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CEOs estão ‘tomando uma invertida’ da política industrial imposta pelos governos

A ajuda estatal, com renúncias e subsídios, não é o que vai salvar os líderes da Intel e Stellantis

Por CONSELHO EDITORIAL The wall street Journal
Publicado em
5 min
traduzido do inglês por investnews

A vida não é um morango para os CEOs que não desempenharem bem suas funções — como aprenderam recentemente Pat Gelsinger, da Intel, e Carlos Tavares, da Stellantis. Suas demissões nesta semana são um lembrete de que os resultados dos negócios ainda são importantes, mesmo que eles estivessem seguindo à risca o caminho traçado pelo governo norte-americano.

Gelsinger anunciou sua aposentadoria na segunda-feira (2), após uma carreira de mais de 30 anos na famosa fabricante americana de chips de computador. Sob Gelsinger, a Intel perdeu progressivamente a vantagem competitiva que tinha no mercado. Segundo a Bloomberg News, ele foi forçado a sair pela diretoria da Intel, que havia perdido a confiança em seus planos para superar as dificuldades da empresa.

Quando a Intel escolheu Gelsinger como CEO em 2021, a empresa estava em uma encruzilhada. Cerca de 15 anos antes, o então CEO da Intel, Paul Otellini, havia deixado passar a oportunidade de fabricar chips para o iPhone. Seus sucessores não conseguiram posicionar a empresa para crescer e mais uma oportunidade passou: a produção de chips para alimentar a inteligência artificial.

Durante algum tempo, a Intel pôde aproveitar os lucros de seus negócios de data centers e computadores pessoais. Mas seu atraso na corrida da inteligência artificial, ficando atrás da Nvidia e da AMD, custou caro. Gelsinger procurou então o apoio do governo para seu negócio, que estava atrasado. Seu objetivo era competir na fabricação industrial de hardware com a TSMC e a Samsung.

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Ele fez lobby junto ao Congresso e ao governo para aprovar a Lei de Chips, de US$ 280 bilhões, para subsidiar as expansões de fábricas nos EUA, que deveriam custar mais de US$ 100 bilhões. Na semana passada, o governo Biden concedeu à Intel um novo incentivo de US$ 7,9 bilhões para projetos de chips no Novo México, Oregon, Ohio e Arizona.

Apesar dos subsídios prometidos, a Intel tem tido dificuldades para executar o plano. A Reuters informou no mês passado que a Intel teve que cancelar um acordo com a empresa de táxi autônomo Waymo, do Google, em meio a desafios de fabricação. A Apple, a Qualcomm e outras empresas, por motivos técnicos, deixaram de usar a nova arquitetura 18A da Intel para fabricar chips de última geração.

Em agosto, Gelsinger anunciou 15 mil demissões, e espera-se que a Intel registre este ano seu primeiro prejuízo líquido anual desde 1986. O preço de suas ações caiu 43% no último ano, enquanto o da Nvidia subiu 205% e o da TSMC subiu 100%.

Na Stellantis, a demissão de Tavares no domingo (1º) também ocorreu após um ano em que os lucros, a participação de mercado e o preço das ações da montadora despencaram. Anteriormente, Tavares liderou o Grupo PSA da Europa, que se fundiu com a Fiat Chrysler em 2021 para formar a Stellantis. Ele nunca entendeu os consumidores americanos que adoram picapes e SUVs.

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Embora a escassez no fornecimento de veículos e a inflação tenham impulsionado os lucros da Stellantis durante a recuperação da pandemia, Tavares não investiu no desenvolvimento de modelos mais novos de SUVs e picapes populares para o mercado dos EUA, enquanto direcionava bilhões para veículos elétricos e híbridos plug-in. Tavares comparou a transição dos veículos elétricos a uma luta darwiniana pela sobrevivência.

Mas o mercado não está evoluindo tão rapidamente quanto os governos dos EUA e da Europa ordenaram. Os revendedores da Stellantis nos Estados Unidos reclamaram de linhas de veículos desatualizadas e caras que levaram ao acúmulo de carros nos lotes. Tavares enfureceu os revendedores e concorrentes europeus da empresa ao se opor a uma flexibilização das rigorosas regras de emissões de automóveis do continente.

As concessionárias europeias alertaram que os veículos elétricos não estavam sendo vendidos. Não importa. Na primavera deste ano, Tavares formou uma joint-venture com a Leapmotor da China para exportar veículos elétricos de baixo preço para a Europa. Seu plano foi prejudicado pela recente imposição de tarifas de Bruxelas sobre os veículos elétricos chineses. A eliminação gradual de modelos lucrativos movidos a gasolina nos EUA tornou mais difícil para a Stellantis investir em veículos elétricos para atender às exigências do governo.

A Stellantis vem demitindo dezenas de milhares de trabalhadores nas áreas de produção indústrial e engenharia para reduzir custos. Sua diretoria pode ter concluído que isso não levará a um sucesso comercial de longo prazo. Hoje em dia, é muito difícil para os CEOs, especialmente quando o governo lhes diz como administrar seus negócios.

traduzido do inglês por investnews