Os preços do petróleo subiram com força nesta segunda-feira (3), chegando a registrar o maior aumento diário em quase um ano, depois do anúncio surpresa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) para cortar mais produção, o que sacudiu os mercados.
A previsão do mercado é de que essa redução na produção pode empurrar os preços do petróleo de volta ao patamar de US$ 100 o barril. Isso poderia apertar o mercado e as margens das refinarias, disseram analistas e operadores.
O Brent fechou em alta de US$ 5,04, ou 6,3%, a US$ 84,93 o barril, depois de atingir o maior nível desde 7 de março, a US$ 86,44. Já o petróleo dos EUA (WTI) fechou com ganhos de US$ 4,75, ou 6,3%, a US$ 80,42 o barril, depois de subir para uma máxima de dois meses durante a sessão.
Impacto no mercado financeiro
Por um lado, a alta do petróleo no exterior beneficia moedas sensíveis às commodities. O Brasil, como é exportador, tende a elevar seus ganhos com as vendas para o exterior. Assim, com mais entrada de dólares no país, a tendência é a cotação da moeda norte-americana recuar sobre o real.
Por outro lado, a alta do petróleo também renovava temores sobre a persistência da inflação nas principais economias, o que poderia eventualmente levar o Federal Reserve (Fed) a promover mais altas dos juros nos EUA – o que motiva uma tendência de alta do dólar, já que o mercado norte-americano se torna mais atraente para investidores.
Além do câmbio, a bolsa de valores também é impactada. “De um lado, empresas do setor petroleiro puxam ganhos nas bolsas, do outro, as apostas de elevações de juros nos EUA puxam demais setores para baixo”, disseram analistas da Guide Investimentos em relatório.
Ações de petroleiras
Na bolsa brasileira, as ações de petroleiras tiveram dia de forte alta nesta segunda, repercutindo os cortes da Opep+. A ação preferencial da Petrobras (PETR4) chegaram a subir mais de 4% mais cedo, enquanto os papéis de PRIO (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) dispararam mais de 6% na máxima do dia.
Veja abaixo a cotação de fechamento das ações:
Ativo | Variação | Cotação |
PETR3 | 4,76% | R$ 27,75 |
PETR4 | 4,43% | R$ 24,49 |
PRIO3 | 3,88% | R$ 32,40 |
RRRP3 | 1,56% | R$ 29,93 |
Os números do corte da Opep
A Opep+, incluindo a Rússia, anunciaram no domingo (2) cortes extras na produção de cerca de 1,16 milhão de barris por dia (bpd). Esperava-se que o grupo mantivesse sua decisão anterior de cortar a produção em 2 milhões de bpd até dezembro em sua reunião mensal nesta segunda-feira.
As promessas elevam o volume total de cortes da Opep+ para 3,66 milhões de bpd, segundo cálculos da agência Reuters, o equivalente a 3,7% da demanda global.
No domingo, o Ministério de Energia da Arábia Saudita (que faz parte da Opep+) anunciou o corte voluntário de 500 mil barris por dia de maio até o final de 2023. A ação se deu de forma coordenada com países membros da Opep e não membros da organização que participam da declaração de cooperação. As informações foram publicadas por meio de nota no site oficial do ministério.
Já a Rússia anunciou que irá estender até o fim do ano o corte de 500 mil barris por dia (bpd) em sua produção de petróleo.
Repercussão
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que a medida anunciada pelos produtores era desaconselhável e alguns analistas questionaram a justificativa da Opep+ para o corte extra na produção.
Vandana Hari, fundadora do provedor de análise de mercado de petróleo Vanda Insights, disse que “é difícil aceitar o raciocínio ‘preventivo’ e ‘cautelar’ – especialmente agora, quando a crise bancária diminuiu e o Brent voltou a subir para US$ 80 em relação a mínimas de 15 meses no início de março”.
Já o Goldman Sachs disse que as liberações de reservas estratégicas de petróleo (SPR) nos Estados Unidos e na França, devido a greves em andamento, bem como a recusa de Washington em reabastecer seu SPR no ano fiscal de 2023, podem ter motivado a ação da Opep+.
Um funcionário de uma refinaria sul-coreana disse que o corte era uma “má notícia” para os compradores de petróleo e que a Opep estava tentando “proteger seus lucros” contra as preocupações de uma desaceleração econômica global.
Isso porque as economias enfraquecidas deprimem a demanda e os preços dos combustíveis, espremendo os lucros das refinarias, disseram à Reuters o funcionário do refino sul-coreano e um operador chinês.
Ambos se recusaram a ser identificados, pois não estavam autorizados a falar com a mídia.
Em relatório divulgado na manhã desta segunda, a Levante Investimentos disse que “tudo isso contribui para mais tensão e disputa no mercado de petróleo, com consequências óbvias sobre os preços.”
“Apesar de ser primavera no Hemisfério Norte, quando a demanda por energia para aquecimento é menor, ainda assim a decisão deverá pressionar a inflação, dando mais ênfase ao aperto na política monetária pelos bancos centrais dos Estados Unidos, Zona do Euro e Grã-Bretanha.”
Rússia defende corte
O governo russo disse nesta segunda que é do interesse da indústria energética mundial apoiar os preços do petróleo e dos produtos petrolíferos.
Perguntado sobre as críticas dos EUA, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos repórteres: “Neste caso, é do interesse da energia mundial manter os preços mundiais do petróleo e dos produtos petrolíferos no nível adequado. É nisto que você precisa se concentrar. E se os outros países estão satisfeitos ou insatisfeitos – isso é assunto próprio deles”.
Perguntado se a Rússia tinha coordenado suas ações com a Opep+, ele disse: “A Rússia está em contato constante com vários Estados da Opep+, este é um processo normal, mas nada mais. Neste caso, os países têm uma linha independente, um interesse independente em estabilizar o mercado”.
Previsões para o petróleo: US$ 100 o barril
Como resultado dos anúncios, o Goldman Sachs reduziu sua previsão de produção para o final de 2023 para a Opep+ em 1,1 milhão de bpd, e elevou suas previsões de preço do Brent para US$ 95 e US$ 100 o barril para 2023 e 2024, respectivamente, disse em nota.
A Rystad Energy disse acreditar que os cortes aumentarão o aperto no mercado de petróleo e elevarão os preços acima de US$ 100 dólares pelo resto do ano, possivelmente levando o Brent a US$ 110.
O UBS também espera que o Brent chegue a US$ 100 até junho.
( * Com informações da Reuters)
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