A Nvidia e a grande vantagem dos EUA
A imigração impulsiona a prosperidade americana
[Publicado originalmente em 22 de fevereiro de 2024]
Ao se recusar a garantir que as leis sejam fielmente seguidas, o presidente Joe Biden compromete a política de imigração para todos. E esta semana traz outro lembrete poderoso de que a capacidade dos Estados Unidos de atrair e acolher pessoas de todo o mundo está no coração da prosperidade do país.
A grande notícia do mercado agora diz respeito à fabricante americana de semicondutores Nvidia, que relatou receitas e lucros nas alturas com a venda dos chips que alimentam a inteligência artificial. Liderada pelo CEO e cofundador Jensen Huang, que veio para os EUA quando criança, a empresa representa uma história americana clássica iniciada durante o café da manhã em uma lanchonete popular. Em junho passado, Ben Cohen escreveu:
“A Nvidia nasceu em um Denny’s. A história da origem da fabricante de chips mais valiosa do mundo começa há 30 anos, quando três engenheiros se encontravam em uma lanchonete do Vale do Silício e debatiam ideias sobre computação, sonhando com a empresa que mudaria suas vidas durante o café da manhã”.
“Não éramos bons clientes”, disse-me esta semana o cofundador da Nvidia, Chris Malachowsky. “Passávamos quatro horas lá e tomávamos dez xícaras de café.”
Eles eram clientes tão ruins que foram expulsos de sua mesa e transferidos para uma sala nos fundos do restaurante. Havia dois grupos de pessoas usando essa área do Denny’s como espaço de coworking: os fundadores da Nvidia e a polícia de San Jose, na Califórnia. “Todos os policiais ficavam escrevendo seus relatórios”, lembra-se Malachowsky. “E nós sentados com nosso laptop, tentando descobrir o que estávamos fazendo.”
Eles com certeza descobriram, e o café não era o único ingrediente essencial. Cohen observou: Antes de ser o berço de sua empresa, o Denny’s era importante para Huang, que dirige a Nvidia desde que Mark Zuckerberg estava na escola primária. Ele nem sempre foi um orador público desenvolto em sua jaqueta de couro preta característica. Na verdade, Huang diz que não seria o líder que é hoje se não fosse por um emprego: ser garçom de um Denny’s.
Foi uma experiência formativa. Huang era um adolescente tímido, mas anotar os pedidos de panquecas o ensinou a se comunicar com estranhos e a se envolver em situações tensas que estavam além de seu controle. E também aprendeu com um de seus frequentadores que deveria adicionar maionese e mostarda a um sanduíche de peru chamado Super Bird, que continua sendo seu prato favorito do cardápio.
Os clientes não são os únicos que podem ser exigentes. Cohen escreveu:
“Houve muitas pessoas a quem eles fizeram de tudo para convencer da visão da Nvidia nos primeiros anos — incluindo a própria mãe de Huang”. Ele ainda se lembra do conselho que ela lhe deu quando anunciou que iria abrir uma empresa com seus amigos para fazer chips que as pessoas usariam para jogar.
“Por que você não arruma um emprego?”, disse ela.
Parece que foi isso que ele fez. No pregão da tarde de quinta-feira, a Nvidia foi avaliada em mais de US$ 1,6 trilhão.
No final do ano passado, a CEO do Denny’s, Kelli Valade, deu as boas-vindas a Huang, que voltou à sua antiga mesa para celebrar o lugar onde tudo começou. Stephen Witt se juntou ao CEO da Nvidia para o café da manhã e escreveu para a revista “New Yorker” sobre Huang:
“Ele tem em mente os princípios básicos sobre o que os microchips podem fazer hoje, e aposta com grande convicção sobre o que farão amanhã. Faço tudo o que posso para não sair do negócio”, disse ele durante o café da manhã. “Faço tudo o que posso para não falhar.”
… Na noite anterior ao nosso café da manhã, eu tinha assistido a um vídeo em que um robô, executando um novo tipo de software, olhava para suas mãos em aparente reconhecimento e daí organizava uma série de blocos coloridos. O vídeo me deu calafrios; a obsolescência da minha espécie parecia próxima. Huang, enrolando uma linguiça na panqueca com os dedos, afastou minhas preocupações. “Sei como funciona; não há nada lá”, disse ele. “Não é diferente do funcionamento de um micro-ondas.” Eu pressionei Huang — um robô autônomo certamente apresenta riscos que um forno de micro-ondas não oferece. Ele respondeu que não se preocupava com a tecnologia; nunca se preocupou. “Ele só está processando dados”, explicou. “Há muitas outras coisas com as quais se preocupar.”
Em maio, centenas de líderes da indústria endossaram uma declaração que equiparava o risco de uma IA descontrolada ao de uma guerra nuclear. Huang não a assinou.
Ainda bem, dado o potencial da tecnologia para resolver problemas e as recompensas da contínua liderança americana.
Certamente foi um caminho longo e difícil para formar uma das empresas de tecnologia mais proeminentes do mundo. Witt escreveu:
Huang nasceu em Taiwan em 1963, mas quando tinha nove anos, ele e seu irmão mais velho foram enviados como menores desacompanhados para os EUA. Desembarcaram em Tacoma, em Washington, para viver com um tio, antes de serem enviados para o Instituto Batista Oneida, em Kentucky, que o tio de Huang acreditava ser um colégio interno de prestígio. Na verdade, era um reformatório religioso. Huang tinha um colega de quarto de 17 anos. Em sua primeira noite juntos, o garoto mais velho levantou a camisa para mostrar a Huang os inúmeros lugares onde havia sido esfaqueado em brigas. “Todos os alunos fumavam, e acho que eu era o único menino da escola sem canivete”, contou Huang. Seu companheiro de quarto era analfabeto; em troca de ensiná-lo a ler, Huang disse: “Ele me ensinou a levantar peso. Acabei fazendo cem flexões todas as noites antes de dormir”.
Intimidado por sua origem asiática, nosso herói perseverou e acabou conquistando alguns valentões e se tornando um líder entre seus colegas de classe. Witt escreveu:
Depois de alguns anos, os pais de Huang conseguiram entrar nos Estados Unidos, estabelecendo-se no Oregon, e os irmãos os reencontraram…
Huang cursou a Universidade Estadual do Oregon e se formou em engenharia elétrica. Sua parceira de laboratório nas aulas introdutórias era Lori Mills, uma nerd séria com cabelos castanhos cacheados. “Havia, tipo, 250 alunos cursando engenharia elétrica, e talvez três meninas”, Huang me disse. Os rapazes disputavam a atenção de Mills, e Huang sentia que estava em desvantagem. “Eu era o garoto mais novo da turma. Parecia ter uns 12 anos.”
Todo fim de semana, Huang ligava para Mills e insistia para que fizesse a lição de casa com ele. “Tentava impressioná-la — não com minha aparência, é claro, mas com minha forte capacidade de completar a tarefa”, contou ele. Mills aceitou e, depois de seis meses de lição de casa, Huang criou coragem para convidá-la para sair. Ela também aceitou.
Como não torcer por esse cara? Huang e Mills se mudaram para o Vale do Silício para trabalhar como designer de chips, se casaram e tiveram filhos. Então, ele fundou uma grande empresa americana.
E, acredite ou não, talvez o concorrente mais próximo da liderança global de sua empresa seja outra empresa dos EUA que foi revivida por outra CEO imigrante, que por acaso é uma parente distante de Taiwan.
Em 2021, Kathleen Doler escreveu para o “Investor’s Business Daily” sobre Lisa Su, a CEO da fabricante de chips Advanced Micro Devices:
Su nasceu em Taiwan. Migrou para os EUA ainda criança com seus pais. Criada no Queens, em Nova York, estudou piano durante toda a infância. Mas também gostava de desmontar as coisas e consertá-las. Assim, escolheu o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para fazer seu curso superior.
“Eu realmente queria me desafiar” cursando engenharia elétrica no MIT, um dos cursos mais difíceis de uma universidade conhecida por seu rigor, disse ela. “Já sabia que quando escolhia algo muito difícil, e ia bem, teria mais confiança para o próximo desafio. Essa mentalidade continuou na minha carreira.” Su tem bacharelado, mestrado e doutorado em engenharia elétrica pelo MIT.
No início de sua carreira, um mentor lhe disse para “correr ao encontro dos problemas” e escolher trabalhar em projetos que sejam “realmente importantes”, diz ela.
Os Estados Unidos irão criar grandes problemas para si mesmos se permitirem que a atual má gestão do governo federal em nossa fronteira sul convença as pessoas a se oporem à migração.
***James Freeman é coautor de “The Cost: Trump, China and American Revival” e de “Borrowed Time: Two Centuries of Booms, Busts and Bailouts at Citi”.
traduzido do inglês por investnews