Apesar do CPI ter mostrado números mais elevados do que os outros indicadores brasileiros, ele veio caindo dentro do período citado. De outubro a dezembro, o CPI recuou de 7,75% a 6,45%.
Para André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP, o agravante dos resultados de inflação da economia americana foi o mercado de trabalho.
“Durante a pandemia, os indivíduos conseguiram acumular uma boa quantidade de poupança e parte da população economicamente ativa saiu permanentemente do mercado de trabalho. Isso fez com que a taxa de desocupação reduzisse drasticamente, gerando uma vacância de vagas em diversas áreas. Isso, somado à recuperação da demanda pós-pandemia, levou ao aumento nos salários, o que tende a pressionar a inflação pelo lado da demanda”, comenta.
Ele ainda acrescenta que outro fator da alta dos preços dos produtos e serviços no país norte-americano foi causada pela desordem da cadeia produtiva em meio à guerra da Rússia na Ucrânia.
Inflação no Brasil
02/09/2021
REUTERS/Ricardo Moraes
Meirelles, da InvestSmart XP, comenta que uma das principais justificativas para os índices brasileiros estarem nestes últimos três meses abaixo do indicador norte-americano é que o Brasil iniciou o ciclo de aumento de juros (considerado o principal remédio para inflação) em março de 2021, “bem adiantado em relação ao Fed, que iniciou o ciclo de aumento de juros apenas em 2022”.
Ele adiciona que as recentes desonerações de imposto sobre combustíveis e gás de cozinha ajudaram a reduzir a inflação brasileira.
Por outro lado, nos últimos quatro anos a inflação no Brasil registrou altas muito acima da inflação nos EUA.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, menciona que a inflação norte-americana é historicamente inferior à brasileira. “Não foi exclusividade somente desse período… A capacidade produtiva, a dinâmica da economia e por ser o emissor mais forte de moeda no planeta são elementos que contribuem para ter um nível de preço mais controlado”, diz.
O maior pico do IGP-M foi em maio de 2021, pouco mais de um ano após a pandemia da covid-19, com elevação de 37,04%. No mesmo período, o IPCA teve alta de 8,06%.
Essa diferença significativa entre os indicadores de inflação do país foi causada porque, segundo Meirelles, da InvestSmart XP, a maior parte do IGP-M tem exposição a produtos cotados em dólar. Portanto, “esse índice conseguiu capturar mais amplamente a variação do câmbio e do preço das commodities durante 2021, causando essa disparidade de variação quando comparado ao IPCA, que considera apenas o preço de produtos e serviços ao consumidor final”.
Na mesma linha, Mauro Rochilin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que a alta do IGP-M no período foi muito influenciada pela disparada do dólar no ano anterior e o desequilíbrio das cadeias produtivas.
A maior alta do IPCA nos últimos quatro anos foi em julho de 2022, em 11,89%.