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Economia

Preço do leite dispara e já pesa no bolso; veja 4 motivos para alta

Aumento dos custos de produção foi impactado por seca, guerra, preço das commodities, alta da energia elétrica e combustível, segundo especialistas.

Aposentada faz pesquisa em supermercados de SP para economizar centavos em sua compra mensal. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews
Aposentada faz pesquisa em supermercados de SP para economizar centavos em sua compra mensal. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

O preço do leite e seus derivados subiu nos últimos meses devido ao aumento dos custos de produção, e essa alta já impacta o bolso do consumidor brasileiro. No campo, o preço pago ao produtor subiu 9,8% em março deste ano em comparação ao mês anterior.

O leite longa vida, que é vendido em caixinhas, teve um aumento de 12,10% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índices de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getúlio Vargas. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, a alta foi de 6,66%.

“Desde 2020, tivemos um acúmulo de custos na produção do leite e derivados que sofreu impactos de fenômenos naturais e aumento da demanda externa. A gente está vivendo um período de inflação de custos de produção gerais”, afirmou Matheus Peçanha, economista do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV.

Consumidores pesquisam preço do leite em supermercado de São Paulo Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews
Consumidores pesquisam preço do leite em supermercado de São Paulo Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

A aposentada Nadir Oliveira, de 70 anos, precisou percorrer alguns supermercados antes de comprar os seis litros de leite que consome durante todo o mês. A economia de poucos centavos no preço do litro de leite pode parecer insignificante, mas faz toda a diferença nas contas da aposentada no fim do mês.

“Pesquisei antes de comprar porque não dá pra fazer muita coisa com salário de aposentada. E não dá pra ficar sem tomar leite, que é importante para a alimentação”, disse, após economizar R$ 1,50 na compra.

O leite longa vida integral, mais barato, não sai por menos de R$ 5 nos supermercados de São Paulo. Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo médio do litro de leite era de R$ 5,31 no mês de março na capital paulista. (Veja mais abaixo).

O servente José Silva Oliveira, de 35 anos, diz que está fazendo um sacrifício para comprar um litro de iogurte, a cada 15 dias, para sua filha.

“Está tudo muito caro, o salário não acompanha o aumento dos preços. Não é fácil não! No início do ano comprava o iogurte por R$ 9, agora pago R$ 12. Tem lugares que já está R$ 14, até R$ 15”, reclama.

Homem pesquisa preço de iogurte em supermercado de São Paulo. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

Para o economista Marcio Sette Fortes, professor do Ibmec RJ, além do aumento dos custos com a produção de leite, houve uma diminuição na produção do produto.

“Essa redução da produção pode ser explicada por uma entressafra do produto ou pela alta do preço da carne de vaca, da arroba do boi no mercado. O produtor diante da alta dos custos de produção do leite que implica na redução das suas margens, muitas vezes, acaba deixando de produzir ou migra para a produção de carne, vendendo a cabeça de gado, devido ao preço estar mais competitivo.”

Inflação do leite e derivados

Além do leite, seus derivados também sofreram com o reajuste de preços provocados pela inflação.

De acordo com o IPC, entre os laticínios, os que tiveram as maiores altas no último ano foram:

  • Requeijão: 16,37%;
  • Iogurte natural ou com polpa de frutas: 12,65%;
  • Queijo prato: 12,17%;
  • Bebidas lácteas: 9,96%
  • Queijo muçarela: 9,75%.

Por que o leite e derivados estão mais caros?

O custo da produção foi encarecido por vários fatores externos e internos, como seca, aumento da demanda externa, alta no preço da energia elétrica e do petróleo, guerra na Ucrânia e aumento das commodities.

Mudanças climáticas

O fenômeno La Ninã provocou uma seca que atingiu a região Sul do Brasil e aumento de chuvas no Nordeste. Com isso, a qualidade dos grãos diminuiu, afetando a produção leiteira.

“Com a seca provocada pelo La Ninã impactando o preço de grãos, como soja e milho, componente importante da ração dos animais, a gente teve uma inflação das proteínas de modo generalizado. E aliado a isso, tivemos a demanda chinesa aumentando com a pandemia, a desvalorização no câmbio e, como somos um países agro, isso acabou incentivando as exportações, gerando uma tendência de desabastecimento no mercado interno e aceleração dos preços”, destacou Peçanha.

O economista da FGV destaca que o período de entressafra, que estamos entrando, deve acelerar ainda mais essa escalada de preços.

“A gente já teve a safra passada prejudicada pelos problemas climáticos e em uma entressafra eleva o fator de risco até que a próxima safra, com condições melhores de produção, estabilize esses preços”, declarou.

Corredor de laticínios de supermercado vazio em SP. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

Invasão russa na Ucrânia

A guerra entre Rússia e Ucrânia também afetou os custos da produção do leite no Brasil devido à valorização das commodities. Como o Brasil é um país focado na agricultura, as exportações aumentaram, provocando escassez do produto no mercado interno.

A Rússia é maior produtora e fornecedora de trigo para o mercado internacional. Já a Ucrânia é o quarto maior fornecedor de milho. Com o conflito, esses países não puderam atender o mercado externo, o que fez aumentar a demanda global pelos grãos.

“O leite vem sofrendo muito com os custos principalmente dos efeitos da guerra. As commodities subiram muito, e os grãos, que servem de alimento, teve o preço repassado para o consumidor final. E, com o clima afetando as pastagens, a alimentação dos animais encarece mais ainda”, disse Piter Carvalho economista da Valor Investimentos.

Além disso, o custo dos fertilizantes ficou mais caro no cenário de incertezas de abastecimento, já que a Rússia é a maior produtora mundial de fertilizantes, o que deixa o preço dos grãos ainda mais alto.

Energia elétrica

Desde setembro de 2021, as contas de energia elétrica estavam mais caras devido à escassez hídrica no país.

A bandeira tarifária, que estava vermelha, passou para verde, quando não há cobrança adicional no uso da luz, em abril deste ano.

A energia elétrica é essencial na produção leiteira e é usada desde a ordenha automatizada das vacas até o resfriamento do leite para evitar a proliferação de bactérias.

Aumento do petróleo

A alta no preço do barril impactou diretamente nos custos da produção do leite, já que as embalagens utilizadas nos produtos são derivados do petróleo. Além disso, o diesel e gasolina, usados no frete, também encarecem o preço ao consumidor final.

Preço do leite

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o consumidor consegue comprar menos da metade da quantidade de leite que comprava há 10 anos utilizando a mesma quantia em dinheiro.

Em 2012, com R$ 50, era possível comprar 20 litros de leite longa vida a R$ 2,45, em média. Atualmente, com o mesmo valor, só é possível levar 9 litros de leite a R$ 5,31.

No ano passado, o litro de leite era vendido, em média, por R$ 4,87, em São Paulo.

Preço no campo

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, o preço do leite captado em março deste ano e pago aos produtores em abril subiu 9,8% em relação ao mês anterior, chegando a R$ 2,4269 por litro na “Média Brasil” líquida.

Em relação ao mesmo período do ano passado, houve aumento de 10,3%. E, desde janeiro, o leite no campo acumula valorização de 10,9% (desconsiderando a inflação).

O economista Marcio Sette Fortes lembra que os bezerros não conseguem se alimentar com os grãos, o que contribui para a alta dos custos do leite.

“A alimentação dos bezerros é feita com leite e o leite acaba representando o próprio custo do produto, pelo próprio preço de venda, para alimentação dos filhotes. O próprio preço do leite em si representa um custo de venda quando é fornecido para os bezerros”, afirmou.

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