A medida provisória anunciada nesta quinta-feira (25) pelo governo e que pretende reduzir de 1,5% a 10,96% o preço final dos carros zero, por meio de corte de impostos, deve trazer inicialmente impactos negativos para as locadoras de veículos listadas em bolsa, segundo analistas do mercado.
Um dos motivos para a perspectiva é que, no curto prazo, a iniciativa pode reduzir o valor dos carros em estoque dessas companhias, “gerando um custo one-off de depreciação (relacionado à compra ou venda de um ativo)”, conforme explica Pedro Bruno, analista de transportes da XP.
Ele considera, porém, que esse é um efeito “não caixa” (quando não há saída efetiva de dinheiro) no primeiro momento. “E seu efeito caixa vemos como mais do que compensado pelo benefício de comprar mais barato adiante“.
Custo de aquisição menor
Nesse sentido, o analista avalia que as locadoras devem reduzir o custo de aquisição do seu principal ativo. “Isso permite tarifas também mais competitivas e com isso maior demanda pela locação dos carros”.
Mateus Haag, analista da Guide Investimentos, também acredita que o corte dos impostos pode ser ruim inicialmente. “Essas empresas compram suas frotas e vendem três anos depois. Elas vão pagar impostos elevados e depois, quando forem vender, vão competir com as montadores que tiveram o PIS/Cofins reduzidos, o que vai acabar reduzindo a margem de lucro dos carros“.
Já Eduardo Nishio, também da Guide, avaliou que as isenções para toda a cadeia produtiva pode impactar positivamente as empresas do segmento industrial, mas considerou a notícia mista para as locadoras.
“Com uma oferta maior de carros mais baratos no mercado, podemos ver maior dificuldade no giro do estoque atual de veículos das locadoras, pressionando ainda mais as margens brutas de seminovos no curto prazo”
Eduardo Nishio, da guide investimentos
Já para Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, a novidade pode ajudar a diminuir a depreciação dos carros seminovos, que cresceu durante a pandemia.
“Os preços dos carros novos subiram tanto que os dos semi-novos subiram até certo ponto e depois pararam de acompanhar, com isso a depreciação ficou maior. Essa notícia fecha um pouco a ‘boca de jacaré’ que abriu e a depreciação que é maior do que a registrada no nível pré-pandemia deve diminuir”, disse Serra, ao considerar a notícia levemente positiva para o setor.
Efeitos para a Localiza
Bruno Amorim, Joao Frizo e Guilherme Costa Martins, analistas do Goldman Sachs, avaliaram que uma parte notável da frota da Localiza (RENT3) pode ser impactada pelas notícias. A equipe frisou em relatório que o preço médio do carro adquirido pela companhia fica abaixo do teto de R$ 120 mil estabelecido pela medida (a média foi de R$ 90 mil no primeiro trimestre de 2023).
“Acreditamos que uma redução brusca nos preços dos carros novos pode levar a um prejuízo na frota da Localiza, refletindo a menor expectativa de valor de revenda desses veículos, criando assim algum vento contrário no curto prazo e pressionando ainda mais os resultados da empresa”.
Por outro lado, a equipe do banco de investimento apontou que os preços mais baixos de carros novos permitiriam que a Localiza crescesse com menor intensidade de capex (investimentos em bens de capital).
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Ações das locadoras foram impactadas?
Nesta quinta-feira (25), dia do anúncio, os papéis da Localiza (RENT3) subiram 2,01%, enquanto os da Movida (MOVI3) fecharam estáveis. De acordo com Pedro, da Ativa, não há nada específico que justifique a alta de um papel e a estabilidade do outro.
Haag, da Guide, reitera porém que os papéis da Movida subiram bastante recentemente – acumulam alta de 26,25% no mês, enquanto a Localiza sobe 10,22%. “Portanto, é esperada uma correção de preços da Movida”, diz.
Redução de impostos
As medidas anunciadas nesta quinta-feira valem somente para carros zero com preço de até R$ 120 mil. O desconto de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e PIS/Cofins irá variar de acordo com três critérios:
- carros mais baratos terão desconto maior
- modelos menos poluentes terão desconto maior
- será privilegiada a produção nacional (ou seja, componentes fabricados no Brasil), levando em conta a densidade industrial
Antes de editar a MP, será necessário um parecer do Ministério da Fazenda sobre o impacto fiscal, o que deve levar cerca de 15 dias.
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