André Esteves: arcabouço busca evitar que Brasil vá em direção à Argentina

O presidente e maior sócio do BTG Pactual, André Esteves, disse nesta quarta-feira (12) que gostou do novo arcabouço fiscal e elogiou o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às regras fiscais apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, a medida tem o objetivo de evitar que o Brasil ande “em direção à Argentina”.

“A boa notícia é que nós como sociedade brasileira temos amadurecido. A qualidade do debate hoje é muito mais relevante do que 20 anos atrás. O novo arcabouço é um pouco sintoma disso, teve uma transição de poder natural e saudável, e é natural que o governo queira impor suas marcas”, afirmou.

Esteves participou de um evento do BTG Pactual e deu sua visão geral sobre o ano de 2023.

“Eu gostei do arcabouço e acho que tem algumas sutilezas que são mais importantes ainda do que a medida em si. Primeira é um arcabouço que sugere que vamos para superávit moderado, em torno de 1% ao ano, meio por si só ele tem o objetivo de tirar o risco do Brasil andar em direção à Argentina. Acho que mais importante ainda, foi o apoio do presidente Lula ao novo arcabouço.”

De acordo com Esteves, o elogio que o presidente Lula fez ao ministro Fernando Haddad durante o evento do balanço de cem dias do governo foi responsável pela melhora do mercado brasileiro na terça-feira (11), fazendo o Ibovespa subir mais de 4% e o dólar fechar em R$ 5. Analistas do mercado, no entanto, atribuíram o movimento principalmente à divulgação de dados de inflação abaixo do esperado em março.

Esteves também disse que entende as críticas de economistas ao novo arcabouço fiscal, mas ressaltou que o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, está dizendo que as falhas do projeto estão sendo corrigidas.

“A gente ter a qualidade e humildade de ouvir faz muita diferença para o resultado final. Eu estou gostando muito de ver”, afirmou.

 O economista e professor Marcos Lisboa afirmou ao Investnews que o arcabouço é uma “armadilha” criada pelo próprio governo após rejeitar o modelo do teto de gastos. Ele também disse que o conjunto de regras fiscais é complexo e está muito mal explicado.

Já o presidente do BTG se mostrou esperançoso com a aprovação da Reforma Tributária pelo Congresso Nacional.

“Acho que o Brasil nunca teve um momento tão favorável de aprovar a Reforma Tributária. Eu acho que isso vai ser mais um motivo pra economia crescer de forma sustentável|, disse.

André Esteves, presidente do BTG

Esteves também comentou que há limitações da oferta de crédito no Brasil, principalmente no mercado de capitais, após o caso da Americanas (AMER3) vir à tona.

“O crédito não esta sendo restringido dentro do balanço dos bancos, o crédito está se expandindo, os bancos estão preparados pra isso, mas não estão preparados pra aquilo que se fazia no mercado de capitais.”

Relação Brasil x China

Questionado sobre a ida de Lula à China, Esteves disse é positiva a negociação do governo brasileiro para a reabertura econômica do país.

“Primeiro acho positivo que o Brasil vá em comitiva pra China, para a Europa e EUA. A gente ter um relação amigável com grandes potências. Isso é um grande trunfo, espero que a gente continue assim”

Sobre a China, ele disse que a segunda maior economia do mundo vive um momento positivo de curto prazo após a abertura pós covid. No entanto, ele tem incertezas sobre o futuro do país.

“A China vive momento mais positivo, porém eu tenho dúvidas a médio e longo prazo, eu acho que ainda tem um desafios no setor imobiliário. Lembrando que o setor imobiliário da China é o mais relevante dos países do G20. Segundo fato tivemos a eleição do Xi Jinping que tem um perfil mais centralizador. Acho que esses dois fatores podem trazer novos ingredientes para China ao longo dos 5 anos, fora o contexto geopolítico que é outro, uma tensão, podemos dizer que é uma nova versão de guerra fria.”