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Tecnologia

TSMC e ASML, as ‘coadjuvantes’ da Nvidia, vivem boom em 2024

A produtora de chips superpoderosos e a fabricante das máquinas que fazem esses chips sobem mais de 30% no ano

Quem não passou 2023 fazendo um sabático em Júpiter, sabe bem: a Nvidia disparou 239% no ano passado. Já TSMC e a ASML, que formam a “tríade mágica” da IA com a bombada fabricante de GPUs, tiveram desempenhos bem mais modestos: 39% e 38,5%, respectivamente.

Em 2024 isso começa a mudar de figura. Com o primeiro trimestre ainda em andamento, o desempenho das duas está chegando perto ao do ano passado inteiro: mais de 30% para cada uma.

A Nvidia ainda segue numa realidade paralela. Fato. Ela vive 86% de alta em 2024. Como a escalada recente já vem de um patamar alto de preço, a variação da Nvidia em 12 meses soma mais de 500% – feliz de quem apostou suas fichas ali em março do ano passado, e não vendeu no meio do caminho.

Hora de entender um pouco melhor porque essas três companhias formam a tríade da IA.

A tríade mágica

Nvidia, dos EUA, TSMC, de Taiwan, e ASML, da Holanda, formam a cadeia de suprimentos da qual dependem todos os “grandes modelos de linguagem” (LLM’s na sigla em inglês), classe de software da qual o ChatGPT e seus primos fazem parte.

Na corrida do ouro da IA, então, são elas que fabricam as pás e picaretas – ou seja, as ferramentas necessárias para as empresas que tentam um lugar ao sol nessa seara (todas as big techs, para começar).

Sede da TSMC antes da divulgação de resultados. Crédito: An Rong Xu/Bloomberg

A Nvidia, claro, é a mais conhecida da trinca. São dela os chips superpoderosos que viabilizam o processamento de dados das inteligências artificiais. A empresa inventou, no final do século passado, as GPUs (Unidades de Processamento Gráfico). São chips especializados em processamento gráfico, capazes de lidar com milhares de pequenas tarefas ao mesmo tempo. Eles já existem desde o final do século 20. O pulo do gato: as GPUs mais modernas se mostraram especialmente úteis para desenvolver LLMs.

Como só a Nvidia tem a fórmula para produzir as melhores GPUs do universo conhecido, e a IA parece estar para a era da informação como o tear a vapor esteve para a Revolução Industrial, ela reina na bolsa.

Mas sem a taiwanesa TSMC não haveria Nvidia. É ela quem transforma os bolachões de silício em chips especialmente avançados, que formam os cérebros das IAs.

E sem a holandesa ASML não haveria nada do que já foi descrito aqui. Enquanto a Nvidia desenha os chips que são fabricados pela TSMC, a ASML produz as “impressoras de chips” – caríssimas e complexas máquinas de litografia que a TSMC compra para fabricar seus circuitos.

Dizendo de outra forma, a ASML é fornecedora da TSMC que é fornecedora da Nvidia. Todas são líderes nos seus respectivos mercados e constituem a espinha dorsal da IA as we know it. Vamos dar um zoom extra agora e olhar para cada uma delas mais de perto.

TSMC

A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company é a inquestionável líder mundial na fabricação dos chips mais avançados, e necessários, para as grandes empresas de tecnologia – não apenas as que lidam com IA, mas com qualquer coisa de ponta.

Especialistas frequentemente colocam a TSMC como uma empresa que está entre 5 a 10 anos à frente dos concorrentes em termos de capacidade tecnológica, o que transformou a companhia em um ativo geopolítico valioso.

Apesar da pressão dos Estados Unidos para que fábricas da TSMC sejam instaladas por lá, a empresa continua a priorizar a nação insular nos seus investimentos. Das suas 18 fábricas, só uma está nos Estados Unidos.

Assim, Taiwan transformou a TSMC em uma espécie de “escudo” contra a China. Como seria um pesadelo para os EUA que a tecnologia da fabricante de chips caísse nas mãos dos chineses, os americanos já sinalizaram, mais de uma vez, que defenderiam militarmente Taiwan no caso de uma invasão.

Este risco geopolítico já fez com que Warren Buffet zerasse sua posição na TSMC apenas sete meses depois de ter investido US$ 4,1 bilhões em ações dela. A saída de Buffet, em 2022, assustou investidores pelo mundo, mas a disparada da Nvidia ajudou na recuperação das ações da companhia, que vem rolando desde então.

Parte da vantagem da TSMC sobre as concorrentes parece minúscula porque se mede em nanômetros, ou seja, um milímetro dividido em um milhão de partes. Para dar uma ideia melhor: se você dividir o diâmetro de Marte por um milhão, o planeta vermelho ficaria do tamanho de uma bola de basquete. Respeite os nanômetros.

Bom, mede-se em nanômetros (nm) o tamanho dos transistores individuais de um chip. Quanto menores eles são, mais transístores você coloca lá dentro, e maior fica a capacidade de processamento deles (os melhores chips de hoje abrigam 200 bilhões de transístores).

Wafer de silício de 12 polegadas feito em fábrica da TSMC, em Taiwan. Divulgação/TSMC
Wafer de silício de 12 polegadas feito em fábrica da TSMC, em Taiwan. Divulgação/TSMC

A empresa de Taiwan é líder absoluta na produção de chips com tecnologia de 5 nm a 3 nm – domina 90% desse mercado. Em 2025, ela pretende se tornar a primeira a produzir em massa chips com transístores de 2 nm.

No último trimestre de 2023, a TSCM apresentou receita de US$ 19,6 bilhões, uma queda de 1,5% na comparação anual, mas acima das expectativas do mercado.

Nos últimos 12 meses, as ações da taiwanesa sobem 52%. Só em 2024, dada a renovação das apostas em IA, 35%.

ASML

A ASML, cuja sede fica nas cercanias de Eindhoven, na Holanda, monopoliza as tecnologias mais avançadas em litografia de chips. Significa o seguinte: ela fabrica as máquinas que, por sua vez, produzem chips. Nesse caso, os processadores mais avançados, de 5 nm, 4 nm e 3 nm. Se você tem um iPhone 15 Pro, saiba que o processador de 3 nm dele foi impresso (pela TSMC) numa máquina da ASML.

As ações da empresa são constantemente apontadas por analistas como uma opção mais vantajosa para o investidor que até aqui ficou de fora do boom das empresas de IA e considera que ações da Nvidia, por exemplo, estão caras demais.

Não que a ASML seja a pechincha das galáxias. O valor de mercado da companhia já está bem próximo dos US$ 400 bilhões, o que faz dela a empresa de tecnologia mais valiosa da Europa e um orgulho nacional na Holanda. Por outro lado, a companhia tem um problema político nas mãos.

Representação do caminho feito pelos raios de uma máquina EUV que produz chips com tecnlogia de 7 e 5 nanômetros. Divulgação/ASML

As eleições legislativas de novembro de 2023 foram vencidas pelo Partido para a Liberdade, do líder de extrema-direita Geert Wilders, cuja plataforma é abertamente antimigração. Um problema e tanto para a ASML, que tem 40% do seu quadro de funcionários composto por estrangeiros.

O temor dos políticos locais é que a ASML passe a investir em outros países europeus, e há boatos de que novas instalações, na França, estariam nos planos da empresa – o que não foi confirmado.

Seja como for, o fato é que o faturamento da empresa cresceu 30% no ano passado. Nos últimos 12 meses, as ações sobem 55%. Só em 2024, 35%.

Nvidia

Entre os clientes da fabricante californiana de GPUs, estão Microsoft, Tesla, Alphabet e Amazon, sendo que essas três últimas já foram ultrapassadas pela Nvidia em valor de mercado. Com um market cap de US$ 2,3 trilhões, ela só está atrás da Microsoft (US$ 3,2 tri) e da Apple (US$ 2,7 tri) no seleto ranking das empresas mais valiosas do mundo.

Enquanto concorrentes como Intel tentam correr atrás do prejuízo e contam com a ajuda do governo americano para isso, a Nvidia tem demonstrado fôlego para seguir jogando praticamente sozinha no ramo da IA.

Na última segunda-feira (18), a companhia fez barulho no anúncio da nova família de chips, batizada de Blackwell. Eles têm 208 bilhões de transistores, podem ser até 30 vezes mais rápidos que os da geração atual e, claro, vão custar muito caro quando chegarem ao mercado, ainda este ano. Segundo Jensen Huang, CEO da Nvidia, entre US$ 30 mil e US$ 40 mil cada um – o dobro dos de hoje.

O robusto balanço final de 2023 também ajudou a dissipar o temor – pelo menos por enquanto – de que a ascensão estratosférica das ações da companhia constitui uma bolha. No trimestre final do ano passado, a empresa superou as expectativas e atingiu US$ 6,05 bilhões em receita, graças à alta demanda por suas GPUs para inteligência artificial.

Nos últimos 12 meses, suas ações sobem 532%. Só em 2024, 86%, o que faz dela o vértice mais brilhante da Santíssima Trindade da IA. Mas, como vimos aqui, também vale acompanhar de perto os outros dois.

NVIDIA (Imagem de Jacek Abramowicz por Pixabay)
Chip da Nvidia Pixabey/Jacek Abramowicz

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