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Negócios

‘Rei do etanol’, bilionário diversifica fortuna de Vale a gestoras da Faria Lima

Após investir em postos de gasolina e ferrovias, Rubens Ometto acaba de comprar fatia minoritária da Vale.

Rubens Ometto ganhou sua reputação de “rei do etanol” no Brasil após transformar os canaviais de sua família em uma das maiores companhias de biocombustível do mundo, a Cosan (CSAN3). Agora, ele faz uma aposta de US$ 4,3 bilhões que pode remodelar de forma definitiva o seu império. 

Rubens Ometto. Crédito: Cosan/Divulgação

O bilionário de 72 anos está comprando uma fatia minoritária na Vale (VALE3), segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, dando sequência a um esforço de anos para diversificar seus investimentos, que hoje vão desde postos de gasolina e ferrovias a participações em gestoras de fundos multimercados na Faria Lima. 

A transação da Vale surpreendeu os analistas e recebeu uma reação fria dos acionistas da Cosan, o conglomerado que Ometto controla por meio de uma fatia avaliada em cerca de US$ 2 bilhões. As ações da Cosan recuaram 11% desde o anúncio, em meio a dúvidas de que Ometto, neto de agricultores, terá sucesso em sua ambição de capitalizar a transição energética global por meio da mineradora. 

Corrida pela energia limpa

A corrida por formas de produzir energia com menos combustíveis fósseis rearranjou a riqueza em todo o mundo, e a revolução dos veículos elétricos impulsionou fortunas como as de Elon Musk, da Tesla Inc., e do magnata do lítio Julio Ponce Lerou. Ometto espera que a Vale – uma importante fornecedora de níquel, um ingrediente-chave nas baterias de veículos elétricos – lhe dê uma vantagem semelhante.

Mas há fortes dúvidas sobre como a Vale se encaixa no império de Ometto. Seu conglomerado Cosan inclui uma joint-venture com a Royal Dutch Shell que produz etanol e tem cerca de 7.300 postos de gasolina, além de uma fabricante de lubrificantes, mais de 13.000 quilômetros de ferrovias no Brasil e a maior distribuidora de gás natural do país.

O “encaixe estratégico” da compra da Vale “continua incerto”, escreveram em nota analistas do JPMorgan Chase, incluindo Lucas Ferreira. A Cosan tende a se sair melhor em “aquisições com as quais tem sinergias claras ou contribui para uma reviravolta operacional”, disseram os analistas.

Mas Binho – como Ometto é conhecido – tem um pendão para o drama. Ele é obcecado por novelas, com seus diálogos bregas e reviravoltas implausíveis. Engenheiro, ele primeiro deixou os negócios da família para trabalhar para algumas das dinastias mais ricas do Brasil, incluindo os Ermírio de Moraes. Quando ele voltou na década de 1980, Ometto iniciou uma disputa de décadas com a família que terminaria com ele tirando os demais parentes do negócio.

Para Ometto, a escolha era clara. Ou ele mudava a direção da empresa, ou “ia ficar todo mundo pobre”, disse ele em uma entrevista na televisão em 2021.

‘Outro passo’

Agora ele está transformando a Cosan novamente. A compra da Vale faz parte de um plano maior de “operar em setores em que o Brasil tem clara vantagem competitiva”, disse Ricardo Lewin, diretor financeiro da Cosan, em teleconferência na semana passada.

A hora de comprar ações da Vale é agora, disseram executivos da Cosan, destacando o grande desconto em relação a rivais como o Grupo Rio Tinto.

O tamanho da transação levantou preocupações de analistas, que disseram que o peso da dívida pode ser excessivo. A Cosan está financiando o negócio com uma combinação de empréstimos.

O custo levanta “mais sinais de alerta”, escreveram analistas do UBS BB, incluindo Luiz Carvalho, em um relatório de 10 de outubro intitulado “Será que foi demais?”.

Ometto está entrando na Vale em um momento que a mineradora tenta executar uma estratégia para se tornar peça-chave na transição de combustíveis fósseis para energias alternativas. A empresa sediada no Rio de Janeiro disse recentemente que avalia as opções para suas operações de níquel e cobre – um movimento que analistas dizem que pode levar a um spin-off, potencialmente destravando bilhões de dólares em valor.

Diversificando investimentos pessoais

Ometto também vem diversificando seus investimentos pessoais. Seu family office, Aguassanta Investimentos, ajudou a impulsionar empresas como a Grimper Capital, uma gestora multimercados com sede em São Paulo, e a MAV Capital, especializada em produtos de crédito estruturado. Ele também foi o maior doador individual nas eleições brasileiras deste ano, ajudando a eleger dezenas de parlamentares em sua maioria conservadores.

“Às vezes, alguns empresários e algumas empresas, em vez de incorporar o que acontece de novo, eles tentam manter o mesmo estilo”, disse Ometto no início deste ano em um talk show apresentado pelo também bilionário Abilio Diniz. “Você vai tendo que se adaptar ao que vem pela frente.”

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