Depois de resolver as suas pendências com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a plataforma de crowdfunding de investimentos Divi Hub voltou à ativa em agosto.
Embora recém-nascida, em julho de 2021, o parto foi bastante tortuoso até a plataforma conseguir conquistar a confiança dos órgãos reguladores. Apesar dos conflitos, o CEO e fundador Ricardo Wendel continuou firme com o objetivo de trazer ao mercado um investimento alternativo por meio do qual o investidor poderia financiar projetos dos seus influenciadores, músicos e artistas preferidos com tokens.
Após a CVM ter revogado a suspensão da Oferta Metaforando, destinada a captar R$ 4,7 milhões para um reality show sobre linguagem corporal inspirado no jogo Among Us, a Divi Hub reativou outras cinco ofertas disponíveis na plataforma.
Em entrevista ao InvestNews, a Divi Hub confirmou que toda semana deve lançar ao mercado uma nova oferta de crowdfunding, entre os cinco projetos que já aguardam na fila. Até o final de 2021, o CEO Ricardo Wendel pretende levar ao mercado 20 ofertas de financiamento coletivo.
A seguir apresentamos os detalhes sobre esta modalidade de investimento:
O que é a Divi Hub?
A Divi Hub é uma plataforma de financiamento coletivo (crowdfunding) regulada pela Instrução CVM 588, por meio da qual os investidores podem comprar tokens, também chamados de DIVIs, e se tornar sócios dos seus influenciadores, músicos e artistas preferidos. O valor de cada token é de R$ 10.
Segundo Wendel, a ideia surgiu na tentativa de democratizar os investimentos alternativos com um custo baixo, desta forma, as pessoas financiam projetos de influenciadores que conhecem e com os quais se sentem identificados. Diferentemente do mercado tradicional, onde segundo Wendel muitos brasileiros ainda são distantes de títulos de renda fixa ou ações.
Em um segmento que cresce com força no Brasil, investir em influenciadores foi o jeito que Wendel encontrou para o investidor receber parte dos lucros dos projetos destes por meio de dividendos.
Outro motivo para criar a Divi Hub foi a segurança do mercado de criptoativos, principalmente para investidores leigos. “Se você perde a sua senha das criptomoedas pode até perder todos seus investimentos”, comenta.
Na Divi Hub o processo de investir é simples, segundo Wendel, basta baixar o aplicativo, preencher um cadastro, carregar a carteira digital via boleto ou cartão de crédito, analisar as ofertas e investir no financiamento do seu interesse.
A plataforma também permite que menores de idade invistam, desde que registrados por um adulto responsável. Wendel explica que toda vez que o menor fizer um transação, o adulto responsável receberá uma notificação sobre a aplicação.
Atualmente além do Metaforando, a Divi Hub conta com cinco projetos disponíveis: o Bees, um reality show da youtuber e gamer Bibi Tatto. O objetivo é ter uma casa com influenciadoras morando lá e criando conteúdo. Os investidores terão o direito de escolher a casa, a decoração e até as influenciadores participantes, além de se beneficiar com a receita gerada pelo projeto.
Também tem o Stand up Favela, projeto focado em um reality show de comediantes com jovens da periferia. O Street Bots que pretende criar o Campeonato Oficial de Guerra de Robôs no Brasil e o Desafio Final UTC que busca fazer um reality show para pessoas que adoram trocadilhos.
E para aqueles que assistiam Avaiana de Pau durante a infância, os criadores Irmãos Piólogos também estão com uma oferta na Divi Hub. O objetivo é arrecadar dinheiro e lançar uma série de animação 2D com 26 episódios com o nome Irmãos Piólogos no Inferno.
Segundo a Divi Hub, até o começo de setembro todas as ofertas devem estar abertas à captação, está previsto um lançamento por semana. Até o final do ano, a meta são 20 ofertas, embora o CEO já tenha conversado 70 influenciadores.
Como o investidor pode ganhar dinheiro?
Segundo o CEO da Divi Hub, existem três formas como o investidor pode ganhar dinheiro por meio dos DIVIs (tokens).
A primeira é pela distribuição de lucros ou receita dos projetos. Por exemplo, no caso da oferta Metaforando o objetivo é captar R$ 4,7 milhões em troca de 20,5% de participação para os fãs na forma de 470 mil DIVIs.
Wendel exemplifica: suponhamos que a Operação Metaforando começa a gerar receita no Youtube, no Twitter ou recebe algum patrocínio de marcas, 20,5% desses lucros serão destinados aos investidores.
Então, se o lucro fosse de R$ 1 milhão, o total de R$ 205 mil seria distribuído entre os investidores, proporcionalmente ao número de DIVIs que estes compraram. Na Metaforando, por exemplo, cada DIVI equivale a 0,000043617% de participação nos dividendos do projeto, segundo o prospecto da oferta.
Os investidores só recebem essa divisão dos lucros após 1 ano do lançamento do projeto.
Ainda na distribuição, o influenciador também pode optar por remunerar seus fãs e investidores por meio da divisão de receita. “Imagine que alguém lança uma música e sobe no Spotify, o influenciador pode distribuir 10% do lucro para os seus investidores e ficar com 90%”, exemplifica Wendel.
Neste caso, a distribuição de receita ocorreria de acordo com a frequência escolhida pelo influenciador, podendo ser mensalmente ou trimestralmente.
A segunda forma de ganhar dinheiro é com a recompra dos DIVIs, quando o influenciador decide recomprar os tokens dos investidores por um valor combinado entre as partes. Por exemplo, um influenciador pode recomprar um token por R$ 15, desta forma o investidor ganharia R$ 5 por cada token além da divisão dos lucros do projeto até o momento.
A terceira opção é ganhar dinheiro com a valorização dos DIVIs. Wendel explica que cada oferta pode captar um limite de R$ 5 milhões, o que representaria 500 mil DIVIs de R$ 10 cada unidade. Quando a oferta fecha, é impossível comprar mais DIVIs.
Em consequência, se um investidor quer sair do financiamento coletivo precisará vender seus DIVIs a outra pessoa que queira entrar, por meio de grupos de WhatsApp, Fóruns ou comunidades nas redes sociais. Nesta venda, o investidor pode oferecer seus tokens por um valor superior a R$ 10, ganhando com a valorização dos DIVIs.
Contudo, não existe nenhum tipo de intermediação da Divi Hub nesta venda. Este foi um dos principais problemas que a plataforma já enfrentou com a CVM, já que a existência de um mercado secundário para negociar ativos é proibida no crowdfunding.
“A venda do token fica por conta do investidor e após realizada a Divi Hub faz uma escrituração com registro de cessão do ativo para o novo comprador”, destaca Wendel.
Como a Divi Hub ganha dinheiro?
A Divi Hub não cobra nenhum valor dos investidores para manter a carteira digital ou participar das ofertas, a remuneração da plataforma ocorre diretamente com os influenciadores por meio de duas formas.
A primeira é uma comissão que a Divi Hub cobra dos influenciadores pela captação dos recursos, que corresponde a 9% de todo o dinheiro arrecadado na oferta.
Além deste percentual, o influenciador também paga uma taxa por manter seus tokens ativos, uma espécie de mensalidade de 1 centavo por token. Wendel esclarece que no primeiro ano de projeto o valor é de 3 centavos por token e a partir do segundo ano o valor se reduz a 1 centavo.
Então se um influenciador captou R$ 1 milhão, ele terá em custódia 100 mil tokens e a mensalidade no primeiro ano seria de R$ 3 mil.
Wendel aponta que a maioria dos projetos têm um plano de negócios de 5 anos, no entanto ele esclarece que nada impede que exista uma perpetuidade, por exemplo algum reality no estilo Big Brother Brasil.
Segundo o CEO da Divi Hub, qualquer influenciador pode inscrever seu projeto para financiamento coletivo na plataforma, desde que esteja disposto a ser transparente com seus números, receita, seguidores, entre outros. Por meio da Divi Hub é possível captar até R$ 5 milhões por oferta.
Wendel afirma que o número de seguidores nem sempre é critério de escolha dos projetos, no entanto o engajamento destes conta muito na hora da decisão. A plataforma já conversou com mais de 70 influenciadores, alguns com 500 mil seguidores e outros com até 40 milhões.
Após a primeira oferta de R$ 5 milhões, o influenciador pode ainda captar mais capital por meio de novos financiamentos.
Quem pode investir?
Qualquer pessoa cadastrada na plataforma, seja maior de idade ou menor com autorização de um adulto responsável, está habilitada a comprar DIVIs, contudo existem alguns limites de acordo com o perfil do investidor, segundo a Instrução 588 da CVM.
- Pessoas que ganham até R$ 100 mil por ano ou tem investimentos nesse valor podem investir até R$ 10 mil por ano.
- Aqueles que ganham mais de R$ 100 mil no ano ou possuem investimentos superiores a esse valor, podem investir até 10% da sua renda ou do seu patrimônio.
- Os investidores qualificados não tem limite de investimento.
Para investir, a pessoa precisa carregar a sua carteira digital, por meio de boleto ou cartão de crédito. Na sequência, é só escolher uma oferta, na plataforma é possível encontrar os detalhes de cada projeto, com um prospecto que apresenta informações desde destinação do dinheiro, percentual dos dividendos até eventuais riscos da oferta.
Enquanto a oferta não fecha, o dinheiro dos investidores é enviado para uma conta garantia do Fitbank, e apenas se a captação alcançar a meta estabelecida (2/3 do valor da oferta), o recurso é transferido para o influenciador.
Mas se isso não ocorrer no período de até 6 meses, a oferta é cancelada e o dinheiro é devolvido aos investidores.
Até o momento é possível investir na Divi Hub apenas no Brasil, mas Wendel apontou ao InvestNews que tem planos de expandir a plataforma para os Estados Unidos e Reino Unido em 2022. Segundo ele, estes países são mais avançados na temática de crowdfunding e possuem mercado secundário para estes ativos.
No entanto, ele esclarece que os investidores brasileiros da Divi Hub também poderão comprar ativos do exterior, em um modelo semelhante ao da corretora Avenue Securities, que Wendel pretende replicar.
Vantagens do investimento
Segundo o CEO da Divi Hub, a principal vantagem de investir na plataforma é a diversificação de portfólio com uma entrada de R$ 10.
Outro benefício é que o aplicativo é de fácil uso e o investidor não precisa de uma conta em banco ou corretora para comprar os tokens.
Wendel também cita a oportunidade do investidor ser sócio de projetos e influenciadores que gosta e financiar conteúdos que consome diariamente.
Além da distribuição de lucros ou receita, os investidores têm acesso a uma comunidade exclusiva com benefícios diversos. “O artista pode fazer um show e reservar a primeira fileira apenas para seus investidores”, exemplifica Wendel.
Riscos da Divi Hub
Assim como os benefícios, os riscos também são diversos. O primeiro é que os investimentos alternativos não possuem proteção de crédito nem garantias e o investidor pode perder todo seu dinheiro aplicado.
Neste caso, se o projeto do influenciador que está sendo financiado tiver problemas e não gerar receita, o investidor pode perder o valor investido sem direito a devolução. Contudo, Wendel aponta que por se tratar de youtubers e influenciadores, muitas vezes a comunidade de investidores consegue mitigar esse risco, ao estilo GameStop. “Se o projeto não está performando bem e a comunidade se mexe e divulga há chances maiores de recuperação”, afirma.
Também tem o risco de o projeto desvalorizar ou não ter lucro, neste caso se o investidor fechou um contrato de distribuição de 20,5% do lucro do projeto, ele só receberá dividendos se a companhia tiver algum tipo de lucro, mas este valor não é fixo. Se não houver lucro, também não terá dividendos.
Wendel cita o risco de cancelamento do influenciador, movimento muito recente nas redes, que pode acabar prejudicando o projeto e os investidores. E a falta de liquidez, pela inexistência de um mercado secundário é possível que o investidor não consiga vender seus tokens antes do fim da financiamento, ficando preso ao projeto embora ele continue sendo remunerado pelos dividendos.
O que aconteceu com a CVM?
Para quem não acompanhou a história da Divi Hub com a CVM, envolvendo a plataforma em duas suspensões, explicamos aqui.
A primeira suspensão ocorreu por que a CVM entendeu que a Operação Metaforando se tratava de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP) quando na realidade era uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) que se enquadrava na Instrução CVM 588.
Já a segunda suspensão aconteceu quando a autarquia identificou que Divi Hub poderia estar disponibilizando um ambiente na plataforma para que os investidores negociem seus ativos em uma espécie de mercado secundário, o que pela norma estaria proibido para crowdfunding.
O InvestNews consultou a CVM se a Divi Hub está apta a retomar suas operações sem representar um risco para o investidor. A autarquia confirmou que a plataforma já solucionou todas suas pendências e irregularidades e pode retomar suas ofertas de financiamento coletivo.
Em comunicado divulgado no dia 4 de agosto, a CVM informou que a Divi Hub corrigiu as irregularidades e fez uma série de modificações garantindo que os valores mobiliários ofertados não serão objeto de negociação secundária em nenhum ambiente.
Desde o dia 5 de agosto, a Divi Hub já está aberta para novos investimentos.
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