A retomada dos supermercados e atacarejo já começou. O setor surpreendeu no quarto trimestre de 2023: Carrefour Brasil (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) finalmente conseguiram deixar para trás os impactos causados pela pandemia e agora se preparam para um novo cenário, de melhora na renda e juros mais baixos.
Vale lembrar que, inicialmente, o salto da inflação de alimentos ainda durante o período de contágio do coronavírus combinado com a guerra na Ucrânia impulsionou a receita das empresas do setor. Depois, o aumento no endividamento das famílias comprometeu a renda da população, limitando o consumo de itens da cesta básica.
Esse efeito foi visto em todo o setor alimentar. Tanto que Carrefour e Assaí iniciaram 2023 no vermelho. Enquanto a operação nacional da rede francesa teve o primeiro resultado negativo desde 2016 entre janeiro e março do ano passado, o atacarejo foi impactado pela taxa Selic mais elevada no período – o ciclo de queda teve início apenas em agosto.
Boa safra
Porém, a temporada ao final do ano passado indica um período diferente à frente. Apesar da queda de quase 30% no lucro líquido do Assaí no quatro trimestre de 2023 e do novo prejuízo do Carrefour Brasil, amargando perdas de R$ 565 milhões entre outubro e dezembro, a colheita dos próximos resultados tende a ser mais favorável.
Em especial, para o GPA. “Sem sombra de dúvidas, a companhia consolidou o resultado mais forte do setor no quarto trimestre de 2023”, afirma o time de analistas de varejo da Genial Investimentos. Além da evolução em todas as linhas do balanço, o prejuízo de R$ 303 milhões ficou cerca de 50% abaixo do esperado.
“O GPA deixou para trás a história do ‘patinho feio’ e assumiu a posição de cisnes negro, ganhando destaque em meio a tantos outros ‘cisnes brancos’”
Iago Souza, Ninia Mirazon e Vinícius Esteves, da Genial Investimentos, em relatório
De modo geral, houve um crescimento do top line nos balanços de duas das três principais empresas do setor, avalia o analista Lucas Rietjens, da Guide Investimentos. A exceção ficou com o Carrefour. Para ele, apesar dos números ainda fracos do trio, houve melhora das margens e recuperação da rentabilidade, mesmo com a deflação alimentar.
Cenário positivo
No entanto, a expectativa é de geração de caixa saudável em 2024. Esse cenário pode ser desenhado a partir dos dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), da ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), juntamente com os balanços financeiros das três maiores empresas varejistas do segmento.
Conforme análises do economista André Perfeito, o nível recorde da massa salarial real, de R$ 301,6 bilhões, combinado com a queda na taxa de desocupação (Pnad) para 7,1%, mostra que “a quantidade de dinheiro na mesa” da economia está em um bom patamar. Isso se traduz em menos produtos nas prateleiras dos supermercados, porém sem acúmulo inflacionário.
“Se de um lado a massa salarial real bateu recorde isso acontece porque há mais pessoas trabalhando; de outro, o rendimento médio real ficou estável, o que sugere que as pressões salariais estão sob controle”
André Perfeito, economista
O economista lembra que o Copom olha com atenção para a dinâmica do mercado de trabalho e seus desdobramentos na inflação de serviços. “Não vejo os preços dos serviços ‘saindo do lugar’, mas uma piora nessa dinâmica pode acender o sinal amarelo na Faria Lima”, afirmou Perfeito, em comentário recente.
Porém, nada disso deve alterar o plano de voo do Banco Central, de seguir cortando a taxa básica de juros nas próximas reuniões, derrubando a Selic para apenas um dígito. No entanto, Perfeito alerta que o mercado pode ajustar o nível terminal do juro básico brasileiro para cima, caso o Federal Reserve não corte tanto os juros dos Estados Unidos em 2024.
Ainda assim, a combinação de condições macroeconômicas melhores somada à continuidade do processo de maturação do projeto de expansão devem favorecer o setor. “No futuro, haverá melhora nas tendências descendentes, com recuperação da inflação alimentar e um ambiente competitivo menos agressivo”, conclui o Itaú BBA, em relatório.
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