Assaí (ASAI3), Carrefour (CRFB3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), companhias que atuam no varejo de alimentos brasileiro, já reportaram seus balanços do terceiro trimestre. Mas quem levou a melhor e a pior nessa corrida? Em meio a um cenário de aumento de preços, renda limitada e desemprego elevado, o modelo atacarejo se destacou e, consequentemente, Assaí e Carrefour, dono do Atacadão, tiveram uma performance melhor.
Em entrevista ao Investnews, Daniella Eiger, head de varejo da XP Investimentos, explica que o Grupo Pão de Açúcar (GPA) se destacou negativamente entre seus concorrentes. A companhia reverteu lucro líquido registrado no terceiro trimestre do ano passado, ao contabilizar prejuízo de R$ 88 milhões no mesmo intervalo deste ano, acima dos R$ 61 milhões previstos pela XP.
Além disso, o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, de R$ 794,8 milhões, também ficou 4,7% abaixo do projetado pela casa de investimentos.
Daniella apontou que o pior resultado do GPA está ligado ao desempenho ruim do varejo, que tem enfrentado desafios diante de um cenário de inflação elevada e renda comprimida.
“As pessoas procuram marcas e itens mais baratos, e isso impacta na margem das empresas. Além disso, no supermercado, em geral, se paga mais caro, e o consumidor vai atrás de outros canais, como o atacarejo, em busca de um melhor custo-benefício”, apontou.
Neste contexto, Daniella acrescentou que o GPA é o único, entre as três bandeiras, 100% exposto ao varejo. “A dinâmica de resultado do braço de varejo do Carrefour, por exemplo, foi muito parecida com a do GPA, só que ele teve uma contraposição que foi o Atacadão, que registrou resultados fortes”, esclareceu.
Vale lembrar que o GPA fechou a venda de 71 pontos comerciais da bandeira Extra Hiper para o Assaí (ASAI3), além de anunciar que desistiu operar com o modelo de hipermercado no Brasil em meio à forte concorrência do atacarejo.
Em release de resultados, o Grupo Carrefour Brasil aponta que as vendas consolidadas da empresa, que atingiram R$ 20,8 bilhões no terceiro trimestre, um crescimento de 7,7% ante o mesmo trimestre do ano anterior, foram suportadas pelos 14,3% de crescimento total observados no Atacadão. No terceiro trimestre, a bandeira alcançou R$ 15,5 bilhões em vendas brutas.
Em relatório, Daniella e os analistas da XP Thiago Suedt e Gustavo Senday lembraram que o GPA sofreu um forte impacto em sua margem bruta no Brasil (queda de 2,5 ponto percentual no comparativo anual) em decorrência deste cenário macro mais difícil, levando a menor margem Ebitda ajustada desde 2018 na região (em 5,8%).
O braço de varejo do Carrefour também não ficou para trás e registrou a pior margem Ebitda desde o primeiro trimestre de 2019, devido à busca por produtos mais baratos por parte dos clientes, investimentos em seu programa de fidelidade e base de comparação da categoria não alimentar elevada.
Atacarejo
Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, analistas do Goldman Sachs, afirmaram que estão otimistas com o segmento de atacarejo no Brasil justamente por ser um modelo “defensivo” em um contexto macro mais fraco e inflação de alimentos persistentemente alta.
“O setor também oferece algumas das histórias de construção orgânica mais convincentes, com Assaí e Atacadão prontos para aumentar a área de vendas em uma média de 14% e 7,5% em 2022 e 2024″, disse a equipe do banco de investimento.
Daniella da XP reiterou que o modelo atacarejo já vinha tendo uma performance robusta e consistente, antes mesmo da pandemia, por se posicionar com uma boa proposta de valor que visa o custo-benefício, ganhando participação em relação aos hipermercados.
Ela recomenda o investimento em papéis de companhias justamente porque estão mais “blindadas” nesse momento desafiador e que, ao mesmo tempo, devem também se beneficiar da retomada da circulação das pessoas no pós-pandemia.
“Houve uma demanda maior dos supermercados na pandemia que agora vai ser normalizada com a volta ao consumo fora de casa, mas o atacarejo tem uma contraposição porque também atende o comércio”, explicou.
Embora as margens de Assaí e Atacadão tenham ficado próximas, a head de varejo da XP lembra que por ser menor, o Assaí tem mais espaço para uma expansão orgânica acelerada, e, portanto, tem a preferência dos analistas da corretora. Enquanto o Assaí registrou crescimento anual médio de receita de 24%, entre o terceiro trimestre de 2019 e o terceiro trimestre deste ano , o Atacadão contabilizou avanço de 22,5%.
Performance na B3
Ticker | Variação no mês | Variação no ano |
ASAI3 | 2,16 | Papéis começaram a ser negociados na bolsa em março após cisão com o GPA |
CRFB3 | 3,31 | -9,55 |
PCAR3 | -8,54 | -60,27 |
Confira os números trimestrais reportados pelas companhais
GPA | 3° trimestre de 2021 | 3° trimestre de 2020 | Variação anual |
Receita líquida | R$ 12,084 milhões | R$ 12,064 milhões | 0,20% |
Ebitda Ajustado | R$ 794 milhões | R$ 944 milhões | -15,90% |
Lucro/prejuízo líquido atribuído aos sócios controladores | Prejuízo de R$ 89 milhões | Lucro de R$ 386 milhões |
Assaí | 3° trimestre de 2021 | 3° trimestre de 2020 | Variação anual |
Receita líquida | R$ 10,845 milhões | R$ 9,250 milhões | 17,2% |
Ebitda Ajustado | R$ 838 milhões | R$ 696 milhões | 13,90% |
Lucro/prejuízo líquido atribuído aos sócios controladores | Lucro de R$ 538 milhões | Lucro de R$ 437 milhões | 23,1% |
Carrefour Brasil | 3° trimestre de 2021 | 3° trimestre de 2020 | Variação anual |
Receita líquida | R$ 19,856 bilhões | R$ 18,218 bilhões | 9% |
Ebitda Ajustado | R$ 1,48 bilhão | R$ 1,33 bilhão | 10,80% |
Lucro/prejuízo líquido atribuído aos sócios controladores | Lucro de R$ 638 milhões | Lucro de R$ 687 milhões | -7,10% |