“Calado, ele é um poeta”, já disse Romário sobre o então comentarista Pelé. Quem investe em Tesouro Direto pode fazer a mesma provocação ao presidente da República.
A pausa nas falas de Lula contra a política do BC baixou as perspectivas de caos. A face mais visível dessa amainada no clima materializou-se no dólar: queda de 4,41% em uma semana, de R$ 5,66 para R$ 5,41. E no Ibovespa também: alta de 2,06% no mesmo período.
Menos badalada, só que bem mais importante para os adeptos do Tesouro Direto, foi outra consequência: o alívio nos títulos de inflação, aqueles que rendem o IPCA mais um juro extra – e que servem como uma boa poupança de longo prazo, ao menos para quem possa segurar até o vencimento.
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O IPCA+2035, que serve de referência por não ser nem tão curto nem tão longo, subiu 3,56% entre os dias 2 e 10 de julho. Quem tinha um saldo de R$ 100 mil lá atrás, está com R$ 103.560 agora. Alta de renda variável num título de renda fixa.
No IPCA+2045, que oscila com mais força, pois só vence daqui a 21 anos, o ganho foi maior: 4,33%.
O preço dos títulos determina o saldo de quem investe neles, lógico. Quando os juros deles caem, esse preço aumenta (uma coisa determina a outra). O juro real que o 2035 paga caiu de agudos 6,58% (no dia 2 de julho, a maior desde 2016) para 6,25% (fechamento de quarta, 10 de julho).
O do 2045, de 6,53% para 6,32% – como são juros que trabalham por 21 anos, uma queda mais branda que a do 2035 significa uma alta violenta no preço – daí a volatilidade maior dos títulos mais longos.
Na tarde de quinta (11), o rally seguia firme, impulsionado pela baixa na inflação americana – o CPI (“IPCA” deles) cravou -0,1% em junho, abaixo das expectativas, que apontavam para +0,1%. Com isso, o acumulado nos últimos 12 meses caiu de 3,3% para 3,0%.
Inflação menor por lá melhora a perspectiva para a início da queda dos juros americanos. Isso tira pressão dos juros brasileiros também. A taxa do IPCA+2035, então, foi a 6,17% após a divulgação do CPI. A do 2045, a 6,27%.
E isso extende o rali. Desde 2 de julho, as valorizações são as seguintes:
IPCA+2035: 4,44%
IPCA+2045: 5,44%
IPCA+6%? Só em 26% dos pregões
Quem acompanha o mercado de títulos públicos, de qualquer forma, sabe que mesmo assim os títulos seguem baratos – ou seja, pagando juros historicamente altos.
Sim. Contando todos os títulos IPCA+ (curtos, longos, longuíssimos) que estiveram no Tesouro Direto nos últimos 20 anos, eles só pagaram 6% ou mais em 37% dos dias de negociação. Ou seja: as oportunidades para “travar” juros dessa monta são relativamente raras.
No caso do IPCA+2035, que estreou em 2010 (com os juros da economia em patamares mais terráqueos), isso é mais raro ainda. Dos 3.576 dias em que o título foi negociado, só em 923 ele esteve em 6% ou mais. Apenas 26% das ocasiões. Veja aqui embaixo.
E se você estiver com a bazuca de dinheiro esperando por um patamar maior do que o dos 6%, torça para Lula voltar ao ataque.
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