O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (23) que a incumbência do governo não é adotar uma moeda única entre Brasil e Argentina. Ele afirmou que essa ideia está gerando “enorme confusão”, e mencionou que a ideia na verdade é “avançarmos em instrumentos previstos e que não funcionaram a contento”.
“Meu antecessor, Paulo Guedes, defendia a criação de uma moeda única. Não é disso que estamos falando”, disse Haddad, em discurso a empresários na Argentina.
“Não se trata da ideia do ministro Paulo Guedes de uma moeda única. Se trata e avançarmos em instrumentos previstos e que não funcionaram a contento. Nem o pagamento em moeda local e nem os CCRs (Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos) dão hoje uma garantia de que nós podemos avançar no comércio.”
As declarações vem em meio a expectativas de que as equipes econômicas de Brasil e Argentina trabalhem na criação de uma moeda comum que possa ser usada nos fluxos comerciais e financeiros. O objetivo seria reduzir custos operacionais e a dependência de moedas estrangeiras.A Argentina vive uma delicada situação de escassez de dólares em sua economia.
“Se dependesse se mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países, para não precisássemos ficar dependendo do dólar”, disse mais cedo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na Casa Rosada, sede do governo do país.
Haddad mencionou a queda no comércio entre Brasil e Argentina, a qual atribuiu a “uma situação não enfrentada”. Para ele, o que falta é “estabelecer um tipo de parceria, dada a conjuntura, que permita que a Argentina volte a comprar, que o Brasil volte a comprar”.
Segundo Haddad, a moeda comum ainda não tem nome e não há um prazo para entrar em vigor.
“Nós temos um problema de escassez de divisas (falta de dólar) na Argentina, hoje o fechamento da conta externa entre Brasil e a Argentina é de 30 dias, o que está acontecendo? Quem está dando crédito de médio prazo para a Argentina está levando o mercado que seria naturalmente de produtos manufaturados brasileiros. Você vai ver que o Brasil está perdendo importância no comercio exterior argentino e outros estão ganhando por conta dessa especificidade”, comentou Haddad.
Crédito para a Argentina
Ainda falando sobre a necessidade de medidas para elevar o comércio com o país vizinho, Haddad disse: “Queremos reestabelecer uma linha de crédito para a Argentina, mas nós precisamos estabelecer uma espécie de fundo garantidor que nos permita alongar os prazos de financiamento das nossas exportações.”
Banco do Brasil
Ao responder sobre o financiamento de exportações por carta de crédito pelo Banco do Brasil, Haddad mencionou, durante a coletiva de imprensa na Casa Rosada, que o banco estatal “não tomará risco de crédito nenhum”. A ação do banco, BBAS3, terminou o pregão desta segunda-feira (23) em queda de 0,75%.
“Nós vamos ter um fundo garantidor soberano que vai garantir as cartas de crédito emitidos pelo Banco do Brasil para os exportadores brasileiros. Estamos falando que nem o Banco Argentino, que estiver financiando o importador, nem o Banco do Brasil, quando tiver garantindo o exportador, estão envolvidos no risco, por isso estamos negociando com a Argentina um sistema de garantias deles com o Brasil“, disse o ministro.
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