Depois de um ano, as primeiras pessoas que compraram os óculos de realidade mista Vision Pro da Apple têm um sentimento comum: arrependimento. “Está só acumulando poeira”, disse Dustin Fox sobre seu headset, que parece óculos de esqui futuristas. “Acho que usei eles apenas quatro vezes no último ano.” O dispositivo custa US$ 3.500 (cerca de R$ 20 mil) e, no caso de Fox, fica em uma caixa com outros aparelhos que ele não usa mais. 

O Vision Pro foi lançado em fevereiro de 2024 com grande potencial. Foi o primeiro grande lançamento da Apple em anos. É o primeiro dispositivo que você olha através dele e não para ele. A digitação pode ser feita no ar. Mas os compradores que os usaram em situações ao ar livre dizem que só ganharam olhares de reprovação e dores no pescoço. Agora, os dispositivos são lembretes diários de sua coragem descabida.

Fox, corretor imobiliário em Centreville, na Virgínia, quis adquirir o Vision Pro assim que ele foi lançado. “Fico como um garotinho quando algo novo é lançado”, disse ele.

O homem de 46 anos pensou em usá-lo para trabalhar. Então, colocou-o na cabeça. “É pesado demais”, disse Fox sobre o dispositivo, que pesa pouco mais de meio quilo. “Não consigo usá-lo por mais de 20 ou 30 minutos sem machucar meu pescoço.” 

Poucos apps

Tovia Goldstein estava animado para usar seu aparelho para assistir a filmes e programas de TV. Mas acabou precisando fazer pausas. “Depois de 60 minutos, você não aguenta mais, você tem que retirá-lo”, disse. Ele não toca no aparelho há quatro meses.

O peso não é o único problema para o nova-iorquino de 24 anos. “Também não há aplicativos suficientes para tornar o Vision Pro vantajoso”, disse ele. 

De vez em quando, Goldstein pensa em tirar o headset do armário e dar uma olhada para ver se há algum aplicativo novo. Mas a dor no pescoço que sente, somada aos três minutos dolorosamente longos que leva para conectar a bateria e esperar que ele ligue, o fazem pensar duas vezes. 

“Eu não recomendaria a ninguém que o comprasse, a menos que você seja muito rico e não saiba o que fazer com seu dinheiro”, disse ele.

Reviravolta decepcionante

Nenhum player no setor de realidade virtual ainda descobriu como impulsionar a adoção generalizada da tecnologia. A Apple não divulga quantos dispositivos vendeu. A empresa tem tido dificuldade para convencer desenvolvedores a criar aplicativos para o Vision Pro, colocando seu sucesso em risco, segundo o The Wall Street Journal. A Apple não quis comentar.

É uma reviravolta decepcionante em relação ao alarde que acompanhou o lançamento do headset no ano passado, quando o CEO Tim Cook cumprimentou e conversou com os fãs na loja principal em Nova York. Logo depois, o Vision Pro começou a aparecer nas ruas, em restaurantes e até mesmo em um jogo de basquete. 

“As pessoas ficaram animadas para usá-lo”, disse Fox, que costumava ver pessoas usando os dispositivos no shopping local. “Depois, ele simplesmente sumiu”. 

Fox pensou em vender seu próprio headset, mas percebeu que nunca chegaria perto dos US$ 3.500 que pagou. “Toda vez que o vejo na caixa”, disse ele, “sinto um arrependimento”. 

Anshel Sag costumava levar seu Vision Pro em voos para assistir a filmes. “As pessoas me olhavam feio”, disse o analista de tecnologia de San Diego. “Não preciso disso.”

Outro motivo pelo qual o homem de 35 anos parou de sair com ele: o tamanho do estojo.

Vendido separadamente por US$ 199, o protetor branco em formato de travesseiro do Vision Pro tem cerca de 30 centímetros de altura, 23 centímetros de largura e 16,5 centímetros de profundidade. “Ele ocupa quase metade do volume da minha bagagem de mão”, disse Sag. 

Quando Anthony Racaniello usou seu aparelho para um voo de quase seis horas para Las Vegas, a comissária de bordo passou por ele com os carrinhos de bebidas sem perguntar se ele queria alguma coisa. O morador da Filadélfia de 41 anos culpa o Vision Pro pela sua sede. “Parece que você está usando uma máscara para dormir”, ele disse, “e as pessoas vão te tratar desse jeito”.

Racaniello também tentou usá-lo no escritório, pensando que conseguiria preencher planilhas e digitar e-mails no estúdio de mídia que administra. Mas os colegas zombavam dele, diziam que ele parecia assustador ou pediam para ele tirar o óculos. “O melhor elogio que recebi foi uma risadinha e um comentário: ‘Parece que você está usando óculos de esqui no trabalho.'” 

Recentemente, ele vendeu seu Vision Pro online por US$ 1.900 (cerca de R$ 10.600). Ele não sente falta dele.

“É definitivamente um vislumbre do futuro. Só acho que ainda está longe”, disse ele. “Por enquanto, você precisa vestir o que parece um MacBook Pro de 227 quilos, prendê-lo no rosto e fazer as pessoas rirem de você.”

A experiência, no entanto, não desanimou o fã da Apple (que também comprou o primeiro iPhone) em relação à empresa. “Esta é a primeira vez que achei que um produto da Apple foi lançado de forma precoce ou estava à frente de seu tempo”, disse Racaniello.

Yam Olisker, outro superfã da Apple, acreditava que o Vision Pro seria o próximo iPhone. Ele voou de Israel para Nova York no ano passado para ser uma das primeiras pessoas a comprar o headset. Na loja, ele conheceu Cook e o fez autografar a parte de trás do seu iPhone e a caixa do Vision Pro. 

Olisker estava errado. “Uso muito menos do que esperava”, disse o YouTuber de 20 anos.  

Mas ele não se arrepende da compra. Ele ainda adora assistir a filmes com seu Vision Pro, especialmente filmes em 3D como o recente “Metallica”, vendido como uma experiência imersiva dos “shows ao vivo lotados de estádios” da banda de heavy metal. “Parece que você está no show”, disse ele. 

Ele até descobriu como assistir aos filmes sem o peso do Vision Pro incomodando-o: “Eu fico deitado na cama”.

Traduzido do inglês por InvestNews

Presented by