Uma montadora totalmente nacional e ainda por cima de veículos híbridos flex é o projeto lançado pelo empresário capixaba Flávio Figueiredo de Assis. Se avançar com o plano, a companhia vai se tornar a primeira fabricante de veículos brasileira desde as iniciativas da Gurgel, que funcionou de 1969 a 1987, e da Troller, especializada em jipes, entre 1995 e 2007, quando foi adquirida pela Ford .
O projeto da Lecar, nome da nova marca, prevê o início de produção para 2026. Segundo Assis, a futura montadora brasileira tem um investimento inicial projetado de R$ 870 milhões. O empresário exibiu o primeiro protótipo na noite de quinta-feira.
A montadora vai disputar um mercado tradicionalmente dominado por marcas globais, como Stellantis, Volkswagen, General Motors, Toyota e Hyundai. Mesmo com um público consumidor local tido como amante de carros, o setor no Brasil nunca conseguiu ter uma marca nacional que se perpetuasse.
Assis tem investido do próprio bolso no projeto de produção de seu carro, o Lecar 459, que começou como um elétrico puro, mas foi recentemente revisto para uma plataforma de propulsão híbrida.
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Oriundo do mercado de meios de pagamentos e sem atuação no setor automotivo, o empresário vendeu sua empresa de cartões alimentação Le Card em 2022 e desde então tem reunido apoio para o projeto. A catástrofe climática do Rio Grande do Sul virou um obstáculo ao desenvolvimento do carro, que acabou sendo transferido de Caxias do Sul (RS) para a região do ABC, em São Paulo, em junho.
“O Brasil faz avião e não faz carro?”, comentou o empresário, durante a apresentação do novo desenho do carro na quinta-feira e se referindo à Embraer. “Se o Ozires Silva conseguiu fazer avião eu consigo fazer carro porque também sou brasileiro”, acrescentou, citando o co-fundador da fabricante brasileira de aeronaves.
Busca de investidores e isenção de ICMS
A apresentação contou com participação de autoridades do Espírito Santo, incluindo o prefeito da cidade de Sooretama, Alessandro Torezani, que receberá a fábrica da Lecar. O município fica a cerca de 100 quilômetros da capital do Estado, Vitória.
O Espírito Santo, que não possui uma montadora de automóveis, diferente dos vizinhos de região Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, concedeu isenção de ICMS para a Lecar pelo prazo de 10 anos, disse Rodrigo Rumi, vice-presidente de marketing e vendas e oriundo de montadoras instaladas no país como GM, Toyota e Caoa Chery.
Segundo Rumi, desde o início do projeto, a Lecar acumula cerca de 300 “contatos” de interessados no projeto, “entre possíveis clientes, fornecedores e concessionários”. A companhia relançou seu site na quinta-feira para marcar a exibição do novo desenho do carro: um coupê de linhas retas e design que segue tendências do mercado nacional, como faróis estreitos e traseira elevada.
Assis afirmou que o preço do carro será de R$ 150 mil e ele terá autonomia para cerca de 1.000 quilômetros graças à combinação de propulsor elétrico, que traciona as rodas, com um motor à combustão flex que alimenta um gerador. Este gerador, por sua vez, abastece a bateria que fornece a energia que faz o motor elétrico movimentar o carro.
O projeto é diferente de um modelo híbrido tradicional em que o motor a combustão também traciona o veículo além de recarregar a bateria do propulsor elétrico.
Motor elétrico chinês
O empresário diz que o Lecar 459 terá um índice de nacionalização de 83%, elevado para um projeto iniciante e em um mercado em que novos entrantes costumam recorrer a grandes importações de componentes antes de avançarem com produção local.
O motor elétrico do carro, de 163 cavalos, será fornecido pela chinesa Hepu Power e a bateria de ferro lítio de 18,4 kWh será da também chinesa Winston. O gerador é da brasileira Weg e o motor à combustão da Horse, uma joint-venture da Renault com a chinesa Geely.
Além dos fornecedores do carro, a Lecar tem como um dos principais parceiros do projeto a unidade brasileira da italiana Comau, especializada em montagem de sistemas de automação industrial.
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O projeto da fábrica, disse um orgulhoso Assis em uma apresentação em que a família do empresário também estava presente, incluindo sua filha de pouco mais de 1 ano, será construído em um terreno de 460 mil metros quadrados, às margens da BR-101, e prevê uma linha de montagem instalada em uma reta de 650 metros.
A capacidade será de até 120 mil carros por ano e os veículos montados serão armazenados em um pátio instalado diante da entrada da fábrica. “Uma vitrine nossa”, disse Assis.
Dos R$ 870 milhões orçados em investimentos até o início da produção em 2026, R$ 630 milhões serão dedicados à linha de montagem, disse Assis, que não revelou quanto do total dos recursos sairão do próprio bolso ou quanto já injetou na empreitada.
Além dos recursos do empresário, a Lecar afirma que “analisa, ainda, a busca de financiamentos junto à Sudene, BNB, Bandes, Finep e BNDES”. Atração de investidores estrangeiros também não está descartada, disse Assis.
A próxima meta, afirmou o empresário, é apresentar um novo protótipo, agora com as novas linhas do carro híbrido apresentadas na quinta-feira, até fevereiro de 2025.
“Se não acompanharmos os chineses, vamos ser atropelados”, disse o empresário, se referindo à forte entrada de montadoras da China no mercado brasileiro.
(Por Alberto Alerigi Jr.)
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