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Ações ESG reduzem desigualdades e impacto ambiental além de gerar lucro

O bom desempenho de empresas que implementam a agenda ESG pode ser o primeiro passo para superação do atual modelo capitalista?

ESG e dinheiro

Qualificar as ações de ESG é uma realidade que cada vez mais traz resultados e o mercado visualiza como uma ferramenta de valorização corporativa. Não é por acaso que mais da metade das empresas brasileiras planeja investir em ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), de acordo com estudo realizado pela consultoria Grant Thornton, uma das maiores empresas globais de auditoria, consultoria e tributos.

A partir dessa pesquisa realizada em nível global, que também traz um recorte com 255 empresas brasileiras, dados revelam que 54% destas manifestam a intenção de, nos próximos 12 meses, realizarem investimentos em projetos ligados a ESG. Destas empresas, 39% das entrevistadas já têm planos estratégicos, que incluem a abordagem ambiental, social e de governança, em desenvolvimento.

Outro dado muito importante em relação ao recorte brasileiro do estudo é a ordem das prioridades nessa área. O empresariado brasileiro ouvido na pesquisa indica que 47% priorizam o pilar ambiental, em segundo lugar vem o social (29%) e, finalmente, o de governança (16%).

O que esses resultados indicam é, também, uma resposta a uma pergunta que paira em relação às ações de ESG: além de ser bom para o meio ambiente e para as pessoas discriminadas no mercado de trabalho, essas políticas dão lucro? Quando mais da metade das empresas brasileiras já estão caminhando em relação a essas práticas, fica mais fácil responder, por que se há algo que empresas não querem – e não podem – é perder dinheiro ou oportunidades de investimentos.

A concretização e resultados do que se faz no âmbito do ESG passam a ser critério na captação de investimentos não apenas para “fazer bonito”, os índices demonstram que é fonte de rentabilidade e valorização. Docentes da Harvard Business School fizeram uma análise de retornos – num período de 20 anos – de 2.307 empresas com destaque por práticas ESG. Esse estudo demonstra que as companhias tiveram um retorno adicional de 9% ao ano para o acionista.

Lucratividade e práticas da agenda ESG são plenamente compatíveis. Fábio Alperowitch, gestor da Fama Investimentos, especialista em ESG no Brasil, afirma que “as empresas mais responsáveis são também mais rentáveis.”, e exemplifica: “As empresas mais conhecidas como responsáveis e sustentáveis, como Klabin, Natura e Fleury, são companhias que estão o dia todo pensando em como ganhar mais dinheiro” 

As pesquisas consolidam tendências, indicando que o ESG avança do modismo para a realidade de forma sólida, estabelecendo um cenário em que o mercado, investidores e formadores de opinião passam a pressionar o mundo corporativo e reforçam a demanda por práticas sustentáveis. O lucro sem responsabilidade social e ambiental já passa a ser questionado e, inclusive, a ausência de compromisso com essa agenda pode resultar em perdas.

A competitividade é agregada com a responsabilidade, deixando de ser tendência para ser um pré-requisito na compra de produtos, na valorização da imagem pública das empresas, como critério para investimentos na esfera do mercado financeiro. Essa virada de chave traz uma grande esperança de mudança. A mentalidade capitalista da mais valia, do lucro como maior (único) objetivo, vai sendo mediada pela formação desse novo viés, em que lucro e responsabilidade social deixam de ser fatores discrepantes. 

O Paradoxo do Capitalismo

Ao longo da história da humanidade existiram vários modos de produzir bens sejam eles alimentos, roupas ou veículos. Podemos citar o modo de produção asiático, escravista, feudal e capitalista.

No capitalismo, o motor das relações produtivas e sociais é o dinheiro. Para que este possa circular, o capitalismo transforma tudo em mercadoria. A fim de estimular que as pessoas consumam, o capitalismo cria necessidades e desejos, para que os indivíduos continuem consumindo e gastando seu dinheiro.

Com esta mentalidade, tudo aquilo que não traz lucro, mesmo que resolva uma necessidade, é descartado. Por outra parte, aquilo que dá lucro, mesmo que seja nocivo aos indivíduos, é explorado.

“Paradoxalmente, o capitalismo vai cada vez mais longe, justamente por não se dirigir – especificamente – a lugar algum. O mercado não tem um objetivo global, ele não é nada mais do que o encontro de uma variedade indiscriminada de objetivos individuais que buscam se realizar simultaneamente todo o tempo. Cada qual deseja realizar sempre mais. Nesse fluxo, sem limites intrínsecos, o capitalismo precisa dispor de limites externos para se conter. Ao contrário disso, vai sempre querer se expandir.

Por ser eminentemente parasitário, o sistema capitalista só consegue prosperar se encontra um organismo, ainda não explorado, que lhe forneça alimento. No entanto, não é capaz de fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, o que resulta na destruição, paulatina, das condições de prosperidade e de sobrevivência deste. Esses limites a serem interpostos hoje pela sociedade globalizada cidadã ao capitalismo e ao mundo das organizações empresariais são de natureza jurídicos-políticos ou institucionais-legais, morais e éticos. 

São limites que devem ser estabelecidos sobre o sistema capitalista em si, também, portanto, sobre as organizações empresariais, seus braços constitutivos. As organizações empresariais irão tão longe quanto puderem na busca da riqueza, se não forem limitadas moral e socialmente em seu expansionismo sobre a utilização dos recursos naturais disponíveis. ”, explica Wagner Siqueira, presidente do Conselho Federal de Administração.

Não podemos esperar que o mercado e investidores desenvolvam limites para com seus desejos expansionistas. Seria como pedir consciência ao traficante de escravos e invasores do continente Africano. São necessárias ordens externas que lhes imponham limites e regras. Estes só podem ser feitos, por meio da pressão cidadã, do direito e da política.

Das Mudanças

Trata-se de uma mudança de paradigma diante da máxima liberal, de que o objetivo de uma empresa deveria ser gerar lucro para garantir retorno ao acionista. Essa ideia, começou a ficar obsoleta quando a Organização das Nações Unidas, sob a batuta do secretário-geral Kofi Annan, estabeleceu os pilares do desenvolvimento sustentável.

Um levantamento do Instituto Akatu e a GlobeScan acerca das percepções de consumidores em 27 países revela que, em nosso país, mais de 70% dos consumidores esperam que as empresas não agridam o meio ambiente e mais de 60% querem que as empresas estabeleçam metas para tornar o mundo melhor. 

“A sustentabilidade está na nossa estratégia, alinhada às expectativas de clientes, acionistas, fornecedores, colaboradores e sociedade, nos aspectos ambientais, sociais e de governança. Com o Vivo Sustentável – um dos nossos pilares de negócio – damos um olhar consciente para os impactos das nossas atividades e as conexões que construímos com o planeta. Assumimos, assim, o protagonismo para dialogar sobre diversidade, cuidado com o meio ambiente e uso consciente da tecnologia, por exemplo. Tudo isso, apoiado na relevância, na liderança e na credibilidade da nossa marca, que tem como propósito digitalizar para aproximar. ”, ressalta Christian Gebara, presidente da Vivo

As pesquisas, os estudos, esses resultados que reforçam um novo caminho para as práticas de mercado, fazem se consolidar a emergência de uma novo fazer produtivo. Não podemos, ainda, dizer que é o fim do capitalismo, mas podemos afirmar que há uma remodelagem em curso, e que nesse novo modelo há espaço para práticas que buscam beneficiar um maior número de pessoas do que antes. Pois sabemos que os benefícios do capitalismo não são equitativamente distribuídos no conjunto da população e das nações.

As iniciativas de reparação, inserção social de grupos historicamente discriminados, governança, pró meio ambiente, equidade racial e de gênero estão nessa esfera de busca de justiça social, mesmo no âmbito capitalista, ao qual pode ser agregado valor inédito.

Recursos que eram aplicados em outras áreas e que, agora, tem alocação nessas práticas, com retornos financeiros, de imagem, sociais, ambientais e de governança, agregam valor. Em tempos tão difíceis e de extrema polaridade, nos faz refletir sobre nossas escolhas como sociedade e as mudanças profundas que se anunciam. Precisamos muito delas para chegar à justiça social e racial que esse país e sua população exigem e precisam.

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