Brad Thomas, recrutador de Nova York, analisa centenas de currículos mensalmente e notou uma tendência: além de formação, habilidades e experiência profissional, candidatos estão incluindo suas conquistas esportivas.
Um exemplo é uma engenheira de inteligência artificial que listou sua participação em 20 corridas de longa distância na natureza, 15 maratonas, uma caminhada de cem quilômetros e um patrocínio de marca esportiva.
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Segundo Thomas, essas atividades demonstram ética de trabalho e resiliência, qualidades importantes para empregadores. Isso a ajudou a conseguir uma entrevista, embora não tenha sido contratada.
Mais que um tópico para iniciar conversas, as conquistas esportivas podem destacar características valorizadas no ambiente profissional, afirmam especialistas em recrutamento. Mas é preciso cautela: incluir tempos pessoais pode ser excessivo, alerta Thomas, que trabalha com candidatos de tecnologia e liderança na Orange Quarter.
Eliot Kaplan, consultor de carreira na Filadélfia e ex-vice-presidente de recrutamento da empresa de mídia Hearst, recomenda que os candidatos avaliem se a informação é relevante para a vaga e a integrem à sua trajetória profissional.
“Se você está se candidatando a uma academia como a Equinox, é diferente. Mas para vagas comuns, qual é a mensagem que você quer passar?” Para ele, isso pode parecer ostentação, “e poderia incomodar um entrevistador mais sedentário”.
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Por outro lado, Kaplan orientou um ex-jogador profissional da NFL a mencionar sua carreira esportiva para explicar um intervalo em seu histórico profissional. Ele também considera positivo incluir atividades que demonstrem empreendedorismo, como ter pago a faculdade jogando golfe, ou vitalidade, como correr uma maratona aos 60 anos.
Jaclyn Amaro, 36 anos, profissional de relações públicas em Nova Jersey, afirma que suas realizações esportivas ajudaram a compensar o período dedicado aos cuidados do filho. Seu currículo menciona seis maratonas e sua certificação do Conselho Americano de Exercícios (ACE, em inglês), que a habilitou a dar aulas de Pilates em Estocolmo e comandar um programa intensivo de treinamento para a Lululemon.
“Quero mostrar minha personalidade e provar que sou dedicada e ambiciosa”, explica. “Incluo essas informações para demonstrar que tenho paixões e trabalho com objetivos.”
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Jacob Travis, fisioterapeuta de 29 anos de Nashville, gerou debate nas redes sociais ao opinar sobre incluir “maratonista” no currículo. Seu vídeo no Instagram, gravado durante uma corrida, alcançou 72 mil curtidas: “Ser maratonista diz mais sobre mim do que ter sido representante estudantil no primeiro ano de faculdade. Quando um empregador vê ‘maratonista’, sabe que o candidato pode ser obstinado, mas é determinado. E eu quero alguém assim no meu time.”
Nos comentários, muitos relataram que estavam acrescentando conquistas como competições de fisiculturismo ou faixas pretas em artes marciais aos currículos. Outros argumentaram que essa prática poderia gerar preocupação sobre a dedicação do funcionário ao trabalho durante os treinos.
Kamille Fajardo, consultora tributária de 32 anos e recente participante da Maratona de Chicago, discorda da prática. “É uma conquista pessoal, não profissional”, argumenta. Ela também teme que a maratona crie uma imagem de resistência excessiva, levando empregadores a presumir que o funcionário aceitará condições injustas de trabalho.
John Major, 30 anos, vice-presidente da Norgay Partners, empresa de recrutamento executivo em Los Angeles, observa que profissionais mais experientes raramente incluem conquistas esportivas no currículo. “É mais comum entre profissionais júnior e pleno”, explica. “Demonstra capacidade de automotivação sem supervisão.”
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Em setores como o financeiro, onde o trabalho pode ser monótono mas exige atenção aos detalhes, essas conquistas podem indicar resistência a tarefas desafiadoras, acrescenta Major.
Dylan Shrier, estrategista criativo de 28 anos de Nova York, incluiu sua participação na Maratona de Boston, tênis universitário e corridas com obstáculos no currículo quando buscava emprego. Seu objetivo era demonstrar espírito competitivo e equilíbrio entre dedicação e diversão.
“Tenho hobbies ativos fora do trabalho”, conta. “Sou adulto, mas mantenho um espírito jovial.” A estratégia funcionou: conseguiu uma vaga como designer na LIV Golf, liga profissional de golfe. “Sempre quis trabalhar com esportes.”
Traduzido do inglês por InvestNews
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