A corrida do ‘robotáxi’ começou e a Waymo, da Alphabet, está na frente
Em São Francisco, moradores e turistas se adaptaram à realidade dos carros autônomos
Recentemente, em um dia de ventania no centro turístico da ponte Golden Gate, uma dúzia de turistas tirava fotos da famosa vista antes de se viraram para gravar a outra atração: os veículos autônomos da Waymo que os levaram até lá.
Do outro lado da cidade, perto do terminal de balsas de San Francisco, em menos de uma hora, outra meia dúzia de carros sem motorista parava no acostamento, deixando e pegando um misto de moradores e turistas.
No distrito financeiro da cidade, os elegantes Jaguars brancos da Waymo, enfeitados com sensores e câmeras giratórias, são uma presença constante, descendo as ruas um após o outro.
Depois de um início difícil, um ano e meio atrás, os carros autônomos conquistaram os corações e mentes em uma das cidades do mundo mais tecnologicamente avançadas.
Em meados do ano passado, a Waymo – que pertence à mesma empresa que controla o Google, a Alphabet – fazia dez mil viagens pagas por semana. Em maio, o número saltou para 50 mil. Agora, são mais de cem mil em Los Angeles e San Francisco (na Califórnia) e Phoenix (Arizona), seus maiores mercados.
É dada a largada
Este mês, o CEO da Tesla, Elon Musk, revelou dois novos veículos planejados como parte de uma grande aposta em robotáxis. O Uber, que abandonou sua própria tecnologia de direção autônoma anos atrás, assinou acordos com a Waymo e várias outras empresas ao redor do mundo para adicionar seus robotáxis ao seu aplicativo em certas cidades.
E o Zoox, projeto de carro autônomo da Amazon, começou a convidar jornalistas para fazer passeios em seus veículos em um subúrbio de San Francisco.
A Waymo está intensificando sua própria expansão. A empresa abriu recentemente um serviço de robotáxi em Austin, no Texas, e planeja lançá-lo em Atlanta, na Geórgia, no ano que vem. Ela exibiu seus carros em Rochester, no estado de Nova York, no início de outubro e manifestou interesse na expansão para a Europa.
“Estamos nisso há muito tempo — 15 anos — e chegamos nesse ponto de crescimento”, disse o co-CEO da Waymo, Tekedra Mawakana. A Waymo não divulga publicamente detalhes financeiros, incluindo a receita líquida, lucros e prejuízos.
A Waymo adicionou veículos e abriu seu serviço para todos em São Francisco há alguns meses — deixando de lado uma lista de espera de mais de dois anos. Agora, opera cerca de 300 veículos em San Francisco e outros 400 nos demais mercados.
O tempo para se familiarizar e a quantidade de carros disponíveis deram aos moradores de São Francisco mais oportunidades para se sentirem confortáveis chamando um táxi sem motorista. É grande o contraste em relação a um ano atrás, quando o sentimento local era para que as operadoras de carros autônomos deixassem a cidade.
McKenna Dixon, enfermeira da unidade de queimados de um hospital local, usa Waymo em vez de Lyft ou Uber sempre que pode. Ela trabalha no turno da noite e disse que vai de Waymo para o trabalho algumas vezes por semana.
“Entro no carro, ponho minha música para tocar, reclino meu assento e vou de olhos fechados durante todo o trajeto para casa”, disse a jovem de 27 anos. “É simplemente a maneira mais gostosa de terminar meu dia.”
Parte do atrativo: não ter que falar com ninguém.
“Muitas vezes, quando entro no carro, não tenho energia para socializar”, disse ela.
A Waymo está em uma campanha agressiva de marketing, que inclui anúncios nas redes sociais, para promover a privacidade de seus carros para encontros noturnos, além dos códigos QR, escondidos em biscoitos da sorte de restaurantes em Chinatown, para download do aplicativo.
As viagens da Waymo geralmente custam um pouco mais do que Uber ou Lyft, embora não haja a opção de dar gorjeta, o que torna os preços dos três aplicativos competitivos entre si. Muitos moradores que a experimentaram se tornaram clientes fiéis por razões que vão além do custo. Eles citam o modo de dirigir às vezes errático dos motoristas humanos e a sensação de luxo dos veículos Jaguar da Waymo.
Por uma análise, com base em dados de cartão de crédito da Earnest Analytics, a Waymo já está retendo passageiros a uma taxa mais alta do que Uber ou Lyft, embora esteja operando em uma escala muito menor. O Uber faz milhões de viagens a cada hora em todo o mundo.
A Waymo ainda perdeu a principal concorrente, a Cruise da General Motors, que teve a licença para atuar na Califórnia revogada no fim do ano passado depois que um de seus veículos arrastou uma mulher por seis metros após ela já havia sido atropelada por um carro dirigido por humanos. Isso deixou a Waymo como o único serviço de robotáxi publicamente disponível em São Francisco.
Para os analistas, a Waymo tem um longo caminho a percorrer antes de ser amplamente adotada e lucrativa. Um incidente ruim pode acabar com a empresa. Colisões graves, algumas fatais, geraram uma reação furiosa contra as concorrentes.
A Waymo já investiu bilhões de dólares no caro empreendimento. Atualmente, tenta ir além de um recente investimento de US$ 5 bilhões da Alphabet e arrecadar mais dinheiro.
A Waymo enfrenta uma investigação de órgãos reguladores sobre veículos que colidiram com carros estacionados e entraram na contramão no meio do trânsito. Além disso, ainda não está aceitando passageiros públicos em qualquer lugar, como nas rodovias da Bay Area, apesar de ter recebido a aprovação dos reguladores estaduais em março. Isso significa que ela deve se ater às ruas e é obrigada a permanecer dentro da cidade de São Francisco e certos subúrbios.
Algumas autoridades locais continuam preocupadas com a segurança da Waymo e o impacto no congestionamento da cidade.
Os carros autônomos já pararam no meio de ruas movimentadas, quase colidiram com áreas em obras e mataram um cachorro em uma colisão, algo que a Waymo chamou de “inevitável”.
Algumas semanas atrás, um Waymo parou perto da área onde a equipe da vice-presidente Kamala Harris montava um perímetro de segurança antes da chegada da candidata. O veículo teve que ser removido pela polícia. No dia seguinte, dois carros da Waymo pararam no local de um festival de música, bloqueando um ônibus e causando engarrafamento enquanto as pessoas tentavam sair.
A Waymo disse que está frequentemente em contato com autoridades locais, estaduais e federais, inclusive com o Serviço Secreto americano.
Executivos de carros autônomos disseram que um dos maiores desafios é fazer com que as pessoas superem o medo da primeira viagem. Uma vez que isso acontece, elas em geral querem andar novamente.
O CEO da Salesforce, Marc Benioff, disse no mês passado a uma multidão de funcionários, clientes e parceiros de negócios que o novo software de IA de sua empresa produziria um momento eureka semelhante à primeira vez que alguém anda em um Waymo. Ele encorajou a plateia do evento anual da empresa, o Dreamforce, a andar em um dos robotáxis da Waymo.
Em uma cidade que já tem muitos destinos turísticos, da Ilha de Alcatraz ao tradicional bairro Fisherman’s Wharf, os carros sem motorista se tornaram a mais nova atração. Naquele dia, no centro turístico da ponte Golden Gate, em menos de uma hora pelo menos oito carros da Waymos estavam transportando turistas até o ponto turístico.
Praticamente todos os passageiros disseram que esta era a sua primeira viagem de Waymo e que haviam gostado. Um casal, que viajava com seu minipoodle Paddington em um carrinho de bebê, disse que completava seu terceiro passeio naquele dia. Três integrantes da Marinha que estavam na cidade para um show aéreo anual contaram ter tentado pegar um no dia anterior, mas foram expulsos depois que um deles quis se sentar no banco do motorista.
No final do dia, perto do terminal de balsas, um carro deixou um aposentado local chamado Henry Walker, que estava passeando com a família da Alemanha. Ele contou que era o quarto Waymo naquele dia e que a única preocupação que tinham era se outros carros iriam bater neles.
Walker, de 53 anos, também disse que havia vantagens em não ter um motorista: “A certa altura, estávamos tendo uma conversa pessoal e pensei: ‘O motorista não deveria estar ouvindo isso’ e eu olhei e não havia motorista.”
Os clientes em Phoenix já podem usar o Uber para solicitar viagens da Waymo. A mesma coisa acontecerá em Atlanta e Austin a partir do ano que vem.
Como parte de um acordo com a Waymo, o Uber será responsável por limpar os robotáxis, repará-los e lidar com outras operações de estacionamento em Atlanta e Austin, reduzindo os custos da Waymo.
A Waymo também considera a expansão internacional. Um executivo expressou interesse em trabalhar com parceiros locais na Europa capazes de ajudar a manter a frota de veículos, disse Tim De Ceunynck, especialista em transporte da empresa de investimentos belga LRM, que participou de uma visita para conhecer as operações da empresa.
“Não esperávamos uma resposta muito concreta a essa pergunta, mas na verdade houve uma”, disse De Ceunynck. O executivo da Waymo disse aos visitantes que o esforço exigiria um orçamento de cerca de cem milhões de euros, ou US$ 109 milhões, disse ele.
Um porta-voz da Waymo disse que a empresa tem ambições globais.
Nikhil Devnani, analista da Bernstein em Nova York que cobre o setor de transporte por aplicativo, disse que é difícil avaliar se o serviço é lucrativo.
“Se eles estão começando a crescer e se sentindo melhor com o dimensionamento, presumivelmente estão vendo algo que gostam”, disse Devnani.
Um problema é o aumento dos custos quando os carros trafegam entre um passageiro e outro ou sem passeios. Quase 40% da quilometragem percorrida pela Waymo de setembro de 2023 a maio de 2024 foram sem passageiros, de acordo com dados públicos.
Ex-executivos da empresa disseram esperar que os negócios melhorem conforme carros mais baratos vão sendo introduzidos e novas maneiras de atrair mais clientes são elaboradas, como por meio do aplicativo do Uber. A Waymo disse recentemente que adicionaria à sua frota SUVs Hyundai Ioniq 5, que são mais baratos que os atuais Jaguars, “em volume significativo” até o final de 2025. A Waymo também está se preparando para lançar uma série de veículos personalizados da empresa automobilística chinesa Geely.
Erez Liebermann, ex-promotor federal de Nova Jersey, estava recentemente visitando San Francisco quando um associado lhe disse que ele precisava experimentar um Waymo. Ele baixou o aplicativo e fez uma pequena viagem.
Liebermann, de 50 anos, disse que a experiência o surpreendeu — ele enviou um vídeo para o bate-papo em grupo de sua família e ligou para o FaceTime de seu filho durante parte do passeio para lhe mostrar o volante girando sozinho.
“Minha família está espalhada por Nova York, Nova Jersey, Flórida, D.C. Nenhum desses lugares tem Waymos”, disse ele. “Muitos deles ainda não tinham visto que estão funcionando e, portanto, todos ficaram fascinados.”
Liebermann, que se converteu à Waymo, disse que a empresa precisa de uma campanha de marketing na Costa Leste.
traduzido do inglês por investnews