O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerra nesta quarta-feira (21) sua reunião para decidir o rumo da Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. A expectativa é pela manutenção dos juros no patamar de 13,75% ao ano, mas uma alta de 0,25 ponto percentual, a 14%, não está totalmente descartada.
Segundo dados da B3 sobre contratos de opção de Copom, considerando a expectativa do mercado, a probabilidade de manutenção da taxa Selic na reunião desta semana é de 64%. Se isso se confirmar, será a primeira vez em que Copom decide deixar a taxa inalterada desde janeiro de 2021. Também é vislumbrada uma possibilidade de alta de 0,25 ponto, mas a probabilidade é menor, de 36%.
A maior dúvida do mercado é em relação ao que deve acontecer em seguida, na reunião de outubro. Os dados da B3 sobre opção de Copom mostram o mercado dividido nas expectativas: 46% de probabilidade de alta de 0,25 ponto percentual e 52% de manutenção.
O economista-chefe do Daycoval Asset, Rafael Cardoso, afirma que o mais provável é que o BC mantenha a Selic estável em 13,75% ao ano na reunião encerrada nesta quarta, mas ressalta que a possibilidade de uma elevação a 14% também deve ser considerada. Ele afirma, no entanto, que após a reunião o cenário, ficará mais claro e a taxa de juros não deverá sofrer alterações até meados do próximo ano.
Em 2023, o economista acredita que o BC pode cortar a Selic para 11,75% ao ano, em um contexto de desinflação ocorrendo de forma mais lenta na comparação com 2022. “A característica da inflação em 2023 é que irá mudar, uma vez que acreditamos que a parte de tradables (itens negociados no mercado externo) contribuirá para uma inflação mais baixa, enquanto o ‘vilão’ será o preço de serviços”, afirma Cardoso.
Para o gerente de investimentos do Paraná Banco, Gustavo Batista Wanderley, o Copom deve encerrar o ciclo de alta de juros no patamar atual de 13,75% ao ano, com os dados recentes de inflação indicando que não será necessário continuar aumentando os juros. Ele aponta que, agora, a grande questão passa a ser a velocidade de redução dos juros em 2023.
Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, vê “maior probabilidade” de elevação da Selic nesta reunião a 14%. “O principal argumento para uma elevação residual da Selic é de que ainda é preciso terminar o trabalho no combate da inflação”, afirma.
Apesar da deflação do IPCA nos últimos meses, muito por conta das medidas tributárias e reajustes da Petrobras, em agosto, sete dos nove grupos pesquisados registraram alta. Se retirarmos do IPCA os combustíveis e energia, o índice apresentaria uma variação positiva
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
Cassiano Konig, sócio-fundador da GT Capital, também acredita que a Selic será elevada em 0,25 ponto nesta quarta, em uma decisão “com o objetivo de tentar conter a volatilidade externa”.
‘Super Quarta’ também tem Fed
Também nesta quarta, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anuncia sua decisão de política monetária. A expectativa é por uma nova elevação dos juros, em meio a um contexto de inflação ainda distante da meta no país.
O mercado acredita em uma alta de 0,75 pontos percentuais, mas há alguns agentes vislumbrando a possibilidade de um aumento ainda maior, especialmente após a divulgação de dados de inflação acima do esperado nos Estados Unidos.
“A decisão em si deve vir com uma alta de 0,75 p.p., mas o mercado tem apostado minoritariamente em uma alta de 1,0 p.p., o que não está fora do radar na nossa visão, mas ainda assim bem menos provável”, disseram analistas da Guide Investimentos em relatório.
A decisão impacta o Brasil porque, com juros mais altos, os Estados Unidos se tornam mais atraentes para investidores, já que são considerados um mercado mais seguro. Isso pode elevar a demanda por dólares e a saída de recursos de mercados mais arriscados, como o Brasil – o que causaria uma queda do valor do real frente ao dólar e recuo da bolsa de valores brasileira.
Analistas da Levante comentam que os números mais recentes sobre a inflação “lançaram uma sombra de desconfiança sobre a normalização do processo inflacionário americano”, acrescentando que uma elevação de um ponto percentual dos juros seria a maior em quatro décadas.
“O impacto de uma forte elevação dos juros sobre a economia é mais difícil de prever”, disseram os especialistas em relatório. “Daí a incerteza que ronda o mercado quanto à decisão do Fed. Se for seguir o manual, o BC americano terá de seguir elevando os juros. A questão é se o manual está suficientemente atualizado para os desafios atuais.”
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