Quem espera (e insiste) sempre alcança. Quase cinco anos após perder a disputa bilionária pela Linx para a Stone, a Totvs finalmente levou a companhia para casa – e por um valor bem mais camarada. Anunciada nesta terça-feira (22), a compra da Linx saiu por R$ 3,05 bilhões, um deságio de 54% sobre os R$ 6,7 bilhões pagos pela Stone em 2020.

A operação representa a maior aquisição da história da Totvs, superando a compra da RD Station em 2021, e reforça a ofensiva da empresa no setor de varejo, uma de suas frentes mais estratégicas. A transação ainda depende do aval do Cade e de condições usuais para esse tipo de negócio.

Pelo acordo, a Totvs está adquirindo o negócio de software da Linx com caixa líquido zerado — ou seja, o valor de R$ 3,05 bilhões já reflete a entrega da empresa “limpa”, sem endividamento, mas também sem os cerca de R$ 370 milhões que estavam em caixa.

Não haverá pagamento adicional futuro nem cláusulas de earn-out. A transação será financiada com recursos próprios e instrumentos de dívida a serem contratados.

O CEO da Totvs, Dennis Herszkowicz, destacou o movimento como uma “grande e importante expansão” do portfólio da companhia, citando inclusive o uso de inteligência artificial nas soluções futuras.

O que a Totvs leva

Ficaram de fora da transação os ativos considerados não estratégicos pela Totvs, como o Reclame Aqui (do qual a Stone detém 50%), o Linx Pay, a plataforma SimplesVet e uma série de soluções voltadas a nichos mais específicos, como MLabs, Trinks, VHSYS, Dental, Hiper Software e APP Sistemas.

A Totvs optou por levar apenas o núcleo que considera essencial para reforçar sua presença no varejo — segmentos como farmácias, moda, fast food, postos de combustíveis e redes de franquias. A Linx desenvolve sistemas que ajudam varejistas a gerenciar suas operações, do caixa das lojas ao estoque, passando por programas de fidelidade, vendas online e integração com marketplaces.

Para a Totvs, que já atua com softwares de gestão empresarial (os famosos ERPs), a Linx representa uma peça complementar e estratégica: amplia sua presença no varejo e traz uma carteira robusta de clientes, além de um portfólio focado na digitalização da jornada do consumidor.

Em 2024, a Linx somou R$ 1,15 bilhão em receita líquida, sendo mais de 90% desse valor proveniente de receitas recorrentes. O lucro operacional (Ebitda) ajustado ficou em R$ 239 milhões, com margem de 20,9%.

Stone segue a vida

A Stone, por sua vez, continua sua guinada para focar no negócio principal de pagamentos, em uma estratégia em curso do CEO Pedro Zinner de integrar a operação e gerar mais rentabilidade. A transação encerra uma novela iniciada em 2020, quando a Totvs tentou comprar a Linx e foi derrotada pela então estreante Stone no mundo dos M&As.

Desde então, acompanhou à distância o desempenho da empresa sob nova direção, até que a oportunidade de comprar voltou à mesa – desta vez, sem concorrência e com margem de negociação.