“IPCA+6% é o mais próximo que o ser humano já chegou do céu”, escreveu uma vez o Faria Lima Elevator.
Se é por aí (e, vamos convir que talvez seja mesmo), quem investe em Tesouro Direto mirando longo prazo volta a ter diante de si uma escada para o paraíso.
Na terça (19), os títulos IPCA+ com vencimento em 2035, os mais populares dessa categoria, chegaram à maior taxa no ano: 5,77%. O 2045, idem, a 5,89%.
O IPCA+, para quem está menos familiarizado, paga a inflação mais um cascalho de juros acumulados até o vencimento. E nas fases de calmaria econômica esse juro real é só um cascalho mesmo.
Exemplo: em novembro de 2019, com a Selic a módicos 5% e a inflação a 3,27%, o juro real do IPCA+2035 estava na casa dos 2,9%. Natural. O juro real da Selic era de menos de 2%, sem grandes perspectivas de mudança (alô, mundo pré-pandemia). Logo, o prêmio do IPCA+ não tinha como ficar muito acima disso.
Hoje a realidade é outra, você sabe. Com o juro real a mais de 6% (e a bola de cristal do Relatório Focus apontando para ainda grossos 5,20% ao final do ano), o IPCA+ fica pressionado para cima. O que nos traz aos atuais 5,77%. Agora, vamos ao que isso significa para quem investe.
IPCA+5,77% versus IPCA+4,50%
Colocar dinheiro em IPCA+ significa comprar títulos públicos por um valor e recebê-lo de volta corrigido pela inflação + os juros “combinados”, aqueles do dia em que você comprou, certo? Então.
Na tarde de 19 de março, um IPCA+2035 “cheio” (um título inteiro) custava R$ 2.281. Compre um a juros reais de 5,77% e resgate, lá em 2035, R$ 4.248 em dinheiro de hoje (para os mais íntimos, esse era o “valor nominal atualizado” do título naquele momento).
Note o “em dinheiro de hoje”. O valor numérico será bem maior, pois vai vir corrigido pela inflação, não só pelos juros. Mas isso não interessa. Mesmo que você resgate R$ 10 mil em 2035, essa grana terá o mesmo poder de compra que R$ 4.248 têm hoje. Para fazer as contas, você precisa usar o valor real. Ponto.
E no fim das contas isso vai significar um ganho real de 86,2% em 11 anos.
Agora imagine se a taxa estivesse não em 5,77%, mas em 4,50%, como estava de fato em agosto de 2021. O preço de cada título hoje não seria de R$ 2.281, mas de R$ 2.609. Seu lucro além da inflação, dessa forma ficaria em 62,8%.
Com a taxa em 2,90%, aquela lá de novembro de 2019, o preço seria de R$ 3.094. Ganho real de modestos 37,3% lá na frente.
Não é o inferno, já que qualquer coisa acima da inflação protege o seu dinheiro. Mas, certamente, está longe do céu.
Veja também
- Promessas de Trump devem levar Fed a fazer cortes de juros mais brandos
- Títulos IPCA+ passam pelo maior rally de valorização no ano
- O jogo dos sete erros do investidor brasileiro
- Treasury de 10 anos termina 2023 com leve alta ante 2022
- Informação ESG nos balanços aumenta a emissão de títulos sustentáveis?