Acreditem ou não, chegamos ao final do primeiro semestre de 2020. E o Ibovespa fechou nesta terça-feira (30) recuando 0,71% aos 95,055 pontos. No primeiro semestre do ano, a bolsa brasileira teve queda acumulada de 17,80%.
Passamos por tudo, mas sobrevivemos. O Ibovespa experimentou fases diversas, desde a queda abrupta no começo da pandemia quando despencou para os 80 mil pontos. Até a esperança por dias melhores, quando encostou nos 100 mil. E agora, entre idas e vindas, temos a ameaça de uma segunda onda do coronavírus, enquanto o mercado torce para a vacina sair logo. Mas, para quem desceu no inferno e abraçou o capeta. Anime-se! Teremos dias melhores.
Pelo menos é o que defende Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos, que projeta o Ibovespa entre 100 mil e 120 mil pontos até o final do ano. “No segundo semestre, teremos no cenário externo a eleição americana que vai aumentar a volatilidade e a recuperação do Ibovespa colado no S&P 500”, afirma.
Há quase 2 meses que o Ibovespa vem melhorando seu desempenho, seguindo o índice S&P 500. No cenário interno, Guimarães destaca como pontos positivos a aprovação do marco regulatório de saneamento que deve trazer bons resultados para o mercado, além da expectativa do investidor com a aprovação da reforma tributária e administrativa. Contudo, existem também os riscos macroeconômicos: “Temos o problema fiscal que pode se agravar com o pagamento de auxilio emergencial e pacote de ajuda a estados. E a recuperação do PIB brasileiro”, aponta.
Para Guimarães, a crise política parece não representar mais um problema para os mercados, pelo risco de impeachment ser mínimo e não precificado. “Antes do episódio de Sérgio Moro, as chances de Bolsonaro cair eram altas, mas agora risco político no Brasil pode ser qualquer coisa”, defende.
No caso das companhias listadas, que começam a apresentar seus balanços, o especialista da Levante aponta que o investidor já deu 2020 por perdido, e está mais atento à possibilidade de lucro em 2021. Desta forma, caso não exista um resultado extremamente comprometedor na safra de balanços do 2º trimestre, as apostas ficam voltadas para a divulgação de resultados do 3º trimestre.
As melhores do semestre
Peguem seus lugares que agora começa o desfile, e não é de escola de samba não! E sim das ações campeãs da temporada. A rainha é a B2W (BTOW3) que teve alta acumulada de 72,45% no semestre. A companhia se tornou líder, segundo Guimarães, por causa da agilidade em criar parcerias. No dia 15 de junho, ela anunciou que fechou uma parceria com a Arcos Dourados, dona da marca McDonald’s no Brasil. Com o acordo, a B2W passou a vender fast foood na plataforma digital da companhia, e o mercado adorou.
Outro fator que a levou a liderança foi sua expertise no varejo digital. “É a companhia que mais se aproxima ao ‘estilo Amazon’ de ser e com um ticker médio menor”, explica. Falando em termos de negócios, o especialista acredita que a única concorrência direta da B2W é o Mercado Livre, mas esta companhia ainda é de capital fechado.
Além do comércio digital, a B2W é forte no marketplace. Outro fator que justifica sua liderança é o aplicativo Ame Digital, que já era o queridinho entre os clientes da B2W e Americanas, mas com a pandemia teve um crescimento explosivo.
Com a ação cotada a R$107,05, a B2W superou até a Magazine Luiza e Via Varejo. No acumulado do ano de 2019, o placar fechava assim: Via Varejo avançava 150%, seguida de Magazine Luiza com alta de 112% e no último lugar B2W crescendo apenas 50%.
Mas, agora no primeiro semestre o jogo mudou e B2W é líder absoluta. Mas, os fãs da Via Varejo ainda podem ficar calmos, porque as varejistas não foram esquecidas. A ação da Magazine Luiza (MGLU3) ocupou o 2ª lugar entre as melhores do semestre, subindo 50,65% no período. Já a Via Varejo (VVAR3) ocupou a 4ª posição, com alta de 37,69%.
A concorrência acirrada entre Magazine Luiza e Via Varejo não é recente. Guimarães avalia que a alta da Magalu era algo esperado, por ser uma companhia bem posicionada a nível tecnológico e operacional. Já a Via Varejo passou por um processo de turnaround, que é quando uma companhia que estava em declínio muda o ritmo para forte crescimento.
“O desempenho da Via Varejo melhorou, eles trocaram de diretoria, aumentaram a venda digital. Fizeram uma oferta de ações para aumentar o capital. E uma emissão de debêntures para alongar uma dívida”, explica ele. Com o crescimento acelerado do varejo eletrônico, a Via Varejo pegou carona e também disparou. No entanto, o especialista ainda compara as companhias com eterna guerra dos refrigerantes. “A Magazine Luiza ainda é a Coca Cola e a Via Varejo a Pepsi”, brinca.
O 3ª lugar ficou por conta da Weg (WEGE3), que teve alta acumulada de 48,79%. Uma ação defensiva muito procurada pelos fundamentos. Segundo Guimarães, a Weg cresceu 15% ao ano nos últimos 10 anos. Embora seja considerada cara por alguns, atualmente cotada a R$ 50,61, é uma ótima alternativa a longo prazo por causa dos resultados. “É uma ação bem posicionada no mercado exterior, com receita em dólar e sólida posição de caixa”.
Com o aumento de investidores pessoa física na pandemia, a Weg foi uma das mais procuradas quando o risco era elevado e também quando o endividamento das companhias aumentou. A empresa foi uma das poucas a recuperar as perdas da Covid-19.
Outra que se beneficiou pelo aumento de CPFs na renda variável foi a B3 (B3SA3), 5º lugar entre as líderes, que fechou o semestre com alta de 30,67%. A média negociada nos pregões foi de R$ 40 bilhões diários. Sem concorrência e com a explosão de pessoas físicas investindo, somado a Selic em 2,25%, a B3 faz a festa. A bolsa ganha também nos derivativos e fundos de ações.
Confira as 10 melhores ações do semestre:
Ação | Valorização semestral |
B2W (BTOW3) | 72.45% |
Magazine Luiza (MGLU3) | 50.65% |
Weg (WEGE3) | 48.79% |
Via Varejo (VVAR3) | 37.69% |
B3 (B3SA3) | 30.67% |
Marfrig (MRFG3) | 26.31% |
Lojas Americanas (LAME4) | 24.73% |
Klabin (KLBN4) | 12.22% |
Tovts (TOTS3) | 8.90% |
Vale (VALE3) | 5.38% |
As piores ações do semestre
Agora entramos no Vale das Sombras, onde estão as 10 piores posições do mercado desde que 2020 começou.
A pior ação não surpreende, é o IRB Brasil (IRBR3) que teve queda semestral de 71,42%. A história da companhia é uma reviravolta. Recentemente divulgou o balanço do 1º trimestre, com lucro de R$ 13,8 milhões. Mas, um tombo de 92.2%, em relação ao mesmo período do ano passado.
IRB Brasil está tentando fazer as pazes com seu passado, bem conturbado e com as marcas de múltiplos escândalos de governança. Cristiano Correa, professor de finanças do Ibmec, destaca entre os principais pecados da companhia neste semestre: o boato de que a Berkshire Hathaway, do Warren Buffett, era acionista; uma ação do TJ que obriga a resseguradora a ressarcir perdas nos investimentos e problemas com pagamentos de dividendos, além do permitido.
A ação que fechou nesta terça-feira (30) cotada a R$11, já teve péssimos momentos com os papéis fechando a R$6,64. Em janeiro, a ação estava cotada a R$44,9. Apesar da sua tentativa de recuperação, o IRB Brasil ainda está abaixo da sua média de 200 dias (R$21,25).
Na segunda-feira (29), a resseguradora divulgou um fato relevante onde anunciava que concluiu as investigações dos culpados por divulgar o boato da Berkshire, além de assumir sua responsabilidade na distribuição desproporcional de dividendos. No documento, IRB se compromete a fortalecer seu compliance. Além disso a companhia contratou o Bradesco BBI e o Itaú BBA para estruturar um aumento de capital que siga as exigências da Susep. O objetivo desta estratégia é fortalecer a estrutura de capital do IRB, melhorando a situação do caixa para os próximos anos.
“É nítido que o problema do IRB Brasil não é operacional e sim uma questão de governança. É importante ter capital disponível para que não aconteçam novas irregularidades”, defende Correa. Com esta reestruturação, a expectativa do mercado é que o IRB possa se recuperar. “Mas, ainda é preciso ter cautela com os papéis”, adverte.
Ainda entre as piores ações do semestre, outro sinal de alerta é para o setor aéreo. Azul (AZUL4), Embraer (EMBR3) e Gol (GOLL4) que ocupam a 2ª, 3ª e 6ª posição.
Para Cristiano Correa, o problema das companhais aéreas vai muito além de retomada econômica. Esta relacionado a mudança de comportamento do consumidor com viagens e para isso nem a vacina salva. “É um problema de negócios, antes da pandemia 60% das viagens eram profissionais. Agora com as reuniões virtuais, muitas empresas vão enxergar isso como desnecessário”, explica. Com o mundo online em alta, será preciso se reinventar para salvar o setor e para isso é preciso tempo. “Mesmo que a economia volte a crescer, as companhias aéreas devem demorar na recuperação”, acrescenta.
Destas 3 companhias, o ponto de risco é a Gol, por ser extremamente alavancada, com passivo oneroso elevado comparado ao faturamento da companhia. “Ela vai sofrer mais que Azul”, analisa Correa. Já para Embraer (EMBR3) ainda há esperanças, quando um novo parceiro substituir a Boeing. E tudo indica que pode ser uma companhia chinesa.
Outra ação que ainda chora amarguras é a Cielo (CIEL3), que recuou 44,35% no semestre. A companhia estava se recuperando apesar da pandemia. De 14 de maio até 18 de junho teve alta de quase 81%. Contudo, na tentativa de garantir inovação ao seu negócio, com a parceria de pagamentos via Whatsapp, o Cade frustrou os planos desta e longe da Cielo subir, voltou a cair com força até o desempenho atual. Agora em novembro, deve encarar mais um desafio, com a chegada do PIX (Pagamentos Instantâneos) que deve fragilizar ainda mais sua posição na guerra das maquininhas.
“A Cielo é uma companhia com gestão complexa pelo seu tamanho. E comparada com as concorrentes Stone, PagSeguro, que tem dívidas pequenas, o futuro para ela não será fácil”, conclui Correa.
Confira as 10 piores ações do semestre: