‘Biden é como Yoda.’ Entenda a batalha financeira para salvar a candidatura do democrata

Alguns dos principais doadores do presidente Biden se apegaram a uma analogia de “Star Wars” destinada a evitar que apoiadores nervosos desertem: o presidente Biden é como Yoda — velho e frágil, mas sábio e influente –— enquanto Donald Trump é como Jabba the Hutt, gângster guloso e poderoso.

Ao conversar com apoiadores de Wall Street, pessoas leais a Biden fizeram comparações com o famoso investidor Warren Buffett, apontando que o presidente-executivo da Berkshire Hathaway fez uma grande fortuna entre os 83 e 93 anos. 

As comparações fazem parte de um esforço frenético para salvar a candidatura de Biden diante das crescentes preocupações sobre a capacidade do político de 81 anos de derrotar Trump, seu provável adversário republicano nas eleições de novembro. Alguns dos chamados “bundlers”, apoiadores que solicitam doações de outros doadores, disseram que estão evitando pedir mais dinheiro após o debate, dado o fraco desempenho do presidente. 

Cisões no que era uma frente unificada de apoio dos legisladores democratas começaram a surgir na terça-feira. O representante Lloyd Doggett (democrata do Texas) pediu a Biden que saia da corrida. 

Um grupo que representa centenas de líderes empresariais disse na quarta-feira (3) que Biden deveria se afastar, alertando que, se Trump ganhar um segundo mandato, isso “representaria uma ameaça existencial à democracia americana”. O grupo, Leadership Now Project, defende “uma democracia e uma economia fortes”.

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Biden, em uma arrecadação de fundos na terça-feira (2) em McLean, na Virgínia, disse: “não tive minha melhor noite de debate”, mas mencionou a capacidade de sua campanha de arrecadar US$ 38 milhões desde então. “Até agora, tudo bem”, disse. “Estou bem com o que está acontecendo.”

Biden acrescentou que “não foi muito inteligente” antes do debate, porque manteve uma agenda de viagens lotada. “E então voltei e quase adormeci no palco”, disse ele, provocando risos da plateia. Biden passou cerca de uma semana em Camp David, o retiro presidencial em Maryland, se preparando para o debate após suas viagens à França e à Itália.

Entre os que lideram publicamente o esforço pró-Biden estão Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, cuja equipe recebeu centenas de ligações, e-mails e outras formas de contato desde o debate dos presidenciáveis na quinta-feira. Alguns querem que Hoffman, capitalista de risco e megadoador democrata, peça a Biden para abandonar sua candidatura ou a diminuir seu apoio ao presidente, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. A campanha de Biden reiterou na terça-feira que o presidente não tem planos de desistir.

Entre os defensores de Biden, há uma sensação de que não é possível esconder sua fragilidade física em declínio. Alguns estão de fato argumentando que, embora sua aparência física possa parecer a de um idoso, sua acuidade mental ainda está intacta. 

A equipe de Hoffman, que compartilhou as analogias de Star Wars e Buffett, conseguiu que um pesquisador especializado em envelhecimento e saúde cerebral estudasse as performances de Biden e Trump no debate e em outros compromissos públicos recentes, para garantir tranquilidade. Essa pessoa concluiu que a capacidade cognitiva de Biden não estava em declínio, embora ele tivesse um declínio significativo nas capacidades motoras e mecânicas, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Não dá para saber se isso tranquiliza os doadores.

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Alguns doadores relutantes querem ver Biden dar uma entrevista para garantir sua acuidade. A Casa Branca disse na terça-feira que o presidente seria entrevistado por George Stephanopoulos, da ABC News. Ele também planeja realizar reuniões com legisladores e governadores democratas e viajar para Wisconsin nesta semana. 

Entre alguns dos principais líderes empresariais, há uma pressão para indicar um executivo-chefe para substituir Biden na chapa democrata. Esse esforço se concentrou em tentar persuadir Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, a concorrer, com ligações de empresários e políticos, de acordo com pessoas familiarizadas com a situação. Dimon ignorou esses pedidos, afirmaram essas pessoas. Uma delas disse que, embora Dimon goste do cargo de presidente, não quer disputar uma eleição.

Muitos doadores no último fim de semana disseram que ficaram tranquilos com os eventos de arrecadação de fundos que Biden realizou na área de Nova York. Mas, na terça-feira, havia sinais de que o incentivo estava dando lugar a uma preocupação crescente com a viabilidade da candidatura.

“Não encontrei ninguém que o tivesse abandonando no evento em Hamptons”, disse uma pessoa que participou de uma arrecadação de fundos em East Hampton, Nova York, no fim de semana, acrescentando que Biden parecia seu eu normal no evento e falou com lucidez. “Saí de lá achando que ele vai ultrapassar isso e vai seguir em frente. Não tenho essa opinião hoje.”  

Nos últimos dias, em ligações privadas com comitês de ação política e entre doadores, muitos pediram que Biden renunciasse como candidato, de acordo com pessoas envolvidas ou informadas sobre as ligações. “A sensação de que ele tem de desistir, pelo menos entre os doadores com quem falo, já chegou no nível de metástase”, disse a pessoa que participou da arrecadação de fundos de East Hampton.

Em uma ligação do comitê de ação política com cerca de cem doadores na terça-feira, muitos participantes falaram sobre a necessidade de Biden se afastar, segundo essa pessoa. Todos estavam de acordo que ele havia feito uma boa presidência, mas havia um consenso de que não seria capaz de derrotar Trump dado o desempenho do debate, disseram as pessoas.

Alguns discutiram possíveis substitutos, incluindo a vice-presidente Kamala Harris, a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom. Os três mantiveram publicamente seu apoio à manutenção de Biden na chapa. 

Escreva para Emily Glazer em [email protected], Preetika Rana em [email protected] e Dana Mattioli em [email protected]