Câmeras capazes de criar imagens tridimensionais dos atletas. Análise estroboscópica inteligente do mergulho na água, da corrida na pista de atletismo e do duplo twist carpado na ginástica, para os espectadores compreenderem a biomecânica dos movimentos. E muito mais: a inteligência artificial abre as portas das Olimpíadas de Paris, prometendo revolucionar a forma de ver e entender o esporte.
Veja abaixo dez maneiras como a IA estará presente nas Olimpíadas de Paris 2024:
1- Cerimônia de abertura por todos os ângulos
O evento desta sexta-feira (26), que inaugura os Jogos de Paris-2024, terá celulares de última geração com câmeras de alta definição acoplados nos barcos das delegações durante a cerimônia de abertura no desfile pelo rio Sena, em Paris. A missão será capturar e transmitir toda a emoção dos atletas.
Esta será uma das novidades que IA vai proporcionar nesta sexta-feira (26), quando começam as Olimpíadas de Paris.
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2- Transmissão inteligente
A Intel irá usar os seus processadores Xeon e aceleradores de IA como o OpenVINO para fornecer transmissões dos eventos esportivos em 8K e usará a IA para produzir recortes automáticos, transcrições e traduções de entrevistas, legendas em tempo real, auxiliando os jornalistas na busca de conteúdos relevantes.
A automação por meio da IA permite que emissoras levem conteúdo digital aos telespectadores com mais rapidez do que nunca.
A geração automática de destaques da Olympic Broadcasting Services (OBS), treinada na plataforma da Intel, poderá produzir conteúdos personalizados em diversas modalidades e distribuí-los instantaneamente para diversos países.
3- Conteúdo hiper-personalizado
A rede norte-americana NBC, por meio de seu canal de transmissão Peacock, vai passar a criar conteúdos próprios, em vez de selecionar um conteúdo já pronto, de acordo com o interesse do seu assinante com o uso da IA.
A NBC vai usar um “deepfake” do seu apresentador principal, Al Michaels, que vai trazer um resumão do dia específico para cada assinante, dependendo dos interesses.
Já a Alibaba vai fornecer com a ajuda da IA um número recorde de sistemas de replay multicâmera de alta qualidade e alimentada na nuvem, para criar modelos tridimensionais e mapeamento de pontos de vista adicionais em 21 dos 45 esportes olímpicos. Isso proporcionará replays mais atraentes de mais ângulos de câmera.
4- Captação de dados biométricos
A IA da Intel também irá processar em tempo real dados de vários sensores biométricos dos atletas participantes e outros sensores implantados durante o evento. O público terá acesso a informações sobre o desempenho e detalhes da biomecânica dos movimentos dos esportistas.
5- Rastreamento dos competidores
A Omega, responsável pela cronometragem das competições olímpicas, vai usar a IA para gerar gráficos de dados aprimorados sobre o desempenho de cada atleta. A tecnologia de rastreamento de movimento baseada em IA irá acompanhar as posições dos atletas durante as provas de canoagem, maratona, marcha atlética, ciclismo de estrada, mountain bike, maratona aquática, remo, vela e triatlo.
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6- Proteção de ataques aos atletas nas redes sociais
As redes sociais dos atletas e dirigentes que vão participar da Olimpíadas de Paris estarão sob vigilância da IA para detectar e bloquear ataques pessoais e ofensas nos comentários. O COI usará a IA para monitorizar centenas de milhares de contas de redes sociais e sinalizar mensagens abusivas para intervenção das plataformas. A IA também será usada no monitoramento do público para reforçar a segurança contra qualquer atividade suspeita.
7- Apoio virtual aos atletas
Os atletas credenciados poderão ter acesso à plataforma Athlete365 desenvolvida pela Intel, um chatbot para tirar dúvidas sobre relacionamento com a mídia, controle antidoping, protocolos oficiais e outras informações relacionadas às competições, além de oferecer acesso a imagens dos eventos das Olimpíadas.
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8- Apoio no julgamento da ginástica
Os juízes da ginástica artística terão ajuda da IA no Sistema de Apoio ao Julgamento (JSS, na sigla em inglês) para terem acesso com mais precisão aos movimentos feitos nas competições por meio de imagens tridimensionais dos saltos desenvolvidos pelos ginastas.
O sistema JSS usa até oito câmeras de alta definição posicionadas em cada aparelho para capturar uma visão tridimensional do desempenho de um ginasta. As imagens permitem uma análise em tempo real das articulações dos atletas e a comparação dessas posições com os padrões de elemento definidos no Código de Pontuação.
9- Identificação de talentos
A Intel e a Samsung implementaram um sistema de identificação de talentos alimentado por IA que os participantes poderão testar no Stade de France, o estádio onde serão realizadas as competições de atletismo.
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Funciona assim: com os smartphones, tablets e tecnologia de visão computacional da Samsung e a IA baseada em nuvem da Intel, os participantes podem realizar vários exercícios relacionados a diversos esportes e depois receber sugestões da Intel sobre qual modalidade olímpica devem praticar.
10- Interação com o público
Na busca por maior engajamento com os fãs, a IA poderá analisar dados históricos de desempenho de um atleta, métodos de treinamento e a presença deles nas redes sociais para gerar perfis detalhados.
A tecnologia também poderá identificar e gerar vários conteúdos reunindo momentos importantes de vários esportes, permitindo assim que os espectadores tenham uma experiência única.
IA cada vez mais presente
O consultor de inteligência artificial Pedro Burgos, autor da série de vídeos “Inteligência Artificial: modo de usar”, de InvestNews, explica que para a maioria dos espectadores, vamos ver uma evolução do que já temos em transmissões de esportes populares, como futebol ou tênis, com mais informações em tempo real, tipo velocidade da bola, distância percorrida dos jogadores, bola fora ou impedimento, etc. “Alguns desses avanços foram possíveis graças a novos modelos de visão computacional (como esse da Meta) desenvolvidos nos últimos dois anos”, afirma.
“Esses detalhes capturados apenas por máquinas também serão usados pela primeira vez em modalidades em que juízes devem analisar detalhes da performance, como ginástica olímpica ou nado sincronizado. Isso pode diminuir as injustiças, mas há um risco de diminuir o julgamento subjetivo de uma grande apresentação.”
Como a IA interfere na preparação dos atletas?
Burgos destaca que a “IA clássica, que transforma uma série de informações em modelos predicativos, tem sido usada por uma variedade de atletas para coisas como desenvolvimento de um equipamento específico adaptado ao atleta, no ciclismo ou corrida, até rotinas de treinamento na natação”.
À medida que é mais fácil criar sensores e capturar informações em câmeras, é esperado que a preparação seja cada vez mais dirigida por dados.
Em abril deste ano, o Comitê Olímpico Internacional (COI) lançou a Agenda Olímpica IA para definir como o uso da inteligência artificial pode ser explorado para ajudar a desenvolver o esporte olímpico.
No discurso, Thomas Bach, presidente do COI, destacou que ela pode ajudar a identificar atletas e talentos em todos os cantos do mundo.
A Agenda Olímpica IA conta com cinco pilares:
- Apoiar atletas, jogo limpo e esporte seguro
- Ter igualdade de acesso aos benefícios da IA a todos os países membros
- Otimizar operações da Olimpíadas e Paralimpíadas com foco na sustentabilidade
- Alcançar maior engajamento com o público
- Impulsionar a eficiência em toda a gestão do COI e do esporte
“Além do desempenho desportivo, a IA pode revolucionar o julgamento e a arbitragem, fortalecendo assim a justiça no esporte”, disse Bach, ressaltando, porém, que ela não vai substituir o ser humano.
“Os 100 metros sempre terão de ser corridos por um atleta.”
Thomas Bach, presidente do comitê olímpico internacional (Coi)
Transmissão personalizada traz desvantagens?
Pedro Burgos destaca ainda que experiências de IA generativa para gerar conteúdo em massa personalizado para cada consumidor acende o debate sobre até que ponto a tecnologia pode interferir na relação do espectador com o esporte.
No caso do “narrador virtual”, que vai aparecer em um noticiário personalizado com voz e vídeo sintéticos, ele ressalta que se trata de “uma amostra de que a gente pode estar saindo de um feed organizado por algoritmos — que seleciona conteúdo já pronto de acordo com preferências — para uma nova fase, hiper-personalizada, de conteúdo produzido de acordo com o que cada espectador gosta”.
O engajamento pode aumentar, segundo ele, mas outros efeitos menos desejáveis também podem ser sentidos.
“O risco aqui é deixar as pessoas ainda mais isoladas em seus gostos. A graça de eventos mundiais como Olimpíadas é fazer todo mundo prestar atenção em algo que não estava esperando prestar — do skate ao judô, criando narrativas comunais. Perder isso é perder algo que nos faz humanos.”
pedro burgos, consultor de inteligência artificial
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