O principal investimento por trás do aporte está na importação de eletrolisadores de última ponta, que consomem menos energia elétrica no processo de produção do cloro. A ideia é demandar menos energia durante a eletrólise para decomposição da salmoura, essencial para a produção de cloro e soda cáustica.
Segundo o CEO da Unipar, Rodrigo Cannaval, o novo sistema vai melhorar o nível de produção da unidade de Cubatão, embora não tenha, de fato, uma expansão de capacidade industrial na fábrica.
Hoje, a operação da Unipar em Cubatão é capaz de produzir 355 mil toneladas de cloro por ano. A defasagem da tecnologia usada na unidade, no entanto, ocasionava em perdas de parte desse potencial durante o ano.
O investimento também tem como intuito a adaptação da fábrica aos critérios estabelecidos pela Convenção de Minamata, um tratado global, adotado em 2013 e em vigor desde 2017, que visa proteger a saúde humana e o meio ambiente dos efeitos nocivos do mercúrio, que era utilizado na planta até então. Agora, 100% da produção do local se dará por membrana.
“A capacidade nominal não será alterada. Não obstante, a capacidade disponível, que é aquela que você efetivamente consegue, como temos uma tecnologia mais moderna, isso significa menos paradas da fábrica, então naturalmente a gente vai produzir mais”, afirma Cannaval ao InvestNews. “É uma troca de tecnologias obsoletas para entrar com a planta de clorossoda mais moderna da América do Sul.”

A tecnologia permitirá, nas contas da empresa, a reduzir cerca de 70 mil toneladas de emissões de CO₂ em relação ao ano-base de 2020, graças à diminuição de aproximadamente 40% no consumo específico de energia (térmica e elétrica) para a produção de cada tonelada de cloro. A iniciativa também eliminará 150 toneladas anuais de resíduos industriais.
Saneamento
O investimento da unidade de Cubatão não é por acaso. Com o mercado da construção civil, que demanda PVC, outro produto fabricado pela Unipar, passando por um momento de instabilidade, a empresa quer acompanhar a tendência de propulsão de investimentos do saneamento básico no Brasil.
O cloro é bastante demandado para projetos de saneamento. Já a soda cáustica, também produzida no local, é um insumo crucial para a indústria de celulose.
“O projeto é o maior da nossa história e tem um comprometimento financeiro muito importante”, afirma Cannaval. “Ele endereça uma plataforma importante para o desenvolvimento do mercado de clorados, para a captura desse mercado de saneamento básico que tem boas perspectivas de médio e longo prazo no Brasil.”
O Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020, tem atraído investimentos privados com o intuito de entregar a universalização dos serviços (água potável e esgoto tratado) até 2033, através de concessões, PPPs e maior regulação, estimulando a entrada de novos players do setor privado.
“A Unipar é a maior produtora de ácido clorídrico do Brasil, que é uma matéria-prima importante para o saneamento, por causa do policloreto de alumínio. Esse produto é essencial no tratamento. Também fazemos cloro, que é essencial para o tratamento de água. E fazemos a água sanitária ou hipoclorito, que é outro elemento importante para a higiene e a sanitização”, exemplifica o CEO. “O crescimento orgânico da Unipar, pelo menos dessa unidade, seguramente está conectado com o desenvolvimento do saneamento no Brasil.”
Hoje, a empresa produz cerca de 80% de sua energia por meio de três parques solares e eólicos tocados em parcerias com a Auren e a Engie. Juntos, os três projetos garantem 157 MW médios de energia renovável para suas operações. Eles são posicionados no Rio Grande do Norte, na Bahia e em Minas Gerais.
Pulso firme contra cenário adverso
Com a conclusão da modernização da fábrica de Cubatão, é esperado que a empresa coloque o pé no freio em relação a novos investimentos. Hoje, há um expansão da capacidade para produção de cloro na unidade da empresa em Santo André, São Paulo, outro projeto que tem em vista estar mais conectado à indústria de saneamento. A empresa também pretende produzir mais resinas de PVC em emulsão, de maior valor agregado, no local. “Temos tecnologia para PVC a suspensão e a emulsão. A suspensão dá maior volume, enquanto a emulsão é de maior valor agregado. A gente quer mudar um pouco esse mix e ter uma parcela um pouco melhor no tema de emulsão”, afirma Cannaval.
Régis Cardoso, analista da XP Inc., espera uma redução significativa dos aportes de modernização da empresa para o próximo ano. “Olhando para o futuro, esperamos que o Capex caia acentuadamente em 2026, para cerca de R$ 400 milhões, e depois se normalize a partir de 2027, para cerca de R$ 250 milhões. Supondo que isso se concretize, o FCFE (Fluxo de Caixa Livre para o Acionista) deve voltar a território positivo e os rendimentos podem se tornar mais atraentes a partir de 2026”, afirma ele, em relatório para os clientes.
No terceiro trimestre deste ano, a taxa média de utilização das fábricas da Unipar caiu 3 pontos percentuais, para 77%. A queda é explicada por reduções tanto no Brasil quanto na Argentina (-2 p.p. e -7 p.p. t/t, respectivamente) devido à demanda mais fraca. Os resultados do período foram impactados pela queda dos preços em âmbito global. A soda cáustica recuou 5% no trimestre finalizado em setembro frente a três meses antes, enquanto os preços do PVC caíram 11%, na mesma base de comparação.
A empresa olha com atenção para o novo programa de fomento para a indústria petroquímica, o PRESIQ (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química). Aprovado no Congresso, o tema tem até 19 de dezembro para ser sancionado pelo presidente Lula. Cannaval, o CEO da Unipar, revela já ter projetos para inscrever por meio do novo programa. “Ele [o programa] corrige algumas distorções e habilita investimentos relacionados à sustentabilidade e ao social. Então, basicamente, a gente também vai olhar para essa agenda de implementar projetos relacionados à sustentabilidade para capturar essas oportunidades”, diz ele. “Espero ter boas notícias no fechamento do ano para pensar em qual projeto vamos inscrever nisso para capturar os benefícios num futuro próximo.”
Com foco no controle de gastos, a empresa desconversa sobre possíveis M&As. Em agosto, a rival Braskem informou que iniciou conversa com a Unipar Carbocloro sobre potenciais oportunidades envolvendo ativos ou participações societárias da companhia e de suas subsidiárias. Na época, especulou-se que a negociação seria em torno dos ativos da Braskem nos EUA.
“A gente vem se estruturando, seja nos alongamentos de dívida, seja trabalhando a nossa performance. É muito importante num ciclo de baixa você ter boa performance, ter higidez financeira, ter a empresa sob controle… Esse preparo habilita a Unipar a estar sempre observando as movimentações do mercado. A gente olha toda e qualquer oportunidade que estiver no mercado. No dia que encontrar aquela que fizer sentido, faremos os passos necessários”, resume o CEO da Unipar.