radicalismo essa coisa do ‘ou explora a Margem Equatorial ou preserva o meio ambiente.’ Eu acho que tem que trocar o ‘ou’ pelo ‘e’: explorar a Margem Equatorial e preservar o meio ambiente. 

Vista da região da Foz do Amazonas, no Amapá 31/03/2017 REUTERS/Ricardo Moraes

Até porque com o dinheiro de royalties, geração de emprego que vai ter na exploração de petróleo, você pode ter uma política ambiental muito mais robusta. Até o petróleo pode ser usado para financiar quer dizer uma política ambiental e social. A gente tem que entender que aquela região ali da Margem Equatorial é uma região, volto a repetir, a mais pobre do Brasil, tem um problema social ali gigante. 

“Então você explorou petróleo aqui no Sudeste, gerou riqueza para o Rio de Janeiro, está gerando riqueza para São Paulo. Agora que vai gerar riqueza para a área mais pobre brasileira não pode mais?”

A gente tem que preservar árvore, mas tem que preservar as pessoas também. Eu até sempre chamo atenção que aquela famosa sigla aí ESG, no Brasil o S tem que vir na frente do E, o problema social aqui no Brasil é muito grave. Então, não é incompatível explorar o petróleo da Margem Equatorial e preservar o meio ambiente. A gente sabe que hoje as tecnologias de exploração de petróleo estão muito avançadas. 

Tem muita redundância. Toda empresa petroleira hoje está preocupada em não fazer qualquer tipo de acidente ambiental – até porque se ela cometer um acidente ambiental, praticamente você quebra a empresa. E a Petrobras, nesses anos todos que tem explorado a Bacia da Campos, a Bacia de Santos, nunca teve acidente no Brasil com gravidade. 

A Petrobras tem uma tecnologia, a melhor do mundo para explorar petróleo do mar. Então, eu acho que está repetindo um pouco oque aconteceu no primeiro governo Lula. Tinha uma uma certa divergência na época entre a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e a ministra do Meio Ambiente atual, que é a Marina Silva, em relação à construção de hidrelétricas, Belo Monte.

IN$ – Naquele momento, a então ministra Dilma ganhou essa queda de braço.

Adriano Pires: É, porque o Lula, como me parece sempre é uma pessoa pragmática, e nesse sentido de bom senso, ele preferiu fazer as hidrelétricas e acabou que a ministra Marina Silva teve até que sair do governo. Eu não estou dizendo que desta vez ela vai sair do governo, mas eu acho que outra vez ela está se colocando em uma posição muito radical, que não ajuda em nada, o Brasil. Como você falou, ‘ah, o petróleo vai acabar’. Vai demorar, na minha opinião. 

Mas mas por enquanto o petróleo é o produto, a commodity mais que mais gera riqueza no mundo, mais cara do mundo. Nós vamos desperdiçar isso? Vamos deixar o petróleo lá embaixo da terra, embaixo do mar, a troco de quê? 

Inclusive você já está vendo na Guiana e no Suriname. A Guiana hoje já produz mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia, com a reserva provável de 10 bilhões, quase igual a do pré-sal, que é uma reserva de 14 bilhões. Então, todo radicalismo é ruim. Volto a repetir: dá para fazer as duas coisas, dá para atender o meio ambiente, mas dá para atender meio social, gerando riqueza com petróleo e gás que existe naquela região. 

IN$ – Para finalizar, como você avalia a Petrobras até aqui no governo Lula e a condução da empresa pela presidência de Jean Paul Prates?

Adriano Pires – Está muito cedo para fazer uma avaliação mais profunda. Tem oito meses de governo. E o governo deu muita sorte neste início de janeiro a julho, principalmente, porque o preço do petróleo caiu muito. Então você pode colocar essa nova política de preços – que é que na minha opinião é um pouco caixa preta, dá para fazer tudo, dá para seguir mercado internacional, dá para não seguir. Então isso também é alívio. Porque o preço é sempre uma questão muito sensível para a população brasileira e para o governo. 

Agora a partir de julho esse preço começou a subir outra vez, e também você começou a reonerar os combustíveis com a volta plena de PIS/COFINS, o novo ICMS, monofásico. Então a defasagem começou a acontecer. E aí recentemente a Petrobras fez um grande aumento na gasolina e no diesel, reduzindo a defasagem, o que o mercado gostou muito. Estamos outra vez defasados porque o preço do petróleo já voltou a US$ 90. 

Agora, ‘como é que está indo a presidência do Jean Paul Prates? Está indo, mas há um temor no mercado, porque você tinha lá nos governos do Bolsonaro e do Temer três eixos que eram muito respeitados. Quatro, aliás, que eram: 

  • disciplina do capital – você só investia onde tinha taxa de retorno adequada -, 
  • a questão do plano de desinvestimentos – de vender ativos que não é core business da Petrobras eu têm uma taxa de retorno muito baixa, até negativa -, 
  • seguir preço de mercado internacional no combustível, 
  • e ter uma política de dividendos muito transparente e clara. 

Essas coisas de certa maneira já começaram a ser abandonadas no governo do presidente Lula na gestão de Jean Paul Prates. Disciplinas de capital já se falou, o mercado está preocupado que a Petrobras quer investir em eólica, quer investir em fertilizante, quer investir em biocombustíveis, sai do foco do business dela. Ela também não quer mais vender mais nada, está tirando de vendas ativos, na minha opinião, que não fazem sentido ela ter. Para quê a Petrobras vai ter 80% do refino brasileiro? Ter 50 já é bom. 

O preço internacional também foi abandonado. Então se esse petróleo volta US$ 100 como muita gente está falando, como é que vai ser? Vai dar aumento ou vai outra vez jogar na conta do acionista? E por fim também a própria redução no pagamento de dividendos, o mercado disse ‘ah, não foi tão ruim, foi para 45’, mas você mexeu, né? Na hora que você mexe a primeira vez, você pode mexer a segunda, pode mexer a terceira. 

Prates em entrevista à Reuters na sede da Petrobras 17/07/2023 REUTERS/Ricardo Moraes

Então a perspectiva, não dá para falar que está ruim demais a gestão da Petrobras, que voltou ao passado. Agora, se a gente olha pra esses pontos que eu coloquei, a gente fica um pouco pessimista realmente, fica preocupado de outra vez. Eu sempre uso essa expressão: a Petrobras ser administrada, gerenciada, mais olhando mais para o retrovisor e menos para o para-brisa. E não é à toa que o retrovisor é menor que o para-brisa, porque eles têm que olhar para frente e olhar pra trás. 

Eu tenho receio que a empresa volte a cometer erros antigos. Se é para cometer erro, vamos cometer erro novo, e não e não erro que já está comprovado que não vai dar resultado positivo nem para Petrobras, nem para o Brasil, nem para o acionista, nem para a sociedade brasileira. Eu sempre digo também que, no final do dia, todos nós somos acionistas da Petrobras, até porque a União é o acionista majoritário, e a União é o Brasil.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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