Anglo American x BHP: negociações entre grandes mineradoras está só começando
De uma forma ou de outra, alguns dos ativos da Anglo parecem destinados a novos proprietários
A Anglo American, uma das maiores mineradoras de cobre, diamantes e platina do mundo, rejeitou os avanços da australiana BHP, sua maior concorrente.
Mas é pouco provável que esse seja o fim da história. Os desafios da Anglo não são puramente cíclicos ou operacionais: ela enfrenta problemas estratégicos reais que podem continuar ameaçando sua rentabilidade. A BHP talvez aumente sua oferta, ou outras grandes mineradoras podem entrar no jogo. De uma forma ou de outra, alguns dos ativos da Anglo parecem destinados a novos proprietários.
A BHP, maior mineradora de capital aberto do mundo, chocou o setor da mineração na semana passada com uma oferta de compra inesperada de todas as ações da Anglo, avaliando esta em cerca de US$ 39 bilhões. As ações da Anglo fecharam em alta de 16%, 25,60 libras esterlinas, na quinta-feira (25), acima do preço da oferta de 25,08 — o equivalente a US$ 31,38. A LGIM, uma das principais acionistas da Anglo, classificou a oferta como “altamente oportunista” e “pouco atraente”. Na sexta-feira (26), a Anglo confirmou formalmente a rejeição.
A complexidade foi um dos problemas da proposta da BHP. Ela exigia que a Anglo desmembrasse suas operações de platina e minério de ferro no sul da África, envolvendo ambas as empresas na política local pouco antes de uma eleição geral sul-africana.
A BHP claramente quer o cobre da Anglo, uma das “commodities do futuro”, no centro de sua estratégia de crescimento. O combate às mudanças climáticas exigirá grandes quantidades do metal para linhas de transmissão, parques eólicos, veículos elétricos e outros usos. Uma fusão das duas empresas criaria a maior mineradora de cobre do mundo.
Mas há outras commodities importantes: carvão coque (metalúrgico), diamantes, platina e níquel. O acordo colocaria a BHP em primeiro lugar na produção do carvão metalúrgico, usado para fazer aço. Ao contrário do carvão térmico usado para geração de energia, o tipo metalúrgico ainda não tem substitutos óbvios.
Diamantes e platina, por sua vez, estão na raiz do problema estratégico da Anglo. A empresa, por meio de suas subsidiárias, é a maior produtora global de ambos. E os dois negócios estão com problemas.
Diante disso, é fácil entender por que alguns investidores não ficaram impressionados com a oferta da BHP: em janeiro de 2023, as ações da Anglo eram negociadas a 36 libras, cerca de 40% acima do valor de hoje. Mas, por outras métricas, o Anglo não parece necessariamente tão barata: seu valor de mercado, incluindo dívida, agora é de cerca de 8,6 vezes o lucro operacional futuro, de acordo com a FactSet. Embora qualquer adquirente tenha que pagar caro pelo controle, o valor da Anglo após a oferta é o mais alto desde 2016 e está bem acima do da BHP e da rival produtora de minério de ferro Rio Tinto.
Uma das razões pelas quais as ações da Anglo estão com preços baixos ultimamente são seus negócios de diamantes, platina e níquel, que passam por dificuldades. A Anglo registrou suas operações de diamantes da De Beers e do níquel brasileiro em US$ 2,1 bilhões em fevereiro, ajudando a elevar a dívida líquida para 43% do patrimônio líquido— também a maior desde 2016 —, de acordo com a FactSet. O executivo-chefe da mineradora, Duncan Wanblad, anunciou uma revisão estratégica de ativos junto com os resultados anuais da empresa, dizendo que “nada está fora de questão”.
E, embora os preços do diamante, da platina e do níquel estejam sofrendo em parte por razões cíclicas, também há preocupações estruturais. O derretimento do setor imobiliário e da confiança do consumidor na China e a crescente aceitação de diamantes sintéticos — mais de um terço dos anéis de noivado nos EUA continham pedras sintéticas em 2022, de acordo com uma pesquisa — podem pesar sobre os preços do diamante por anos. Não surpreende, portanto, que a Anglo esteja em busca de compradores para sua participação controladora da De Beers, como informou o Wall Street Journal na quinta-feira.
O níquel enfrenta adversidades estruturais semelhantes, apesar de ser outra das commodities do futuro para a BHP: o investimento maciço chinês em mineração e processamento de níquel de baixo custo na Indonésia está inundando os mercados globais. E a demanda por platina é sustentada por seu uso em conversores catalíticos automotivos, pondo o metal em desvantagem na mudança para veículos elétricos. O Macquarie Group estima que a demanda por platina automotiva pode atingir seu pico já em 2025.
Com certeza, nem todo mundo vê perspectivas sombrias para o diamante e a platina. Embora reconheça o vento contrário dos sintéticos, Wanblad observou em fevereiro que a demanda por diamantes tende a acompanhar o crescimento global, o que significa que pode eventualmente se recuperar junto com economias como a da China. A desaceleração da transição para os veículos elétricos e o crescente interesse em veículos híbridos podem dar à demanda por platina automotiva uma sobrevida maior que a esperada.
E os principais negócios de minério de ferro e cobre da Anglo ainda são rentáveis, apesar de alguns problemas operacionais recentes. A empresa reduziu drasticamente sua orientação de produção em dezembro, inclusive em várias minas de cobre importantes da América do Sul. A produção total de cobre da empresa caiu cerca de 14% sequencialmente no primeiro trimestre de 2024, embora ainda esteja 11% acima no ano. O argumento de alta para a Anglo é que os preços do cobre subirão muito, as questões operacionais serão transitórias e será possível obter um bom preço pela De Beers.
Tudo isso ainda pode acontecer. Os preços do cobre estão em alta, por enquanto. Mas se os problemas operacionais persistirem, os preços tropeçarem ou a empresa for forçada a abater ainda mais os ativos de escolha única, então a LGIM pode pensar em aceitar propostas de aquisição. Aconteça o que acontecer, o mega-acordo proposto nesta semana provavelmente desencadeará algum tipo de reordenamento no mundo da mineração.
Escreva para Nathaniel Taplin at [email protected]
traduzido do inglês por investnews