A dona da varejista Shopee, Sea Ltd. (BDR: S2EA34), despencou na bolsa após reportar uma receita decepcionante no segundo trimestre e delinear planos para aumentar o investimento em comércio eletrônico – mudança estratégica que pode corroer as margens e desencadear uma guerra de preços com TikTok e Alibaba.
As ações caíram 29% em Nova York na véspera, depois que a Sea informou que as vendas cresceram 5,2% abaixo do esperado no segundo trimestre, quando recuou nas promoções de compras e a receita de jogos caiu 41%.
O CEO Forrest Li disse que a empresa pretende expandir o braço de compras online da Sea, Shopee, e que “tais investimentos terão impacto em nossos resultados e podem resultar em perdas”.
É uma mudança notável para a Sea, que nos trimestres anteriores se comprometeu a focar na lucratividade em detrimento da busca pelo crescimento.
Mas a concorrência da Lazada, do Alibaba, juntamente com novos participantes, como o TikTok, da ByteDance Ltd., está ameaçando a liderança da Shopee como líder do e-commerce na Ásia.
O Alibaba aumentou seus negócios de comércio internacional em 41% no trimestre de junho, enquanto o TikTok está expandindo agressivamente em mercados-chave como a Indonésia.
“Há uma falta de visibilidade sobre a eficácia do investimento. Uma batalha brutal pode estar apenas começando.”
Alicia Yap, analista do Citigroup, rebaixando nota para neutra.
Os comentários de Li sobre os gastos assustaram os investidores há muito acostumados a ver a concorrência baseada em preços acabar com as margens.
- Confira: Como ser afiliado da Shopee. Shein, Magalu e outros varejistas?
Busca por lucratividade
A Sea, com sede em Cingapura, embarcou no ano passado em uma campanha agressiva de corte de custos para reverter anos de perdas, concentrando-se nos resultados, à medida que o crescimento da receita desacelerou das taxas percentuais de três dígitos de apenas dois anos atrás.
A empresa congelou salários e cortou centenas de milhões de dólares em vendas e despesas de marketing para obter fluxos de caixa positivos.
Agora, a maior das empresas de internet do Sudeste Asiático e por um curto período a ação de melhor desempenho do mundo, está recuando após uma expansão global outrora agressiva para se concentrar nas operações principais e reconquistar investidores.
O ano passado foi um dos mais difíceis para a Sea desde sua fundação em 2009: ela perdeu cerca de US$ 160 bilhões em valor de mercado desde o pico de outubro de 2021, quando o mercado se voltou contra empresas de tecnologia que perdiam dinheiro.
Números frustram no 2º tri
As vendas do segundo trimestre foram de US$ 3,1 bilhões, abaixo dos US$ 3,2 bilhões estimados pelos analistas em média. O crescimento da receita no Shopee desacelerou para 21%, o ritmo mais lento já registrado.
A receita da SeaMoney, o negócio de serviços financeiros digitais, aumentou 53%. O lucro líquido foi de US$ 321,6 milhões, de acordo com cálculos da Bloomberg com base nos números do primeiro semestre, superando as estimativas.
A concorrência mais acirrada está pesando na lucratividade da Sea e de seus pares regionais GoTo Group e Grab Holdings Ltd., que também estão tentando lidar com a desaceleração do crescimento econômico, o aumento dos custos e a queda nas avaliações das empresas de tecnologia. A Grab e o GoTo Group da Indonésia continuam a ter perdas.
Na terça-feira anterior, a GoTo cortou sua projeção de prejuízo para 2023 depois de estancar parte do sangramento no último trimestre, levando a empresa indonésia mais perto de sua meta de entrar no azul após uma era de expansão cara.
O que diz a Bloomberg Intelligence
No longo prazo, a Sea não se retirou totalmente dos mercados globais e sua operação na América Latina pode ajudar a impulsionar o crescimento da companhia, disse Nathan Naidu, analista da Bloomberg Intelligence.
“A expansão do comércio eletrônico da Sea na América Latina pode acelerar o crescimento das vendas após uma desaceleração deliberada para atingir o equilíbrio”, escreveu em nota antes dos resultados.
Veja também
- Shein, Shopee, AliExpress e Temu aceleram entregas e avançam sobre varejistas brasileiras
- Comprar na Shopee, mas pelo YouTube: empresas fecham parceria para ampliar e-commerce na Ásia
- Temu, rival de Shopee, Aliexpress e Shein começa operação no Brasil com descontos e frete grátis
- Mais uma gigante chinesa chega ao Brasil para acirrar competição no e-commerce
- Shopee compra unidade de crédito da fintech Blu