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Negócios

Torneira secou para startups? Venture capital cai a menor nível em 6 anos

Segundo estudo da KPMG, modalidade de investimento caiu 67,7% no 1º trimestre de 2023 na comparação anual.

O volume de investimentos em venture capital (capital de risco) no mundo registrou o nível mais baixo nos últimos seis anos no 1º trimestre de 2023, segundo pesquisa divulgada pela KPMG. Os US$ 57,3 bilhões aportados também passaram longe dos US$ 177,6 bilhões atingidos no 1º trimestre de 2022 – o que representa uma queda de 67,7%. 

Os Estados Unidos, que correspondem a mais da metade de investimentos na categoria em todo o mundo, atraíram US$ 31,7 bilhões dos investimentos no período, seguidos por Ásia, com US$ 13,5 bilhões e Europa, com US$ 9,8 bilhões. Todos apresentaram queda no trimestre encerrado em março deste ano, ante o último de 2022.

Venture capital é uma modalidade na qual fundos escolhem empresas fechadas e em estágio inicial para investir. Neste tipo de investimento, quanto menor e embrionária a empresa, maior tende a ser o potencial de crescimento e o retorno do investimento, mas também aumentam os riscos.

Venture capital encolhe 30% no Brasil

Já no Brasil, onde a cifra levantada ainda permanece na casa dos milhões, também houve queda, de cerca de 30%, nos investimentos em venture capital (VC) no 1º trimestre deste ano, em comparação ao último trimestre do ano passado. Foram investidos US$ 163,9 milhões, ante US$ 240,7 milhões no período anterior. 

Essa queda, segundo o estudo, vem sendo sentida muito antes, uma vez que, em 2022, também houve um recuo de 20% quando comparado a 2021.

Investidores estão mais seletivos

Para Rodrigo Guedes, sócio-líder de Equity Capital Markets Advisory da KPMG no Brasil, o resultado visto é uma tendência global, uma vez que os investidores estão neste momento “avaliando melhor cada oportunidade e procurando rentabilidade, em vez de crescimento elevado”.

Em nota da assessoria, Guedes afirma que as avaliações dos investidores estão mais realistas e os aportes mais baixos. “Quando são considerados esses dois fatores, há algumas boas empresas com perfis de crescimento versus retorno, as quais atraíram os investimentos no primeiro trimestre deste ano”.

A fala vai de encontro à do CEO da Captable, Paulo Deitos, ao InvestNews. Segundo o executivo da plataforma de captação de startups no Brasil, os investidores estão se tornando muito mais criteriosos em relação às ideias inovadoras propostas pelas startups que desejam investir. 

“Os investidores e os próprios empreendedores precisam observar o mercado e entender que as startups necessitam de um período de incubação para crescerem”.

CEO da Captable, Paulo Deitos.

Já de acordo com Daniel Malandrin, sócio-líder de Venture Capital e Corporate Ventures da KPMG no Brasil, os maiores desafiados para as startups agora estão no processo de captação, principalmente para rodadas late stage (em fase madura). Segundo ele, uma das razões é a dificuldade de negociar valuation com novos investidores, quando se define o valor da empresa. 

“Enquanto fundadores e atuais investidores gostariam de manter o valuation da última rodada, novos investidores têm dificuldade em aceitar tal condição e têm demonstrado maior preocupação com rentabilidade que nos anos anteriores”.

Daniel Malandrin, líder de VC da KPMG no Brasil

O mesmo foi dito pela Captable, uma vez que acredita-se que o valuation de novas rodadas de captação serão bem menores do que as realizadas em 2021, onde “havia nitidamente uma anomalia de mercado”.

Bolha de investimentos?

O CEO da plataforma relata que aquele foi um ano fora da curva quanto ao volume de investimentos, mas que não chamaria o período de bolha, uma vez que “bolhas explodem e quando retirado 2021 do gráfico, ele continua em ascensão quando analisado o período entre 2020 até 2022. Por isso, o executivo apontou que 2021 deveria ser “expurgado”.

16/11/2014. REUTERS/Marcelo Del Pozo

Logo, para o horizonte do investimento em startups no Brasil e no mundo, é esperado uma racionalização de investidores quanto ao valuation. “O que foi visto dois anos antes, dificilmente será visto novamente no curto prazo”, disse Deitos.

Mas analisando o “copo meio cheio”, ainda é esperado um ambiente promissor para rodadas de captação, inclusive com surgimento de novas gestoras focadas em investimentos de venture capital, segundo o líder de VC da KPMG.

As rodadas de investimento são uma das formas mais comuns de uma startup levantar dinheiro para atingir marcos essenciais e, posteriormente, gerenciar seu crescimento. As empresas de venture capital estão presentes em cada etapa do caminho.

O financiamento ocorre em estágios específicos de desenvolvimento da startup, e há um nome para cada estágio. Pode-se dividir as rodadas de investimento em quatro categorias: pré-seedseed ,serie A e serie B+ .

  • rodada pré-seed é para startups que ainda não possuem um produto finalizado e buscam recursos para desenvolvê-lo
  • Na rodada seed , a startup geralmente ainda precisa de recursos para financiar a validação de sua startup. Os recursos, geralmente, são oriundos de investidores anjo, fundos de venture capital ou uma união de vários players através de crowdfunding.
  • Na rodada da série A (early stage), a startup já tem o produto criado e validado. O intuito dos investimentos é para escalar a ideia e expandir para novos mercados. Neste momento, os aportes costumam vir de fundos de venture capital e investidores institucionais.
  • A próxima fase é a rodada da série B (growth stage). Este é o momento em que o crescimento da empresa já está acelerado e os investimentos servirão para manter a crescente de expansão. 

Obstáculos

Para além da prospecção de investimentos, as startups em fase inicial precisam enfrentar outros obstáculos para conquistar o mercado que está avesso a risco.

E a escassez de recursos, despreparo do mercado, cenário econômico, taxa de juros em alta, dificuldade para prospectar clientes e reputação em cheque dada a baixa maturidade do mercado de venture capital são apenas alguns dos desafios enfrentados pelas startups, segundo a Captable.

“Superar essas barreiras é fundamental para conquistar a maturidade necessária. Empresas hoje de sucesso tiveram que enfrentar esses mesmos desafios para alcançar os resultados atuais”, destacou Deitos.

Caso o cenário de alta nos juros se inverta, é esperado que os investimentos na modalidade retornem – mas talvez não no patamar de antes, ainda mais quanto ao número de rodada de investimentos. “O que se enxergava antes é que numa rodada de R$ 200 milhões, tinha 3 fundos interessados. Hoje, as rodadas são abaixo de 3 dígitos e com muito mais gente investindo. Ninguém tem coragem de parar de investir 100%, mas ninguém tem a coragem de entrar com cheques gigantes”.

Ainda segundo a Captable, hoje, o atual objetivo das startups é crescer com controle de recursos. “Não se queima mais recursos como antes, em especial na captação de clientes”.

Qual o horizonte para as startups?

Segundo estudo da KPMG, investimentos em empresas de consumo e varejo provavelmente devem permanecer baixos, enquanto os setores de energia alternativa e tecnologia limpa, defesa, segurança cibernética e serviços B2B são as áreas mais resilientes de investimento global.

“Os setores da energia alternativa e de tecnologia limpa continuaram a atrair financiamentos significativos em todas as regiões. Já Inteligência Artificial generativa é uma área que poderá ver um pico de investimento”, aponta trecho do relatório.

Imagem ilustrativa

Rodadas de investimento se sobressaem

Apesar da queda nos investimentos em venture capital, houve aumento de cerca de 10% no número de rodadas de investimento no país. Segundo a Sling Hub, foram feitos 70 rounds, o que colocou o mês passado como o segundo melhor do ano em número de rodadas do tipo. Porém, a média mensal de rounds em 2023 (67) é pouco mais da metade da média de 2022 (105).  

“Mesmo com esse resultado positivo, nem os otimistas poderão negar que os resultados de maio contribuem para a noção de estagnação do mercado de startups Latino-Americano e, especialmente, o brasileiro. A torneira secou de vez? Vamos aguardar os próximos movimentos”, apontou João ventura, fundador e CEO da plataforma de inteligência de dados para startups.

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