O resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do esperado mudou as projeções a inflação em 2022 de diversos analistas e economistas. Além disso, o dado também aumentou as dúvidas sobre o fim do ciclo de alta taxa Selic, já que a inflação mais forte e persistente que o esperado pode demandar mais juros para controlar os preços.
Nesta sexta-feira (8), o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) informou que o IPCA em março ficou em 1,62% – acima das expectativas de 1,3% do mercado e o maior patamar para o mês desde 1994. Com isso, o indicador atingiu 11,3% em 12 meses, mais de três vezes a meta do governo para o ano.
Após a divulgação do dado, diversas casas anunciaram revisões de suas expectativas para a inflação. O Itaú Unibanco informou nesta sexta que elevou a projeção para o IPCA 2022 de 6,5% para 7,5%, refletindo o maior repasse dos reajustes recentes de combustíveis, seus efeitos secundários e uma inflação de bens industriais mais prolongada.
O Bank of America também aumentou suas estimativas para o IPCA neste ano e no próximo, a 8% e 4,5%, respectivamente, dizendo que isso se justifica por surpresas recentes para cima nas leituras do índice e pressões contínuas de inflação.
Em relatório nesta sexta-feira, o BofA disse esperar que a inflação atinja o pico deste ano em abril, com alta de 11,5% em 12 meses. “O governo anunciou que a bandeira tarifária de energia será substituída pela ‘verde’, o que deve trazer algum alívio no curto prazo”, avaliou David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia para América Latina do BofA.
A Necton revisou o IPCA para o fim de 2022 de 6,77% para 7,4% nesta sexta. Enquanto isso, a Renascença elevou a estimativa para o IPCA em 2022 de 6,4% para 6,5%, também após a surpresa dos dados de março.
Os especialistas do Credit Suisse, por sua vez, não revisaram a projeção para a inflação, que segue em 7,8% para 2022, uma vez que, argumentam, a surpresa com o IPCA de março provavelmente será compensada pela recente queda nos preços do petróleo. “No entanto, continuamos a ver um risco de alta para a inflação neste ano“, disseram em relatório nesta sexta.
As revisões de inflação já vinham acontecendo mesmo antes da divulgação do IPCA de março nesta sexta. A XP, por exemplo, elevou na terça-feira (5) suas estimativas de inflação para este ano e o próximo, de olho nos efeitos da guerra na Ucrânia sobre os preços ao consumidor. A instituição financeira espera que o IPCA suba 7% em 2022 e 4% em 2023, contra taxas de 6,2% e 3,8%, respectivamente, previstas em cenário anterior.
Taxa Selic
O avanço da inflação vem na esteira da indicação do Banco Central de que o ciclo de alta da Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, estaria próximo do fim. Em seu último comunicado, o Comitê de Política Monetária Nacional (Copom) apontou que, após subir os juros para 11,75% ao ano, elevaria a taxa pela última vez neste ciclo na próxima reunião, em maio, em mais um ponto percentual. Com isso, a Selic estacionaria em 12,75% ao ano.
Mas diversas casas enxergam a taxa em um patamar superior nos próximos meses. No relatório divulgado nesta sexta, o Credit Suisse disse que o cenário de inflação reforça a expectativa de que o Banco Central terá de continuar a subir os juros depois de maio.
“O resultado de hoje reforça nosso cenário de que o Banco Central precisará revisar suas projeções de inflação de 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023 e, em seguida, revisar seu cenário-base para a política monetária de interromper o ciclo de aperto em maio”, disseram Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho. Os profissionais do banco seguem estimando que o BC elevará a Selic em 1 ponto percentual em maio, 0,75 em junho e 0,5 em agosto, levando a taxa para 14%.
A Suno Research também não espera o fim do aperto da Selic em maio. “A inflação segue disseminada e será um fator importante para a próxima reunião do Copom. A nossa expectativa é de que o BC não encerre o ciclo de altas na próxima reunião e leve a taxa acima dos 13%”, disse em comentário o economista-chefe, Gustavo Sung, nesta sexta.
O BofA avaliou que o cenário e inflação pressionada corrobora a visão de que o BC “não será capaz de interromper o ciclo de aperto monetário em maio”, e manteve a previsão anterior de que os juros básicos chegarão a 13,25% em junho deste ano, mas com riscos estão inclinados para cima.
Em comentário após a divulgação do IPCA de março, o economista-chefe da Necton, André Perfeito, disse que “a leitura preliminar dos dados reforça a perspectiva de que o BC terá que, de fato, subir a Selic também na reunião de junho”. Ele prevê um aumento de 1 ponto percentual em maio e de 0,5 ponto em junho, “pelo menos”, “o que fará a taxa chegar em 13,25%“.
Já o Itaú segue vendo Selic de 13,75% ao término de 2022, com altas de 1 ponto percentual em maio e de 0,5 ponto em cada uma das duas reuniões seguintes, diante da inflação pressionada e da alta das projeções para o aumento dos preços em 2022 e 2023.