Um grupo de investidores se reuniu no escritório do Morgan Stanley, em Nova York, para ouvir a proposta de venda da dívida do X, ansiosos para participar do que antes Wall Street havia evitado. Os telefones celulares foram proibidos no evento, e o público foi instruído a ficar sentado até que a executiva-chefe do X, Linda Yaccarino e outros executivos deixassem a sala após breves comentários — e sem responder as perguntas dos presentes.
Os bancos planejavam vender US$ 3 bilhões em títulos, a US$ 0,95 por dólar. Mas acabaram vendendo mais de US$ 10 bilhões a preços ainda mais altos.
Foi uma prova da capacidade do X de trazer os anunciantes de volta à plataforma, com a ajuda, em grande parte, da proximidade do proprietário da plataforma, Elon Musk, com o presidente Donald Trump.
Havia ainda a possibilidade de que o X um dia se fundisse com uma empresa mais interessante e ascendente, a xAI de Musk. Em reuniões privadas com Wall Street, executivos do X disseram que existia uma chance de que a plataforma pudesse acabar se fundindo com a empresa de inteligência artificial de Musk, que produz o chatbot Grok.
O bilionário disse que nunca perdeu dinheiro para os investidores, mas por muito tempo parecia que isso aconteceria com o X. Depois que Musk o comprou em 2022, os anunciantes fugiram devido a preocupações com a moderação de conteúdo, e os empréstimos se complicaram com a queda da receita. Um mês depois de assumir, Musk disse que a empresa — anteriormente conhecida como Twitter — estava à beira da falência.
Então, no final do mês passado, Musk postou no X que estava fundindo a empresa com a xAI em um acordo que avaliou a empresa recém-combinada em mais de US$ 100 bilhões.
X na mira da IA generativa
Incluir o X em uma empresa maior que participa de uma corrida global para desenvolver ferramentas sofisticadas de IA generativa pode abrir as portas para levantar dinheiro em uma avaliação considerada impossível há apenas alguns anos.
A fusão encerra uma série de eventos — alguns estratégicos, outros fortuitos — que ajudaram Musk a anunciar um acordo antes que as tarifas de Trump efetivamente fechassem o mercado para os negócios.
Também aproxima Musk de seu objetivo de longa data de transformar o X em um “aplicativo de tudo”, onde as pessoas podem compartilhar notícias, pagar suas contas e se divertir.
A empresa está focada em incorporar o chatbot da xAI, o Grok, ao X, tornando-o mais central para a experiência do aplicativo, semelhante à forma como o Google integrou recursos de IA na pesquisa, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.
Um porta-voz do X não quis comentar e um porta-voz da xAI não respondeu aos pedidos de comentários.
Queda de receita do X
Musk emprestou US$ 13 bilhões para concluir as negociações com o Twitter em 2022 e os empréstimos rapidamente deram errado quando os anunciantes sumiram.
Ele tentou persuadir as marcas envolvidas a retornar, oferecendo grandes descontos. Também ameaçou os anunciantes, dizendo que eles perderiam a verificação, se não gastassem o suficiente.
A receita da empresa caiu para US$ 3 bilhões em 2023, de cerca de US$ 4,6 bilhões no ano anterior, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. E, no início de 2023, a gestora de ativos Fidelity avaliou-a em cerca de um terço do que Musk pagou por ela.
O X recebeu um impulso da xAI, a startup que Musk fundou em 2023 para competir com a OpenAI, empresa que ele deixou após uma disputa por poder.
Além disso, a empresa de Musk teve uma participação de 25% na nova companhia, como compensação por fornecer os chips e outros hardwares cruciais necessários para construir modelos de IA.
Essas ações rapidamente se tornaram um dos ativos mais valiosos no balanço patrimonial do X, à medida que a avaliação da startup disparava.
Musk se une a Trump
Então, no ano passado, Musk se aproximou de Donald Trump, assumindo um papel de destaque na campanha presidencial. Essa proximidade com Trump ajudou a persuadir alguns anunciantes a retornar.
Embora a receita do X tenha caído novamente em 2024 para cerca de US$ 2,6 bilhões, ela cresceu no último trimestre do ano, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Isso porque a empresa cortou custos agressivamente.
Musk e seus conselheiros há muito pensavam em reunir o X e a xAI, mas após a eleição esses planos se aceleraram. Para isso, sabiam que teriam de executar com sucesso várias transações, na ordem certa — e ter um pouco de sorte.
Com a ascensão de Musk após a eleição, o X adotou uma nova abordagem para aumentar a renda com anúncios.
Em dezembro, um advogado da plataforma ligou para um advogado do conglomerado de publicidade Interpublic Group (IPG), sugerindo que seu acordo de US$ 13 bilhões anunciado recentemente para se fundir com a rival Omnicom Group poderia enfrentar problemas do governo Trump, dado o papel poderoso de Musk, informou o Wall Street Journal. O IPG assinou um novo acordo anual com o X para possíveis gastos de clientes.
Outros anunciantes começaram a aumentar seus gastos, incluindo a Amazon.com.
A narrativa em torno do destino do X ia mudando rapidamente e Musk viu uma oportunidade de vender bilhões de dólares em dívidas da plataforma que antes eram pouco atraentes.
Esses empréstimos ficaram nos balanços dos bancos por mais de dois anos e alguns os marcaram em cerca de US$ 0,60 por dólar.
Os bastidores da retomada do X
Investidores como Pimco e Citadel concordaram em comprar US$ 5,5 bilhões em empréstimos a US$ 0,97 por dólar, muito mais do que os US$ 3 bilhões que os bancos planejavam vender. Eles venderam mais US$ 4,7 bilhões.
Até então, o X e a xAI estavam se tornando cada vez mais interligados. O X detinha uma participação de 10% na xAI (diluída de 25% por aumentos de capital), e a empresa de IA paga centenas de milhões de dólares à empresa de rede social para treinar seus modelos a partir dos dados do X, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Isso foi crucial para ajudar o X a pagar suas contas.
A ideia de reunir as duas empresas fazia cada vez mais sentido. Os crescentes fluxos de caixa do X vindos de anunciantes significam que a xAI poderia usar esse dinheiro para ajudar a financiar os investimentos necessários para os data centers.
US$ 900 milhões para o X
As bases também foram lançadas internamente. Musk nomeou vários trabalhadores como funcionários duplos do X e da xAI, incluindo dois executivos de engenharia, em um anúncio feito em janeiro.
Então, no início de março, o X levantou cerca de US$ 900 milhões de investidores, novos e já existentes, em uma avaliação um pouco acima de seu preço inicial de aquisição. O aumento redefiniu o valor da empresa, colocando-a mais alinhada com a situação em que estava quando Musk comprou o Twitter.
Pouco antes do anúncio da fusão, Musk falou em uma cúpula organizada pelo presidente do banco de tecnologia global do JPMorgan, Madhu Namburi, em Big Sky, em Montana, refletindo sobre os primeiros dias após a aquisição do Twitter.
Ele se gabou para uma multidão que incluía Ivanka Trump, o ex-CEO da Alphabet Larry Page, o CEO da OpenAI, Sam Altman, e o czar das criptomoedas de Trump, David Sacks, de que a avaliação do X era maior do que quando ele o comprou e que a empresa era muito mais lucrativa.
Comparou os difíceis cortes que teve de fazer com seu trabalho atual no Departamento de Eficiência Governamental.
Musk anunciou a fusão com um post no X em 28 de março, dizendo que avaliou a xAI em US$ 80 bilhões e o X em US$ 33 bilhões, excluindo dívidas. “Este é apenas o começo”, escreveu ele.
Traduzido do inglês por InvestNews
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