O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o atual, Joe Biden, aparecem tecnicamente empatados na corrida eleitoral para a Casa Branca em pesquisa da AtlasIntel divulgada recentemente. O pré-candidato republicano registrou 43,9% das intenções de voto, contra 42,3% do democrata. Nesta seara, a menor rejeição pode ser um fator decisivo. Enquanto um segundo mandato de Trump teria impacto positivo nos mercados, a baixa popularidade de seu oponente é atribuída a preocupações econômicas.
Com a desvantagem de Biden, os democratas consideram candidatos alternativos para disputar a Casa Branca. E o nome de Michele Obama aparece com força. Aliás, ela seria a única pessoa a vencer, segundo a pesquisa da Atlas, que marcou 41,6% das intenções de voto para Michele contra 39% de Trump.
Mas a questão é que a mulher do ex-presidente Barack Obama nunca se posicionou de forma pública sobre uma possível carreira política.
Os editoriais das grandes mídias americanas, como o The New York Times, vêm publicando sobre Biden estar pouco a pouco dando sinais de declínio cognitivo, sendo este um possível obstáculo à sua reeleição.
Um relatório do procurador especial Robert Hur aponta que o presidente não estaria se recordando de fatos básicos da sua vida, e que lapsos de memória já se tornaram públicos. A questão é que, até que se prove, isso não seria motivo suficiente para fazê-lo se retirar da corrida de 2024.
Trump também não pode ser descartado do jogo, uma vez que muito vem sendo noticiado sobre a possível inelegibilidade do candidato frente à acusação de que ele teria participado de uma insurreição contra os Estados Unidos no ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021.
Segundo Maurício José Moura, doutor em economia e estrategista político, Trump, se eleito, pode se auto perdoar pelos crimes federais (o que não acontece com os estaduais).
“Não existe uma ficha limpa nos EUA, como no Brasil. Em teoria, você pode até ser candidato e tomar posse condenado de dentro da cadeia. Juridicamente, é possível ganhar, tomar posse, trabalhar em prisão domiciliar da Casa Branca. As situações legais são infinitas”.
Maurício José Moura, doutor em economia e estrategista político
A questão agora é sobre qual será a reação dos eleitores em relação a potenciais condenações de Trump a uma série de julgamentos pré-agendados nesse período.
“As pesquisas mostram que os independentes têm muita dificuldade em votar nele se for condenado. E é muito difícil você ganhar a eleição sem conquistar votos independentes, já que uma base democrata ou republicana, sozinhas, não sustentam as eleições”, aponta.
Até então, as possibilidades parecem recair mais sobre uma vitória republicana. Sobre isso e os impactos nos mercados, a Kinea pontua que Trump dobraria sua aposta nas políticas iniciadas no primeiro mandato e suspensas durante o governo Biden.
O impacto nos mercados
Um segundo governo Trump seria positivo para ativos de risco dentro dos Estados Unidos, com efeitos mais dúbios no exterior. A visão da Kinea é guiada principalmente pelo efeito que os possíveis cortes de impostos corporativos devem ter sobre o S&P500, de forma semelhante ao observado durante seu primeiro mandato.
“Talvez seja dentro dos setores do S&P500 que os efeitos sejam mais sentidos. As políticas de Donald Trump tendem a influenciar, principalmente, os setores que mais se beneficiam de cortes de impostos, relaxamento de regulação e gastos com defesa”.
Entre esses setores, o financeiro seria novamente um dos que provavelmente mais se beneficiaria desse processo, de forma similar ao observado no primeiro mandato. Reduções de impostos e relaxamento regulatório, combinados a um ambiente de cortes de juros pelo Fed e curva de juros mais inclinada, podem ser um importante propulsor para o setor.
Como principal parte de sua agenda, Trump deve promover a extensão do corte de impostos que ele aprovou durante seu primeiro mandato, uma vez que boa parte deles expira até 2026. Existe ainda uma discussão de que essa proposta possa vir juntamente com outro corte do Imposto de Renda corporativo, dos atuais 21% para 15%, com prováveis efeitos positivos para os ativos de risco.
Para a Kinea, o risco da medida é se ela não estiver amparada por uma contrapartida, fazendo deteriorar o déficit fiscal, o que impacta na curva de juros. “Um corte de impostos sozinho seria improvável. Mas sempre há riscos”, aponta o economista da Kinea, André Diniz.
O grande choque, no entanto, viria com uma outra medida de impostos. Mais importante para os ativos de risco, Trump já anuncia abertamente em seus discursos que pretende aumentar tarifas de importação, como continuação de sua política de guerra comercial (“Make America great again”), trazendo a indústria de volta para o território norte-americano.
“Se de fato isso for implementado, essa medida protecionista vai triplicar as tarifas médias dos EUA com todos os parceiros, com a Europa sofrendo mais, mesmo ela sendo uma boa parceira comercial”, observa Diniz.
Em contrapartida, o meio corporativo americano ficaria fortalecido, repercutindo positivamente nos balanços das companhias e tornando-as mais competitivas, o que atrairia dinheiro para a bolsa e seria positivo para o dólar.
O grande ponto é que, dentro dessa política tarifária, Trump intensificaria sua guerra comercial com a China, buscando eliminar a dependência de importações em áreas críticas e substituir gradualmente a dependência de bens essenciais, além de cancelar contratos federais com empresas chinesas. “E se colocadas maiores tarifas de importação, protege-se a indústria local e com uma economia forte, ganha-se mais market share’“
Logo, o setor industrial norte-americano, principalmente a parte de automação, deve ser um dos principais beneficiados.
Um outro setor que não passaria despercebido em um segundo mandato de Trump é o de biotecnologia, segundo a Kinea. “O setor negocia hoje bastante descontado em relação a seu histórico, e tende a se beneficiar de governos republicanos, em virtude do constante desejo de governos democratas em regular a compra de medicamentos por parte do governo”.
O setor de defesa, por sua vez, também é apontado como um bom catalisador de ganhos em caso de vitória republicana, uma vez que historicamente ele tende a negociar a múltiplos mais elevados pela maior propensão a gastos militares pelo partido.
Já analisando exportadoras brasileiras listadas na B3 (que têm peso relevante no Ibovespa), o impacto de uma vitória “trumpista” tende a ser menos direto uma vez que o foco das tarifas comerciais do candidato é na parte industrial de bens finais, “o que o Brasil compete menos”, na visão do economista da gestora. “Pode recair sobre aço, como no primeiro mandato, mas é mais marginal, já que os EUA não é um grande consumidor de commodities brasileiras”.
“É mais importante olharmos o que está acontecendo na China do que para a eleição dos EUA. O impacto tende a ser mais em ativos financeiros do que via empresas brasileiras exportadoras”.
andré diniz, economista da kinea
A baixa popularidade de Biden
Segundo Maurício Moura, um dos problemas da baixa popularidade de Biden é a economia americana, com inflação se arrastando em seu governo, juros mais altos, “pontos que os americanos não lidam bem”. Isso porque o preço dos financiamentos imobiliários são diretamente impactados, sendo os principais gastos dos americanos. Também há reclamações em relação ao preço dos alimentos e do combustível.
“A grande pergunta é como vai estar a economia em novembro. Vamos ter recessão, como alguns economistas dizem? Ou vamos ver um soft landing (que é quando se passa por um período de juros altos sem problema de crescimento econômico)”?
Moura, que também fundou o Idea – Instituto de pesquisas eleitorais, diz que essa é uma eleição dos dois candidatos mais impopulares da história dos Estados Unidos, sendo decidida por quem tem a menor rejeição, na figura do Trump ou de Biden.
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