Os preços do minério de ferro estão a caminho de encerrar 2022 no menor nível dos últimos três ou quatro anos e provavelmente cairão no próximo ano também, com a China e a Europa cortando a produção de aço, enquanto a pressão aumenta com a oferta adicional.
As previsões de preços para o principal ingrediente da siderurgia variam de cerca de US$ 90 a tonelada a uma alta de US$ 115 até o final do ano, mostra uma pesquisa da Reuters com cinco analistas e pesquisadores.
Os preços de fim de ano não chegam nesse território desde 2019, quando ficaram em US$ 93 a tonelada, acima do nível ainda mais baixo de 2018 de US$ 72,60, mostram dados da consultoria SteelHome.
“A desaceleração da Covid-19 e do setor imobiliário continua a pesar na demanda de aço na China”, disse Malan Wu, diretor de pesquisa da consultoria Wood Mackenzie.
“Os preços nos países ocidentais permanecerão moderados pelo resto do ano por causa da fraca demanda, alta inflação e temores de recessão.”
Os preços spot do minério com destino à China, fabricante de cerca de metade do aço do mundo, caíram cerca de 40% em relação ao pico deste ano, acima de 160 dólares em março, à medida que refletem as duras restrições da Covid-19 e o setor imobiliário local com uma crise de liquidez e uma demanda fraca.
A Austrália, maior exportador mundial do minério, projeta queda de 0,6% na produção global de aço este ano, para 1,947 bilhão de toneladas, considerando quedas de 2% e 7,1% na China e na União Europeia, respectivamente.
“Combinados com os crescentes temores de recessão global, novos surtos de Covid-19 e a fraqueza no setor imobiliário da China reduziram a demanda mundial de aço e minério de ferro nos últimos meses”, disse o governo australiano em um relatório trimestral este mês.
A China compra quase 70% do minério de ferro seaborne e cerca de dois terços disso é fornecido pela Austrália.
As consequências do conflito na Ucrânia ainda estão prejudicando os mercados, acrescentou o relatório, ao enxugar a oferta de minério, enquanto uma crescente crise de energia prejudica a produção de aço da Europa.
Um colapso nos preços do minério atingiria grandes produtores, como o Grupo BHP, Rio Tinto, Vale SA, e outros na Austrália e no Brasil, segundo maior fornecedor.
Mas algumas companhias, como a BHP, a maior mineradora listada do mundo, não se incomodam.
“Estamos confiantes o suficiente para dizer que, no mínimo, a China será uma fonte de estabilidade no próximo ano”, disse Huw McKay, vice-presidente de análise de mercado e economia da empresa.
Essa confiança é reforçada pela determinação da China de fortalecer sua economia com medidas de estímulo, em contraste com a tendência global de aperto, acrescentou.
Analistas do JP Morgan cortaram suas previsões de preço do minério de ferro no mês passado, para 103 dólares a tonelada no segundo semestre de 2022, ante 133 dólares, e para o próximo ano, de 105 para 94 dólares.
“À medida que grandes produtoras crescem os volumes, a oferta doméstica chinesa precisará ser reduzida para abrir espaço”, disseram eles em um relatório no mês passado, projetando um fornecimento adicional de 50 milhões de toneladas em 2023 de grandes produtores, incluindo a brasileira Vale.
A produção diária da Vale aumentou o suficiente para cumprir sua projeção de volumes para 2022, disseram os analistas, após um desastre mortal em mina em 2019 forçou verificações de segurança e cortes de produção.
No entanto, a Vale cortou sua previsão de produção de minério para 2022, em parte por causa dos preços de mercado mais baixos, que prejudicaram os lucros do segundo trimestre e trouxeram um rebaixamento das ações para “desempenho de mercado” por parte de analistas do Itaú BBA.
As esperanças desvanecidas de que a China relaxe suas regras de zero Covid, juntamente com as habituais restrições à produção de aço durante os meses frios, tornam incertas as perspectivas de uma recuperação dos preços no final do ano.
“A crise energética da Europa e as restrições de inverno na China deixam pouco espaço para qualquer recuperação na produção de aço no quarto trimestre”, disseram estrategistas de commodities do ANZ em nota em 7 de outubro.
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